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Gustavo Conde

Gustavo Conde é linguista.

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A esquerda que critica a esquerda

A esquerda é tão democrática e tem tanto senso crítico que ela adora criticar a si mesma. Convenhamos: é até bonito ver a ‘esquerda’ criticar a esquerda. Mesmo porque, diferentemente da direita - homogênea e autolimitada -, existem várias esquerdas

A esquerda é tão democrática e tem tanto senso crítico que ela adora criticar a si mesma. Convenhamos: é até bonito ver a ‘esquerda’ criticar a esquerda. Mesmo porque, diferentemente da direita - homogênea e autolimitada -, existem várias esquerdas (Foto: Gustavo Conde)
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A esquerda é tão democrática e tem tanto senso crítico que ela adora criticar a si mesma. É um sintoma. E é curioso se perguntar: existe alguém de direita que critique a direita? Nada me vem à mente neste momento.

Convenhamos: é até bonito ver a ‘esquerda’ criticar a esquerda. Mesmo porque, diferentemente da direita - homogênea e autolimitada -, existem várias esquerdas.

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Um detalhe, no entanto, é assaz interessante: algumas pessoas que não são de esquerda - mas que gostam de ser identificadas como 'esquerda', num movimento psíquico que soa como marketing pessoal - lançam mão de críticas sistemáticas à esquerda - em geral, críticas vazias e manifestações do mais puro clichê - não para melhorar seu próprio campo político, mas para se distanciar dele.

Dá ibope se dizer de esquerda e criticar a esquerda. A plateia idealizada pelos missivistas enseja pensamentos assim: "hum, que pessoa humilde, inteligente, ponderada, corajosa".

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Cada um na sua. Cada um na alienação que merece. Mas, posso dizer uma coisa: momentos históricos existem para modificar o regime dos enunciados - e do discurso político.

Vou dar um exemplo. Na época da democracia, entre 2003 e 2015, eu critiquei muito a esquerda. Era um momento histórico interessante para isso. Primeiro, porque havia democracia. Segundo, porque a esquerda estava no poder. Terceiro, porque os equívocos – a despeito de todos os acertos - eram reais e de consequências reais.

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A crítica era feita, mas uma critica qualificada, detida, cuidadosa - ao menos, a ideia era essa. A esquerda jamais gostou de facilitações e simplificações discursivas. Esse ‘faber’ discursivo não é do 'gênero esquerda'.

Leia-se e faça-se uma distinção básica: há uma esquerda real, que se preocupa com o coletivo e que acumula conhecimento político gregário e estratégico, e há outra esquerda, muito popular, que apenas flana na reputação alheia e vocifera contra tudo. É o conceito versus o seu simulacro.

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De sorte que o campo é complexo. Quem quiser entendê-lo não pode ficar só na superfície dos rótulos. Rótulos têm uma razão de ser, mas eles têm que te levar a algum lugar menos árido.

Criticar a esquerda instalada no poder, portanto, tinha um sentido. Era o sentido democrático da construção coletiva em busca do aperfeiçoamento gerencial. No meu caso, as críticas que fazia jamais mudaram meu voto. Mesmo porque, o outro lado do espectro político sempre foi, lamentavelmente, um desastre.

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A crítica qualificada à esquerda tem a ver com a crítica que se faz a um filho que joga futebol. "Chuta mais forte!", "toca a bola", "volta pra marcar". A torcida não muda um milímetro. Isso se chama caráter e educação política.

Há, no entanto, esse outro lado que clama por aceitação 24 por dia. Ele não suporta a consistência de um segmento político que o ignorou, por assim dizer - já que é preciso competência para gerenciar o patrimônio público e também travar o embate político com qualidade -, e passa as horas do seu dia a destilar a própria frustração direcionada em forma de melindre ao meio que o rejeitou, seja por indiferença pura e simples, seja por pura falta de afinidades.

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Ocorre que todo esse contexto discursivo, feito de críticas, autocríticas e pseudo autocríticas, fragmentadas nas mais diversas vozes e dicções, é apenas e tão somente um sintoma do espírito incorrigivelmente democrático da(s) esquerda(s). É do gênero. Até os falsos esquerdistas nos são caros, pois são a materialização da tese que diz que ‘ser de esquerda é bom’.

Em pleno carnaval, pensar a política e suas orientações, tradicionais ou não, é outro sintoma máximo daqueles que se preocupam com a sociedade, com a coletividade, com a justiça social, com o futuro, com o debate, com o campo democrático que deve comportar sempre mais de um pensamento. Ou pode ser pura falta do que fazer mesmo. Afinal, ainda é carnaval.

 

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