A geopolítica e a continuidade dos papas do Sul Global
Quarta-feira, dia 07 de maio, iniciará a eleição de mais um Papa que poderá vir do Sul Global e de suas mudanças necessárias na geopolítica.
A palavra Conclave advém da língua materna, o latim "cum-clave", indicando um local ou espaço reservado na casa, "fechado a chave", onde se realizará a eleição de forma secreta ou reservada. Na linguagem da Igreja, é usado para eleição do Pontífice, quando são convocados todos os Cardeais do Colégio Cardinalício (votantes e não votantes) para eleger o novo Papa. Na próxima quarta-feira (07) o mundo estará de olhos para a chaminé do alto da sacada da Capela Sistina de Michelangelo, no museu do Vaticano em Roma, onde os 250 cardeais dos cinco continentes ao redor do mundo elegerão o próximo pontífice, que governará a Igreja Católica Romana e outros ritos orientais, também o Estado do Vaticano, e será o líder supremo. Dos 250 Cardeais, apenas 133 têm o poder de voto, certo que os não votantes têm poder de influenciar no conclave pela experiência e poder.
(Ao longo dos séculos, sucederam-se mudanças que moldaram a estrutura do Conclave. Em 1059, o Papa Nicolau II introduziu a bula "In nomine Domini". Nesse documento, estabeleceu-se, em particular, que somente os cardeais poderiam eleger o Romano Pontífice. Essa bula foi definitivamente ratificada pela Constituição Licet de vitanda, promulgada por Alexandre III em 1179. Ela introduziu a necessidade da maioria de dois terços dos votos, um elemento importante da eleição do Papa que chegou até os dias atuais. [...] Em 1268, dezoito cardeais se reuniram no Palácio Papal de Viterbo para eleger o Papa. Foi o "Conclave" mais longo da história. O Papa foi eleito após dois anos e nove meses. Eram tempos difíceis. Durante esse longo período, a população de Viterbo decidiu trancar os cardeais no Palácio. As portas foram fechadas com tijolos e o telhado removido. Por fim, Gregório X, arquidiácono de Liège, que na época se encontrava na Terra Santa, foi eleito. Em 1274, ele promulgou a Constituição Ubi periculum, que instituiu oficialmente o Conclave). https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2025-04/conclave-historia-idade-media-futuro-eleicao-pontefice.html.
Pois bem, o próximo Papa tem a missão de liderar quase um bilhão e meio de católicos, não se contabilizando os Católicos Chineses e nem Ortodoxos Russos. O novo Papa desempenhará um papel importante em sua missão e na diplomacia. Será um Papa nos moldes do projeto wojtiliano ou no projeto franciscano (do Francisco de Roma)? Uma eleição de um Papa conservador (advém do modelo de Igreja deixado pelo papa João Paulo II e seu sucessor Bento XVI)? Então vamos aos números; para entender a Igreja e esse conclave, que já está acontecendo de forma não oficial nos bastidores de Roma, voltaremos a setenta anos na história.
Com a morte do Papa Pio XII (Eugenio Pacelli – 1939 a 1958) em 1958, depois de governar a Igreja Católica por 19 anos, passando por um período turbulento (devido ao momento histórico que a humanidade atravessava), a Europa era sacudida violentamente pela segunda guerra mundial. Muitos o questionavam devido ao silêncio do Papa Pacelli em relação à violência nazista. Há fontes seguras que afirmam que o Papa operava por vias clandestinas para libertar muitas pessoas tanto do regime fascista na Itália quanto do regime nazista na Alemanha, desde 1939 a 1945. O inferno da Guerra aumentaria as dores do Papa. Quando Pio XII vem a óbito, nos aposentos do Castelgandolfo, Itália, por uma parada cardíaca, após já ter sofrido um AVC (Acidente Vascular Cerebral), no auge de seus 82 anos, a Igreja teria urgência para eleger o próximo Papa. Porém, alguns entraves entre duas alas em embates (conservadores e progressistas), não tendo consenso, fizeram o conclave já estar no seu quarto dia, tempo bastante longo para tempos modernos! Ou seja, tempo suficiente para se eleger um Cardeal a Papa.
