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J. Carlos de Assis

Economista, doutor em Engenharia de Produção pela UFRJ, professor de Economia Internacional na Universidade Estadual da Paraíba e autor de mais de 20 livros sobre economia política.

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A erosão do dólar e a moeda do BRICS

A emergência de uma moeda hegemônica no lugar do dólar não será um processo rápido

Funcionário de banco conta renminbi da China (RMB) ou notas de yuan ao lado de notas de dólar americano em um Kasikornbank em Bangkok, Tailândia - 26.01.2023 (Foto: REUTERS/Athit Perawongmetha)
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Dizia Marx que o novo não se afirma na História sem que não esteja pronto para se impor sozinho, e o velho não esteja ao ponto de cair por si mesmo. Isso se aplica totalmente à questão da substituição do dólar nas relações econômicas mundiais pela moeda do BRICS. Nem esta última conseguiria, a curto prazo, cumprir todas as funções de uma moeda internacional, nem o dólar pode ser dispensado, por enquanto, de todas elas, sem um longo período de transição.

Entretanto, esse processo de transição iniciou-se inexoravelmente. Mesmo que seu desfecho ainda possa estar longe, o Novo Banco de Desenvolvimento do BRICS já pode cumprir funções financeiras antes exclusivas das instituições de Washington que manipulam o dólar, como FMI e Banco Mundial. O caminho para isso é o crédito internacional em condições menos abusivas do que as condicionalidades tradicionais impostas aos países pobres pelos Estados Unidos desde a Segunda Guerra. 

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Uma moeda BRICS facilitaria a transição, mas não é indispensável. O NBD, apoiado por economias nacionais com forte capacidade de gerar superávits comerciais em dólar, tem a seu dispor suficientes fundos nessa moeda para garantir empréstimos a sua clientela em condições melhores que as do FMI e do Banco Mundial. Isso é mais importante e menos trabalhoso do que criar uma nova moeda. Mesmo que, não funcionando como um Banco Central, não emita moeda diretamente. 

Durante o processo de transição, o dólar perderá suas funções gradualmente. A primeira delas, a meu ver, é a de reserva de valor. A moeda emitida, ilimitadamente, sem contrapartida de produção, pelo governo norte-americano, já não é confiável para ser guardada. A inflação vai erodi-la aos poucos. No momento, se eu tivesse muito dinheiro, procuraria a proteção do Yuan. A China, com força econômica medida por sua produção e pelo superávit comercial, tem a moeda mais confiável do mundo. 

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O euro ocupou depois de sua criação um papel de reserva de valor junto com o dólar. Acontece que a Europa perdeu competitividade e tem uma economia em crise, afetada pela inflação e agravada pela guerra na Ucrânia. Tornou-se dependente dos EUA na questão fundamental da energia. No plano geopolítico, não passa de uma força auxiliar do poder hegemônico norte-americano dentro da estrutura da OTAN. Com isso, o euro tornou-se uma moeda ainda menos confiável que o dólar. 

As demais economias ocidentais não têm moedas que possam assumir, em larga escala, a função de reserva de valor. Em sua zona, o euro permanecerá, internamente, com a função de medida de preços, com limitada função no comércio mundial e na denominação dos contratos, enquanto o dólar manterá a posição hegemônica até que a perda da função de reserva de valor imponha uma moeda alternativa com as três funções fundamentais, simultaneamente, nas três áreas.

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A emergência de uma moeda hegemônica no lugar do dólar não será um processo rápido. Em artigo anterior, a propósito da moeda do BRICS, lembrei que a transição da libra para o dólar como moeda hegemônica custou duas guerras mundiais, a virtual destruição da Europa e a emergência dos EUA como a principal economia do mundo. Se a moeda do BRICS vier a ser uma versão ampliada do Yuan, terá de ser antecedida por um processo demorado de mudança de hegemonia. 

O dólar está enfraquecido por causa de sua emissão sem limites pelos EUA, mas esse país ainda constitui a principal economia do planeta. Portanto, sua moeda não vai cair por si só, tendo em vista seu potencial econômico, tecnológico e militar ainda considerável. Além disso, é preciso que outra moeda se levante como uma alternativa viável, equipada com todas as funções monetárias. Não se sabe se a China quer fazer do Yuan uma moeda internacional, no âmbito dos BRICS, com todas essas funções.

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A única coisa que se pode especular com segurança é que um dia a transição acontecerá. Mesmo porque a perda da hegemonia política e econômica norte-americana já pode ser visualizada, diante da emergência da China como principal liderança dos BRICS. Nesse novo contexto, o Yuan, como núcleo de uma moeda de reserva de valor, de transações internacionais e de denominação de contratos, se afirmará como uma imposição da realidade mundial por si mesmo. 

Contudo, os especialistas que estão debatendo alternativas em Johanesburgo não têm como objetivo criar imediatamente uma moeda plena. Basta, para começar, uma moeda comercial. Isso é completamente viável, desde já. Com a vantagem de atender aos interesses dos integrantes atuais e futuros do BRICS, sem despertar a fúria dos EUA e de seus aliados ocidentais, tendo em vista os interesses cruzados com o bloco e o risco do recurso ao arsenal de medidas coercitivas para intimidá-lo.   

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