A exploração religiosa de Castro e a Teologia do Absurdo
Com apologia ao confronto e morte, governador corrompe os preceitos cristãos
Claudio Castro corrompe os preceitos do Evangelho e transforma a morte de mais de 120 pessoas em um doloroso, eleitoreiro e cínico espetáculo de exploração da fé religiosa e de autopromoção. Propaga vídeos que o saúdam em visitas planejadas a igrejas e templos criteriosamente selecionados. Festeja a chacina e até expõe um menino de 13 anos, em profecias falaciosas, em que o compara a uma figura bíblica tão controversa quanto o Rei Salomão, que contrariou todos os preceitos do Deuteronômio 17.
Que tristeza, que dor profunda! Esta é uma dimensão radicalmente contrária ao Evangelho de Jesus.
Claudio Castro atua na construção de uma Teologia do Absurdo, a teologia do horror e da negação de Deus. Porque não se pode amar a Deus e matar os filhos dele. E todos, indiscriminadamente, são filhos de Deus.
Ele se aproveita do medo generalizado, do esgotamento diante da violência crescente, dos roubos de rua, dos assaltos, da insegurança, para insuflar as pessoas desesperadas e desalentadas e disseminar uma política de segurança baseada na vingança, no sangue.
Mas o aumento da violência não tem como causa a inação do estado. A causa, ao contrário, é a ação do estado formatada no preconceito, no racismo, no ódio aos pobres que o próprio sistema gera e mantém.
Nenhum outro governador fez tantas incursões policiais nas favelas e periferias do estado, como Castro, nenhum promoveu tantas chacinas. Sob Castro, foram realizadas milhares de operações letais, somando quase 2 mil mortos, entre civis e policiais.
E a violência só aumentou. De janeiro a abril de 2025, o Rio registrou mais da metade das mortes de policiais, bombeiros e agentes penitenciários ocorridos no Brasil; o número dobrou, passando de 18 para 37. Em janeiro deste ano, os municípios da região metropolitana fluminense tiveram crescimento no número de tiroteios, mortos, feridos, vítimas de balas perdidas e baleados em roubos - 181 pessoas foram baleadas, dos quais 79 morreram; um crescimento de 79%, no número de baleados, e de 36%, nos óbitos, em relação a janeiro de 2024; oito policiais estavam entre os mortos, o maior número registrado para o mês de janeiro desde 2018. Na capital, o roubo e furto de celulares também dobrou e bateu recorde nacional – nos primeiros oito meses deste ano, foram registrados 36 mil casos, um a cada 10 minutos.
Tudo isso aconteceu apesar das chacinas e incursões de Claudio Castro.
Nós, do campo da esquerda, recebemos a pecha de defender bandidos, o que é mentiroso e ofensivo. A primeira proposta brasileira de uma política nacional cooperativa e integrada de segurança foi feita ainda no primeiro mandato do Presidente Lula, em 2007, com o Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci). Lutamos e implantamos o Estatuto do Desarmamento, reduzindo o volume de armas nas ruas. Propusemos a PEC da Segurança Pública, rejeitada por Claudio e governadores da direita.
Sou um militante da segurança pública porque esse é um direito humano. Todo mundo tem o direito de não ser assaltado, assassinado, violentado, espancado, extorquido, todo mundo tem o direito à paz de uma vida plena e tranquila.
Quero uma segurança pública que respeite o morador da favela como respeita o morador de lugares abastados. Quero uma polícia ética, sem envolvimento com o crime, sem achaques e “arregos”, uma polícia treinada e preparada para combater o crime que aterroriza o país e, não, uma polícia que promova o terror. Quero uma polícia que garanta a segurança e a vida de todos, inclusive de seus agentes. Uma polícia que investigue, apure e prenda os criminosos que aterrorizam a população, que combata o financiamento do crime organizado, que investigue ligações com as esferas de poder. Chacinas interrompem possíveis investigações e são como espetáculos do Coliseu, onde cristãos eram lançados às feras.
O censo de 2022 mostrou que o estado do Rio abriga 1.724 favelas, com uma população de 2.142.466 pessoas; só na capital, há cerca de 1,3 milhão de pessoas morando em 813 favelas, que produzem, alimentam o estado, fomentam a economia e precisam ser respeitadas. E não é justo mesmo, não é justo mesmo, achar que essas pessoas mereçam coturno na porta e bala na cabeça.
São João Crisóstomo ensinava: “não pense que, ao ignorar um pobre, que ao ignorar alguém que está sofrendo, que ao matar alguém, você está louvando a Deus. Se não conseguirdes encontrar Cristo no mendigo na porta da igreja, não o encontrará no cálice”.
Como católico, repudio firmemente a Teologia do Absurdo de Claudio Castro. Deus é vida e justiça.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.