Qual seria a saída para resolver esse impasse por falta de acordo entre os Cardeais? A igreja necessitava de um Papa. Os conservadores queriam um Cardeal papável que ascenderia ao trono de Pedro, mas que mantivesse essa ordem hierárquica e medieval sem mudanças. Então, entre "bárbaros e romanos", entre progressistas e conservadores, decidiram eleger um Cardeal que seria um Papa de transição, de curto período. Assim chegaram ao consenso do nome do Cardeal Angelo Giuseppe Roncalli, sendo eleito em 28 de outubro de 1958. Há fontes que relatam que os cardeais tiveram dificuldades para encontrar paramentos (vestimentas), devido ser um cardeal com índice de peso elevado.
Ele escolheu o nome de João XXIII e foi para a Igreja Católica um dos Papas mais progressistas que a Igreja já teve. De fato, foi um papa de transição; seu pontificado durou de 1958 até 1963. Para surpresa de muitos, em 1962, ele convocou o Concílio Ecumênico Vaticano II, que durou de 1962 a 1965 – uma Constituinte da Igreja Católica, que apontava a necessidade de abertura da igreja para o mundo. (João XXIII, no Natal de 1961, observando os grandes problemas da humanidade em nível geopolítico e também a pobreza religiosa das pessoas, decidiu, ouvido o parecer de seus irmãos no episcopado, convocar, por meio da constituição apostólica Humanae Salutis (HS), o Concílio Vaticano). (https://www.cnbb.org.br/o-concilio-vaticano-ii/ - artigo do Cardeal Orani João Tempesta, Arcebispo do Rio de Janeiro - RJ).
O Concílio Ecumênico Vaticano II foi, sem dúvidas, o maior evento da Igreja Católica no século XX e um dos maiores da história da Igreja. Período em que houve grandes mudanças no seio da Igreja, entre elas o fim da missa tridentina em latim, onde o padre rezava de costas para os fiéis, o fim da obrigatoriedade dos padres usarem batina e a possibilidade das missas serem realizadas em língua nativa. Com a sua morte em 1963, a Igreja se viu novamente com a necessidade da eleição de um novo Papa, que deveria seguir as reformas de seu predecessor, e que fosse capaz de conduzir a Igreja. Em três dias de Conclave foi eleito o Cardeal Giovanni Montini (1963 a 1978). Escolhendo o nome de Paulo VI, de linhagem progressista, continuou as reformas do Papa Roncalli, conduziu o concílio até 1965 com as devidas mudanças, as quais efervesceram no seio das massas.
Na América Latina, por impulso das mudanças do Concílio, foi realizada a Conferência Episcopal Latino-Americana em Medellín, na Colômbia, em 1968. Esta conferência é apontada por muitos teólogos como a principal conferência do episcopado Latino-Americano. Há que se destacar que esse foi o período de muitas turbulências impostas pelas ditaduras militares, período em que foi formada uma geração de teólogos progressistas, onde aqui germinou o embrião da teologia da libertação.
O Papa Paulo VI veio até a América Latina e participou com grande preocupação nos acontecimentos que estavam efervescendo e com um cenário de violência no continente latino-americano.
