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Daniel Quoist

Daniel Quoist, 55, é mestre em jornalismo e ativista dos direitos humanos

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A esfinge de 2014

Desde o meio dia da última quarta, 13, a política brasileira foi como que virada pelo avesso. Nenhuma certeza consegue ficar de pé

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A morte de Eduardo Campos no último dia 13, vítima de acidente aéreo em Santos (SP), traz de volta questão aérea recorrente neste pleito presidencial deste 2014. No campo do simbólico a candidatura de Aécio Neves foi severamente avariada no campo de pouso do município mineiro de Cláudio. No campo da realidade concreta. Com o desaparecimento de Eduardo Campos teve fim uma das mais promissoras lideranças políticas das últimas duas décadas, a do ex-governador pernambucano super bem avaliado como gestor e articulador na política nacional, presidente inconteste do Partido Socialista Brasileiro (PSB) e representante do que seria a mais competente construção política para uma alternativa de poder ao binômio PT/PSDB.

Desde o meio dia da última quarta, 13, a política brasileira foi como que virada pelo avesso. Nenhuma certeza consegue ficar de pé. O campo da incerteza percorre qualquer possível cenário de como será o desfecho dessa campanha presidencial ao abrir das urnas na noite do dia 5 de outubro.

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Para desvendar o enigma há que se contar com o perfil mais enigmático que se poderia ter em uma campanha política – desvelar o rosto de esfinge tão bem esculpido na história, no pensamento, na trajetória e nas falas da ex-senadora petista Marina Silva.

E os cenários são os seguintes, e apenas os seguintes:

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1 - Marina assume a cabeça de chapa do PSB, no lugar de Campos

Para isto acontecer temos os seguintes prognósticos favoráveis:

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a)      Marina foi a candidata a vice escolhida pelo falecido presidenciável Eduardo Campos e o senso comum indicaria que na ausência do titular, que assuma o vice. Afinal, essa é a principal função de qualquer pessoa que ocupe função de vice: “substituir o titular”.

b)      Marina ainda é bafejada por sua estupenda votação (os famosos 19 milhões de votos) no pleito presidencial de 2010 e, teoricamente, traria consigo muito do recall da eleição passada, o que significaria caminhões de votos.

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c)       Marina ainda personifica boa parte do pensamento dos que utilizam o chamado “voto de protesto”. Estes que protestam são geralmente contrários à eleição de políticos tradicionais, de governantes em busca de reeleição e os desencantados com as idas e vindas da roda-viva dos políticos.

Quanto aos prognósticos desfavoráveis temos o seguinte:

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a)      Marina não traz consigo o DNA, a alma, a história e a chama ateada pelo PSB, portanto, revelaria mais um duplo capricho do destino: (1) Foi alçada à candidata a vice de Eduardo Campos apenas porque não conseguiu cumprir a legislação eleitoral quanto à criação de seu partido – a Rede Sustentabilidade; (2) Estaria sendo alçada à cabeça de chapa do PSB apenas devido à morte prematura de Eduardo Campos, portanto, um absoluto “acidente de percurso” e não uma construção política curtida em anos de militância partidária e em experiência na arte das articulações políticas que são requisitos para se pleitear uma candidatura presidencial.

b)      Marina não é vista como liderança inconteste no PSB e, muito ao contrário, representa interesses e propostas políticas diametralmente opostas às defendidas pelo PSB. Pincemos à análise o antagonismo de Marina ao agronegócio em contraponto à sua defesa intransigente de valores ecológicos e ideologia de sustentabilidade planetária.

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c)       Marina encontra clara e contundente resistência de lideranças do PSB, como a do seu vice-presidente Roberto Amaral e a do seu diretor-financeiro Márcio França. Boa parte da energia de Eduardo Campos nos últimos dez meses de sua vida foi para apagar incêndios contínuos ateados por líderes do PSB e líderes da Rede de Marina. Márcio França somente conseguiu compor a chapa de Geraldo Alckmin representando o PSB na luta pelo governo de São Paulo, por intervenção direta de Eduardo Campos, que de certa forma teve que “atropelar” Marina. Mas, em compensação, Campos deixou a tese de Marina vencer quanto a Minas Gerais e, naquele estado, o PSB se viu “forçado” a lançar candidatura própria ao Palácio da Liberdade.

d)      Marina traz consigo um viés evangélico que flerta com ideias messiânicas e tem se mostrado claramente contrária a causas consideradas de grande apelo popular como o uso medicinal e recreativo de maconha, casamento gay, o uso de células-tronco, eutanásia, aborto, expansão do agronegócio e outras questões de natureza comportamental. Muitas dessas questões desafiam frontalmente o pensamento de qualquer socialista medianamente informado.

O impacto do lançamento de Marina Silva à presidente pelo PSB poderia ser analisado brevemente da seguinte forma:

a)      O PSDB de Aécio Neves correrá o risco de desidratar ante um iminente crescimento de Marina nas próximas pesquisas eleitorais, perdendo a posição de uma disputa com a petista Dilma Rousseff em um possível – mas não provável – segundo turno. Neste caso, Marina traria seu próprio contingente de votos – coisa de 19 milhões existentes em 2010 para 2014 – e adicionaria grande parte dos votos que originalmente seriam destinados a Eduardo Campos. A outra parte seria destinada à candidata petista. Para o PSDB seria cair de ponta no mundo das incertezas: com Marina candidata a presidente, o segundo turno estaria mais ao alcance da vista; e ao mesmo tempo também ao alcance da vista a queda da candidatura tucana a um terceiro lugar no pleito, portanto fora do segundo turno.

b)      O PT de Dilma Rousseff sairia beneficiado duplamente com Marina encabeçando a chapa do PSB à presidência da Republica. Primeiro porque assistiria em posição privilegiada de quem já teria assegurado presença em um possível –mas não provável – segundo turno à luta renhida entre o PSDB de Aécio e a Rede de Marina (sob a chancela apenas formal do PSB) pelo segundo lugar a disputar consigo o segundo turno. De quebra, abriria flanco de conflitos com os planos de reeleição de Geraldo Alckmin ao governo de São Paulo, pois sem Eduardo Campos, o apoio do PSB paulista a Alckmin seria fortemente fragilizado.

c)       O PSB colocaria em risco seu futuro como partido político: transformar-se-ia em típico caso de partido barriga-de-aluguel da Rede Sustentabilidade, uma partido que uma vez homologado pela Justiça Eleitoral ficaria com todos os louros de qualquer resultado positivo vindo das urnas.

2 - O PSB decidir pela neutralidade, sem lançar candidato à presidência.

                a) Neste cenário, o PSB se comporia com o PT objetivando maior participação em um segundo governo Dilma Rousseff, o que é desde sempre algo esboçado pelo líder do PSB Roberto Amaral, agora alçado à presidência do partido na ausência de Eduardo Campos.

                b) Sem o PSB competindo (e não competitivo) a eleição seria concluída já no primeiro turno em 5 de outubro. E o PSB não seria competitivo caso optasse por colocar na cabeça de chapa do partido algum postulante que não fosse Marina Silva. Isso seria porque o PSB não dispõe de lideranças próprias à altura do candidato morto. Os líderes do PSB que teriam algum tipo de luz própria seriam Luíza Erundina e o deputado fluminense Romário. Acontece que Erundina é “voto vencido” nas instâncias partidárias e o fluminense vem realizando uma bem sucedida campanha rumo ao Senado Federal pelo Rio de Janeiro.

Esta é a situação que se coloca diante do PSB e, mais ainda, que se coloca no presente pleito eleitoral.

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