A escória no poder

A escória da política tomou o poder.

   A escória da política tomou o poder com a inestimável colaboração, apoio e aplauso da escória dos deputados federais.

   Da escória dos senadores.

   Da escória da imprensa.

   Da escória dos jornalistas.

   Da escória dos formadores de opinião.

   Da escória da sociedade.

   Da escória da Avenida Paulista.

   Da escória dos industriais.

   Da escória dos latifundiários.

   Da escória dos comerciantes.

   Da escória dos advogados.

   Da escória dos juristas.

   Da escória do STF.

   Da escória dos artistas.

   Da escória dos “amigos do facebook”.

   Da escória dos poetas.

   Da escória dos historiadores.

   Da escória dos economistas.

   Da escória dos professores.

   Da escória dos taxistas.

   Da escória dos executivos.

   Da escória da direita.

   Da escória da esquerda.

   Da escória dos publicitários.

   Da escória dos cartunistas.

   A escória foi com muita sede ao pote.

   A escória não respeitou prazos.

   A escória não esperou sua vez e sua hora.

   A escória destruiu ministérios.

   A escória demoliu programas.

   A escória demitiu garçons.

   A escória rasgou contratos.

   A escória rasgou leis.

   A escória instituiu a incerteza.

   A escória mostrou suas garras.

   A escória mutilou esperanças.

   A escória acenou com o atraso.  

   Mas a escória nunca se satisfaz com o poder que tem.

   A escória não se entende.

   A escória não se suporta.

   A escória sucumbe à luta fratricida permanente.

   A escória disputa quem dentre seus elementos é o mais corrupto, quem é o mais vil, quem é o mais reles, quem é o mais abjeto, que é o mais irrelevante, quem é o mais desprezível, quem é o mais indigno, quem é o mais vulgar.

   A escória se grampeia, se acusa, se entrega, se esfacela, expõe suas vísceras em praça pública.

   E, por fim, a escória implode.

   Assim acabam todas as escórias.