"Ninguém se surpreenderá se reafirmarmos firmemente nossa fé na fecundidade da paz. Esse é nosso ideal cristão. 'A violência não é nem cristã nem evangélica' (Discurso de Paulo VI em Bogotá, na celebração eucarística do Dia do Desenvolvimento, 23-8-68). O cristão é pacífico e não se envergonha disso. Não é simplesmente pacifista, porque é capaz de lutar (ver Mensagem de Paulo VI de 1-1-1968). Mas prefere a paz à guerra. Sabe que 'as mudanças bruscas e violentas das estruturas seriam falhas, ineficazes em si próprias, e certamente em desacordo com a dignidade do povo, a qual exige que as transformações necessárias se realizem de dentro, isto é, mediante uma conveniente tomada de consciência, uma adequada preparação e efetiva participação de todos. A ignorância e as condições de vida, por vezes infra-humanas, impedem hoje que seja assegurada'." (Discurso de Paulo VI em Bogotá, na celebração eucarística do Dia do Desenvolvimento, 23 de agosto de 1968, pg- 13). https://pjmp.org/subsidios_arquivos/cnbb/Medellin-1968-2CELAM_PORTUGUES.pdf
Naquela época, a Igreja se voltava para os problemas do Sul Global, com uma série de violências impostas pelas ditaduras em vários continentes, sobretudo na América Latina, África e Ásia. Os problemas já não eram só o pós-guerra na Europa, mas um cenário para os povos marginalizados e excluídos em vários continentes, marcados pela violência. Os Papas Roncalli e Montini foram cruciais para as mudanças e suas reformas na Igreja Católica. Com a morte do Papa Paulo VI em 1978, novamente o colégio cardinalício se reúne em um novo conclave para escolher um Papa que fosse capaz de conduzir a Igreja, nesse período em que o mundo se encontrava dividido entre Capitalismo e Socialismo.
No leste europeu, com algumas repúblicas em alinhamento com as ideias socialistas tanto da URSS quanto da China de Mao Zedong (em 1976, o líder chinês era Deng Xiaoping, que havia se consolidado à frente do Partido Comunista Chinês após a morte de Mao Zedong em 1976). Países que influenciavam as revoluções e emancipação de vários povos, tanto aqui na América Latina quanto na Ásia – destacaremos a revolução Cubana em 1959 e a resistência do Vietnã de 1959 a 1975. A Igreja precisava de um líder capaz de resolver seus problemas internos, mas também os problemas externos com muitos países que entravam em choque com essas novas mudanças acirradas pela guerra fria.
Os problemas e as transformações sociais (especificamente a Revolução Chinesa de 1949) tinham com a Igreja Católica local (a Igreja Católica na China desenvolvia suas ações da mesma forma que os monges tibetanos, liderados por Dalai Lama no Tibete) contradições profundas entre Igreja e os princípios da Revolução Chinesa. Esse impasse perdura até os dias de hoje, um problema que ficou para o novo pontífice resolver entre a Santa Sé e a China. O Papa Paulo VI vinha conduzindo, com ações e diálogos na diplomacia, havendo avanços. A Igreja Católica precisava se atentar para esses fenômenos, como se sobressair a essa divisão no mundo da bipolaridade e suas influências no mundo. Portanto, a diplomacia da Santa Sé já vinha operando, sobretudo em diálogos com a China.
Em 1978, um novo Conclave com dois dias de duração elegeu o Cardeal Patriarca de Veneza na quarta votação, o Papa do sorriso, da linhagem de Roncalli e Montini. Escolheu o nome de João Paulo, revelando que escolheu esse nome em homenagem aos Papas que o tornaram Bispo (João) e o fizeram Cardeal (Paulo). O Papa Luciani seguiria firme as mudanças vindas da luz do Vaticano II, que ele mesmo participou ativamente de todos os processos (sessões) e tinha total clareza da necessidade desta abertura da Igreja para o mundo e suas transformações. Com a sua eleição, ele teve acesso a uma série de documentos que apontavam envolvimento do Banco do Vaticano com possível envolvimento com a máfia Italiana e uma série de irregularidades, além da necessidade de fazer algumas mudanças internas. Misteriosamente, o Papa veio a óbito em uma noite; seu pontificado durou apenas 33 dias. Não se tinha um histórico de doenças cardiovasculares em sua vida – um mistério ronda sobre a sua partida até os dias de hoje.
