A era dos paradoxos mostra sua cara
Ser sustentável
Talvez por coincidência, ou por decisão editorial, fato é que duas notícias ocuparam o espaço nobre no alto do portal G1 hoje. E são o retrato mais fiel do mundo dos paradoxos que estamos vivendo.
Em cima, a morte trágica do chinês Kongjian Yu, um dos arquitetos mais famosos do mundo, que pensou as “cidades esponja”, um conceito absolutamente revolucionário. Nada muito sofisticado, apenas o aproveitamento da própria natureza para diminuir os impactos causados pelos eventos extremos em centros urbanos. Ele criou 70 cidades assim em todo o mundo. Se mais tempo tivesse de vida, mais seria capaz de fazer.
Logo abaixo da notícia de morte tão precoce e infeliz, uma reportagem mostrava o planejamento de construção de mais cinco data centers nos Estados Unidos. Investimento de 500 bilhões de dólares para acelerar o ChatGPT que, sim, se por um lado tem um peso grande em inovações capazes de ajudar a Medicina, por outro amplia muito as emissões de GEE na atmosfera e, consequentemente, ajudará a intensificar os eventos extremos. Noves fora: estão ganhando dinheiro demais e, como é de praxe, vão querer acelerar ao infinito esses data centers, a despeito de a ciência já ter demonstrado que eles são poluentes.
Na mesma home, pouco mais abaixo, a notícia do relatório do Instituto Potsdam para Pesquisa sobre o Impacto Climático (PIK) dá conta de que a Terra já rompeu com sete dos seus nove limites planetários. Trocando em miúdos: mais um estudo científico demonstrando aquilo que o presidente Trump, em seu discurso monocórdico na ONU ontem, fez questão de dizer que é mentira: o aquecimento global vai causar ainda mais eventos extremos, que acontecerão com mais intensidade.
E já que estou falando o tempo todo sobre paradoxos, vale a pena fechar este mini texto com boa notícia. O presidente Lula, que está orgulhando o país com suas manifestações nos Estados Unidos – belíssimo discurso na ONU – , ontem mesmo anunciou um aporte de 1 bilhão de dólares para o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF na sigla em inglês). Já o nome do fundo achei simpático. A ideia, então, melhor ainda: ajudar países que têm florestas tropicais a mantê-las.
O presidente Lula, que está com uma verve particularmente iluminada nesses dias, resumiu assim o propósito do Fundo, segundo a Agência Brasil:
“É um mecanismo para preservar a própria vida na Terra. As florestas tropicais prestam serviços ecossistêmicos essenciais para regulação do clima. Abrigam as maiores reservas de água doce do mundo, protegem o solo, armazenam oxigênio e absorvem gás carbônico”.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

