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Ronaldo Lima Lins

Escritor e professor emérito da Faculdade de Letras da UFRJ

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A exportação da barbárie

Parece óbvio, a essa altura, que, sem de fato ganhar a contenda, os palestinos infringiram sérios prejuízos ao Estado de Israel.

Palestina caminha com criança por prédios destruídos ao norte da Faixa de Gaza (Foto: Finbarr OReilly/Reuters)

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Não bastassem os exageros da guerra em Gaza, dizimando populações civis, homens, mulheres e crianças, o governo de Israel considera pouco. O Primeiro Ministro Benjamin Netanyahu declara agora publicamente que colocará o Mossad, sua polícia política, para agir fora de suas fronteiras e atingir inimigos onde se refugiarem. É uma maneira nova de encarar o Direito Internacional, retirando-o de conteúdos morais de qualquer espécie e igualando as forças de segurança ao banditismo desenfreado, que não obedece a regras e respeita apenas os próprios interesses. Trata-se de um jeito de empregar sistemas nacionais para inclui-los no esforço de eliminação de adversários, como se, na guerra, realmente valesse tudo. Espanta, ainda, a pouca repercussão do comentário, no entanto oficial, já que, na mídia em geral, afeita ao máximo, exigem mais ainda sem ter como parar. 

Parece óbvio, a essa altura, que, sem de fato ganhar a contenda, os palestinos infringiram sérios prejuízos ao Estado de Israel. Para começar, apesar da soma impressionante de seus bombardeios, possivelmente graças aos túneis, as vítimas resistem. Tanques, mísseis e aviões de combate, com os quais se imaginavam vitórias rápidas, agem até agora sem os resultados esperados, além da matança indiscriminada. O mundo não assiste imobilizado ao cenário de escombros, fruto da soldadesca israelense e seus dispositivos mortais. Em toda parte, a simpatia inicial em favor do regime de Tel Aviv, redundou em contestações viscerais, com as massas protestando nas ruas da Indonésia, Ancara, Nova York, São Paulo, Paris, Londres, Barcelona etc., para não falar nos países árabes, indignados com o genocídio em andamento. A opinião pública se inteirou sobre a maneira como eram tratados os palestinos no território israelense – e se escandalizou. Gente isenta, inteiramente solidária aos judeus pelo que sofreram durante a II Guerra, mal conseguia se expressar frente à ação de limpeza étnica que se testemunha em Gaza, com repercussões negativas com certeza até entre as pessoas menos sujeitas aos ditames da ideologia. O pior (pois sempre há o pior) reside na perpetuação da barbárie, apoiada pelos norte-americanos, aparentemente perdidos nas circunstâncias, sem forças para conter a escalada do escândalo. Na verdade, não surpreendem. Eles armaram Israel com o que produziam de sofisticado no exercício do extermínio e assistem de camarote a eficácia de tais instrumentos de assassínio nas mãos de apoiadores. Quando despertarão da letargia? 

A guerra na Palestina está longe de representar uma brincadeira. Também não constitui um simples delírio de um Doutor Fantástico amorenado pelo sol. Aponta para algo gravíssimo no instante vivido pelo planeta, fora dos eixos e ligeiramente inclinado para um de seus lados como se esperasse pelo fim. Ali existem protagonistas proprietários de armamentos nucleares. Alguém que transforma a extinção de um povo em distração macabra pode perfeitamente transitar por desastres cada vez mais aterradores... São pessoas que não sabem parar. Que nos livrem delas!

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