Novamente, pouco mais de um mês depois, os Cardeais se reuniriam para eleger um novo Papa e superar esse trauma em que a Igreja estava vivendo. O colégio cardinalício se reúne e começa as sessões. Numa das primeiras votações, o Cardeal Lorscheider (1924 – 2007), brasileiro, alcança 2/3 dos votos; as fontes mais seguras apontam que Dom Aloisio Lorscheider foi o escolhido. As informações mais seguras vêm do Frade dominicano, Frei Betto, que segundo ele foi confiado por um cardeal amigo. Frei Betto afirma: "Que Dom Aloísio Lorscheider recebeu, durante o conclave realizado há 47 anos, dois terços dos votos totais. Dom Aloísio havia colocado oito pontes de safena recentemente e disse que não poderia aceitar a eleição, pois a Igreja não suportaria a perda de mais um papa em tão pouco tempo". (freibetto.org - entrevista para o canal no YouTube "Tutameia" em 25 de abril de 2025).
Dom Aloisio era um franciscano engajado nas lutas e uma das figuras mais contundentes da teologia da libertação. A história é impiedosa; as janelas que se abrem nos momentos das lutas de classes não se podem perder – uma oportunidade, sobretudo, para aqueles e aquelas que podem contribuir com um mundo melhor e mais justo. Se passaram 26 anos daquele conclave, foi eleito o Cardeal Wojtyla, que durou até sua morte em 2005. Dom Aloísio faleceu em 2007, ou seja, ele rezou a missa de exéquias de João Paulo II.
A eleição de João Paulo II determina o fim da "era dos Papas progressistas" que ascenderam em meados do século XX. Sua posição conservadora, com uma linhagem dogmática clerical, diferente dos demais, tinha um carisma impecável, mas não escondia sua determinação em cumprir um papel crucial para mudar, guinar a Igreja em uma linha conservadora e inquisidora com as correntes progressistas – foi um projeto conservador, sobretudo alinhado ao neoliberalismo de Ronald Reagan e Margaret Thatcher. Sua linha dura começou a censurar muitos Teólogos progressistas tanto na Europa quanto na América Latina, além de perseguir a Teologia da Libertação, entre eles Leonardo Boff, Jon Sobrino, Gustavo Gutiérrez, entre outros. João Paulo II mudou a formação da igreja, de novos padres e novos bispos de sua linhagem doutrinária. Operou a censura por vias do Santo Ofício, dirigida inclusive pelo Cardeal Joseph Ratzinger.
Muitas polêmicas surgiram, sobretudo em torno de seu pontificado. Em 1983, em visita à Nicarágua, João Paulo II censurou publicamente o Padre Ernesto Cardenal, de uma forma extremamente autoritária. Em 1984, Cardenal foi proibido de realizar sacramentos e foi imposto sobre ele o silêncio obsequioso – assim era o modus operandi em relação a muitos teólogos. (Em 2019, o Papa Francisco reabilitou o Padre Cardenal, já moribundo no quarto do hospital, com 94 anos). Em 1987, ele viajou ao Chile e foi recebido no Palácio de La Moneda ao lado do ditador assassino Augusto Pinochet. João Paulo II foi totalmente negligente e omisso no caso do Bispo Dom Oscar Romero. Dom Oscar nunca foi recebido pelo papa; muitas vezes ia até o Vaticano, ficava nos corredores e o papa o ignorava. Certa vez foi humilhado publicamente na praça da basílica, onde se encontrava com os fiéis esperando-o. Depois desses acontecimentos, o bispo de El Salvador foi assassinado a mando da CIA.
Foram 26 anos de pontificado. Veio a falecer em 2005; nesse período se consolidou uma estrutura medieval e conservadora no seio da igreja. Tudo voltava em torno seu governo e suas decisões. Predominou uma organização dentro do Vaticano que colocava em cheque a credibilidade da estrutura, sobretudo em dois campos: a economia (banco do Vaticano) e as inúmeras denúncias de crimes sexuais que assombravam a igreja. João Paulo II não tomou nenhuma medida para estancar essa chaga; nos seus 26 anos de pontífice, esses crimes inclusive foram acobertados. O número de casos de pedofilia aumentou.
