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Ribamar Fonseca

Jornalista e escritor

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A farsa da farsa

Depois de uma leitura atenta da reportagem de “Veja” constata-se, sem muita dificuldade, que tudo não passou de uma grande farsa da revista, sem força de denúncia justamente pela sua banalidade, pela falta de elementos

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Acuado pela denúncia da "Folha de S. Paulo" de que, quando governador de Minas, construiu com dinheiro público um aeroporto na fazenda do tio, o candidato tucano à Presidência da República Aécio Neves ficou meio tonto, como se tivesse recebido um cruzado de direita e, sem autoridade moral para continuar apontando o dedo acusador para a presidenta Dilma Rousseff, começou a gaguejar quando alguém lhe perguntava sobre o fato. O mais ferino dos concorrentes da Presidenta, o senador mineiro reduziu a agressividade dos discursos e até o seu escudeiro-mor, o deputado Carlos Sampaio, sem argumentos para contestar a denúncia, preferiu classificá-la de "factóide", como se fazer obra particular com dinheiro público fosse um simples "factóide". Cômico.

Mas neste final de semana a revista "Veja", que não mais se preocupa em esconder a sua preferência pelo tucano, publicou reportagem de capa, em tom de escândalo, oferecendo ao seu candidato munição para reagir ao bombardeio petista por conta do "aeroporto". Sob o título de "Fraude na CPI da Petrobrás", a revista denuncia uma suposta armação para esvaziar a investigação da mais importante empresa estatal do país: as perguntas teriam sido previamente apresentadas aos investigados que, também, teriam sido treinados para dar as respostas. Apesar da tonalidade de escândalo emprestada à denúncia, na verdade tudo não passa também de uma armação, que desmorona a uma simples pergunta: a oposição também participou da fraude, igualmente dando conhecimento prévio das suas perguntas?

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Sim, porque para que o trabalho da CPI se caracterizasse como uma farsa, seria necessário que os oposicionistas que a integram também estivessem combinados com os governistas para o teatrinho. De outro modo, não existe farsa, porque a oposição pode perguntar o que bem entender fora de qualquer suposta lista de perguntas previamente elaboradas. Por outro lado, alguém pode argumentar: não havia oposicionistas na comissão. Pior ainda: se eles não pretendiam investigar a Petrobrás, por que fizeram tanto barulho na mídia por causa da compra da refinaria de Pasadena? Por que não estavam nas reuniões da CPI? E por que fazem tanto barulho agora, depois de se recusarem a compor a comissão?

Segundo a revista, existe 20 minutos de gravação de um suposto vídeo, gravado não se sabe por quem com a ajuda de uma caneta-espiã, onde uma conversa revelaria a fraude. Com tanto tempo gravado, pergunta-se: por que a revista só transcreveu as falas do José Barrocas, chefe do escritório da Petrobrás em Brasília? O resto não interessava ou só as palavras de Barrocas se revelaram interessantes para os seus objetivos políticos? O vídeo, ao que parece, teria sido editado. Mas a irresponsabilidade da "Veja" na publicação de matérias como essa, sem nenhuma preocupação com os danos que podem causar à reputação alheia e onde é visível o esforço para incriminar a Presidenta, inclui a sua ilustração com fotos de pessoas supostamente citadas, as quais passam a ser vistas pelo leitor com desconfiança, mesmo sem ler o texto.

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A "Veja", que justamente por conta das suas matérias tendenciosas, vem perdendo credibilidade e leitores, escreve na capa: "Uma gravação mostra que os investigados receberam perguntas dos senadores com antecedência e foram treinados para responder a elas". Esse texto inclui todos os senadores que integram a CPI na suposta farsa e, também, contradiz o conteúdo da reportagem, segundo a qual apenas Nestor Cerveró teria sido "treinado" para responder as perguntas e não todos os investigados. Esse Cerveró, pelo visto, já pode ser convidado para trabalhar em novelas, pois consegue decorar fielmente o texto com as respostas que deveria dar. E os seus treinadores estariam aptos a abrir uma escola de teatro, tamanha a eficiência do seu trabalho com o ex-diretor da Petrobrás.

O mais pitoresco de tudo isso é o esforço dos tucanos para ampliarem o "escândalo" que, na opinião do candidato Aécio Neves, é "gravíssimo", ao contrário do caso do aeroporto. O seu escudeiro-mor, Carlos Sampaio, que também comanda o departamento jurídico da campanha tucana e, sob qualquer pretexto, vive entulhando a Justiça de ações contra os adversários – como se o Poder Judiciário só estivesse à sua disposição – já providenciou representações de todo tipo contra os supostos envolvidos e até um pedido de cassação de mandato de dois senadores governistas. E ninguém se espante se o líder da bancada do PSDB na Câmara Federal, deputado Antonio Imbassahy, já não estiver recolhendo assinaturas para a criação de uma CPI da CPI.

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Depois de uma leitura atenta da reportagem de "Veja" constata-se, sem muita dificuldade, que tudo não passou de uma grande farsa da revista, sem força de denúncia justamente pela sua banalidade, pela falta de elementos com esse poder e com objetivos bem definidos: minar a reeleição de Dilma. Prova disso é que os demais veículos de comunicação de massa, em especial as emissoras de televisão, não levaram a matéria a sério e não lhe deram importância. Conclui-se, daí, que a "Veja" está brincando de fazer jornalismo e o PSDB brincando de fazer política. Será que eles pensam que assim conquistarão a Presidência da República?

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