Em 2005, em um conclave rápido, é eleito o Cardeal Joseph Ratzinger. Houve uma disputa acirrada entre Ratzinger e Carlo Maria Martini, S.J. (Turim, 15 de fevereiro de 1927 – Gallarate, 31 de agosto de 2012), que foi um cardeal italiano e arcebispo emérito de Milão. As fontes informaram que Ratzinger tinha uma leve vantagem sobre o Cardeal Martini. No acirramento, o cardeal de Milão chamou o alemão num canto e disse: "Queres te eleger com meus votos? Reforma a cúria romana, mas se não conseguir, cai fora dela". Na última votação, Ratzinger foi eleito e escolheu o nome de Bento XVI. O sonho dos conservadores permanecia: o cardeal chefe do Santo Ofício é eleito Papa durante 8 anos. Porém, não teve êxito nas mudanças profundas que precisava fazer, surpreendendo o mundo ao ler em Latim a sua renúncia, alegando dificuldades de saúde e não ter conseguido reformar a Cúria Romana.
Bento XVI salvou seu mandato com a renúncia. Como Papa, foi a continuidade da linha do Papa Wojtyla. Na história da Igreja, poucos Papas renunciaram; o último foi o papa Gregório XII (1406-1414). Depois da renúncia de Bento XVI (2005 a 2013), foi convocado um novo conclave. Ele manteria comunhão fraterna com o Papa Francisco, tornando-se Papa Emérito, mantendo-se em silêncio e total lealdade com Francisco.
Com um recorde de tempo, como foi em 2005, o Conclave elege com surpresa, contrariando todas as análises, o Cardeal Mario Jorge Bergoglio, Arcebispo de Buenos Aires na Argentina. O Papa do fim do mundo que se chama Francisco, do Sul Global, de ascendência italiana. Não só o nome chama atenção, mas o fato do Papa Francisco escolher um conselho cardinalício para auxiliar nas reformas. Ele escolheu nove Cardeais de várias nacionalidades; inclusive em 2023, o Papa nomeou Dom Sergio da Rocha para o conselho de Cardeais. Francisco é um projeto de igreja dos pobres, marginalizados, dos excluídos e refugiados da guerra. A primeira viagem visitou a ilha de Lampedusa, no sul da Itália, ilha onde muitos imigrantes perdem suas vidas todos os anos ao tentarem entrar no velho mundo. Defensor da causa Palestina, um Papa do diálogo inter-religioso. Todos os dias ele ligava para o Padre Gabriel Romanelli, em Gaza, tinha-os em seu coração; destinou como último ato a entrega do Papa Móvel para se tornar uma ambulância para atender as crianças de Gaza. Sempre em seu hábito a ligação cordial com seus amigos na Argentina, ligava para sua amiga Clelia Luro de Podestá e, no meio às perseguições, num belo dia deu um telefonema para o Padre Julio Lancellotti, em São Paulo, onde confortou seu coração em meio a tantas ofensas e perseguições. Francisco foi o Papa da ecologia, fez o sínodo para Amazônia e escreveu uma encíclica, "Querida Amazônia", demonstrando sua preocupação com a casa comum.
"Às operações econômicas, nacionais ou internacionais, que danificam a Amazônia e não respeitam o direito dos povos nativos ao território e sua demarcação, à autodeterminação e ao consentimento prévio, há que rotulá-las com o nome devido: injustiça e crime. Quando algumas empresas sedentas de lucro fácil se apropriam dos terrenos, chegando a privatizar a própria água potável, ou quando as autoridades deixam mão livre a madeireiros, a projetos minerários ou petrolíferos e outras atividades que devastam as florestas e contaminam o ambiente, transformam-se indevidamente as relações econômicas e tornam-se um instrumento que mata". (Querida Amazônia: Exortação Apostólica pós-sinodal ao povo de Deus e a todas as pessoas de boa vontade, 2 de fevereiro de 2020).
Ele tinha em si a preocupação com a Amazônia, mas sobretudo com a ganância de uma sociedade capitalista. Outras encíclicas foram escritas, entre elas: "Evangelii Gaudium - 2013", "Amoris laetitia – 2016", "Laudate Deum – 2023", entre outras.
Francisco mudou a Cúria Romana, moralizou o Banco do Vaticano e moralizou o clericalismo na Igreja, tomando decisões firmes contra bispos e padres que são denunciados pelos escândalos de pedofilia – até Cardeais são afastados por esses motivos. Francisco é o Papa que fez pontes e se tornou um dos líderes mais respeitados no mundo. Tais pontes incluem quando ele abriu diálogo com a Igreja Católica Ortodoxa da Rússia e se encontrou com o Patriarca Kirill, líder Ortodoxo, tendo um encontro histórico em 2016 em Havana, Cuba, o primeiro desde o grande cisma de 1054. Tal encontro também aconteceu com o principal líder xiita do Iraque, o grande Aiatolá Ali al-Sistani, na cidade de Najaf, no Iraque.
Sua diplomacia diminuía as tensões no mundo. Quantas vezes ele escalava os Cardeais Parolin e Tagle para ajudar a diminuir e aliviar tensões em conflitos na África, Ásia e na Europa. Francisco foi um papa peregrino; seu maior sonho na diplomacia era resolver um grande entrave entre a Santa Sé e a China, resolver os problemas históricos da Igreja Católica na China – seu sonho era colocar seus pés naquele país. Era o papa dos sinais, entre eles o fato de nunca ter se encontrado com o líder religioso tibetano Dalai Lama; ele sabia que um encontro com ele diminuiria suas chances de aproximação com a China. Uma missão que fica para o próximo Papa. A estrutura pesada e milenar da Igreja não permitiu mudanças mais drásticas; há uma disputa dentro da instituição – portanto, onde tem gente e poder tem lutas de classes. As mudanças ocorreram dentro do que foi possível e necessário.
O conclave acontece na próxima quarta-feira, dia 07 de maio de 2025. Quem será o próximo Papa? As alas conservadoras têm nome para o próximo papado; não há evidências de divisões nesse momento no seio da igreja, isso não quer dizer que não há disputas e que nos bastidores fervem as ideias. Três Cardeais conservadores despontam com forte presença e peso. Este artigo não tem como objetivo cravar e acertar quem será o próximo Papa, mas apontar para uma análise e no que implicaria uma eleição de um conservador ou mesmo de um progressista. Aqui elenco os nomes de três Cardeais conservadores que são papáveis:
Robert Sarah, que tem pensamento ortodoxo e conservador. Sarah, de 79 anos, nasceu na Guiné e ocupa atualmente o cargo de Prefeito Emérito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, no Vaticano. A idade já avançada coloca um certo entrave, porém é o querido das alas conservadoras; ele é defensor da doutrina e do santo ofício.
O cardeal ultraconservador norte-americano Raymond Leo Burke tem 76 anos e é o Prefeito Emérito do Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica. Tornou-se Cardeal em 2010, nomeado pelo papa Bento XVI, e é o principal candidato dos conservadores. Setores da imprensa falam que ele é o candidato do lobby americano. Se eleito, fará um desmonte nas reformas que Francisco fez, seria mais duro do que João Paulo II, defensor da missa tridentina e das pompas clericais.
Cardeal Péter Erdő, de 72 anos, é arcebispo de Budapeste desde 2003. Ele foi indicado ao cargo pelo papa João Paulo II, e na época de sua nomeação era um dos mais jovens cardeais, com 51 anos. Erdő tem prestígio dentro da Igreja Católica, tendo atuado como relator do Sínodo dos Bispos da Família em 2014 e comandado a Assembleia Geral dos Bispos no mesmo ano. Um teólogo refinado, esse é o principal candidato dos conservadores moderados, seria um Bento XVII. Se eleito, é a continuidade dos pontificados de João Paulo II e Bento XVI, haveria uma mudança de rota na Igreja.
Na minha análise, Francisco já deve ter indicado quem é seu sucessor favorito para continuar suas reformas. Também por senso de justiça, neste artigo farei análise de três Cardeais Progressistas. Coloco na lista um Sul-Americano por fazer parte da Pan-Amazônia e pelo fato de ter participado do sínodo para Amazônia, um dos principais eventos da Igreja no tempo de Francisco: o nome do Cardeal Leonardo Steiner. Ordenado padre em 1978 pelo Cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, foi nomeado bispo em 2005 para a Prelazia de São Félix do Araguaia (conviveu com Dom Pedro Casaldáliga), tem uma longa trajetória na Igreja Católica e na Amazônia. Sua nomeação como Arcebispo de Manaus em 2019 e, posteriormente, como Cardeal, ressalta a importância da Amazônia na Igreja Católica. Dom Leonardo já se manifestou em diversas ocasiões, inclusive na ONU, em defesa dos povos indígenas. O que pesa contra ele: Francisco já é um Papa que saiu da América do Sul.
O Cardeal Matteo Maria Zuppi, de 69 anos, é Arcebispo de Bolonha, Itália. O italiano foi indicado ao cargo pelo papa Francisco em 2015, que também o nomeou para ser Cardeal em 2019. Hoje, também ocupa o cargo de chefe da Comissão Episcopal Italiana. Pertence à ala progressiva no Vaticano. Ele vê como necessárias as reformas na Igreja Católica, seria um Francisco II. É comum ver o Cardeal Zuppi em sua bicicleta tanto em Bolonha como aos redores do Vaticano. Um nome que vem com muita força e indicado por todas as fontes como sucessor de Francisco. Portanto, acredito que o próximo papa não virá da América Latina ou América do Norte, nem da África e nem da Europa, por mais que seja um dos fortes candidatos. O Cardeal Zuppi ganhou força nos últimos dias. Há que se destacar que o último Papa italiano foi o Cardeal Albino Luciani.
O nome forte da diplomacia com experiência vem da Ásia: Cardeal Luis Antonio Tagle. Filipino de 67 anos, tem ideais progressistas, filho de mãe chinesa. Foi Arcebispo de Manila, Filipinas. Luis Tagle foi convidado em 2019 pelo papa Francisco a viver em Roma e ocupar o cargo de pró-prefeito do Dicastério para a Evangelização, que ocupa até hoje. Foi chamado de "Francisco asiático". O Papa elevou Tagle à posição de bispo/cardeal em 2020, indicando que ele poderia ser um possível sucessor ao papado. Tagle é um refinado teólogo de posições semelhantes às de Francisco sobre os rumos da Igreja Católica. Sendo Papa ou Cardeal, Tagle cumpre o principal papel no Vaticano para ser o conciliador e a cabeça de ponte entre o Vaticano e a China. A diplomacia passará por este cardeal.
Ressalto que o Papa será um cardeal que estará na faixa dos 60 e 70 anos; esses mencionados, sobretudo os progressistas, estão nesta idade mediana. O próximo Papa não será jovem demais e nem muito idoso, acima dos 80 anos. Quarta-feira, dia 07 de maio, iniciará a eleição de mais um Papa que poderá vir do Sul Global e de suas mudanças necessárias na geopolítica, sendo possível que venha da Ásia.
Bibliografia.
https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2025-04/conclave-historia-idade-media-futuro-eleicao-pontefice.html.
https://www.cnbb.org.br/o-concilio-vaticano-ii/atigo do Cardeal Orani João Tempesta, Arcebispo do Rio de Janeiro - RJ.
Consistório Ordinário Público para a criação de novos Cardeais (7 de dezembro de 2024).
Discurso de Paulo VI em Bogotá, na celebração eucarística do Dia do Desenvolvimento), 23dehttps://pjmp.org/subsidios_arquivos/cnbb/Medellin-1968-2CELAM PORTUGUES.pdf agosto de 1968, pg- 13).
Freibetto.org) entrevista para o canal no youtube "tutameia em 25 de abril de 2025".
Querida Amazonia”: Exortação Apostólica pós-sinodal ao povo de Deus e a todas as pessoas de boa vontade (2 de fevereiro de 2020.
"Laudate Deum": Exortação Apostólica a todas as pessoas de boa vontade sobre a crise climática (4 de outubro de 2023.
Evangelii Gaudium": Exortação Apostólica sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual (24 de novembro de 2013).
CONSTITUIÇÃO DOGMÁTICA LUMEN GENTIUM SOBRE A IGREJA.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.




