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A guerra às drogas é um tremendo sucesso

A chamada guerra às drogas, este dispositivo de poder, é uma das maneiras de governar as relações desiguais entre os países do hemisfério. Ela garante a predominância da repressão, da militarização e da continuidade em detrimento do cuidado, da articulação entre os países e de uma solução mais plausível

Policiais Militares(BOPE,Choque,Canil, 16� e 3�BPM) relizaram uma opera��o de combate ao tr�fico de drogas na favela do Jacarezinho e prenderam Paulo Sergio Fernandes(cabelo vermelho) e Jorge Henrique, al�m de farta quantidade de armas e drogas. (Foto: Danillo Bragança)
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Não, é claro que não é. A guerra às drogas pelo prisma humano é uma catástrofe.

Em um hemisfério com poucas disputas territoriais de grande escala como este o nosso, o maior problema de defesa e segurança que aqui se apresenta é o narcotráfico e o crime organizado transnacional. Governos de toda a região se desdobram em políticas repressivas contra 1) o consumo de substâncias entorpecentes e 2) os grupos econômicos de maior ou menor complexidade que se montam para garantir a demanda pela droga.

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Uma complexa rede internacional se forma, visto que o negócio que é extremamente lucrativo. Os dois maiores consumidores de cocaína e crack no planeta estão nesta parte do hemisfério, os Estados Unidos e o Brasil. O consumo de heroína explode na fronteira entre México e Estados Unidos, e os níveis de violência não cedem, não diminuem.

As cidades mais violentas do planeta estão aqui, mais de quarenta entre as cinqüenta mais. Países produtores, países que se especializam na circulação e países consumidores fazem parte desta rede onde a responsabilidade é comum, ainda que não compartilhada. Evidente que somente estratégias comuns, de integração entre os países americanos, poderia criar soluções permanentes para o problema.

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Mas veja que é aqui que a guerra às drogas se torna um sucesso.

A questão mais importante para a política é: como governar? Mais uma vez, parece que o componente humano se perde no meio das tensões do poder. Nas relações desiguais entre os Estados do hemisfério, as tensões de poder sempre existirão. A colaboração é necessária, se deseja a cooperação entre os Estados. Os povos têm culturas similares, e é possível se reconhecer no outro na América do Sul, na América Central e do Norte.

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O que diferem, no entanto, são as estratégias de poder. As pretensões de dominação hegemônica de um sobre o outro são o que as relações internacionais dizem ter de mais natural, mas servem aos interesses de como governar. A percepção enviesada do que são as relações entre os Estados, de que elas são basicamente relações de poder que precisam ser desiguais, por vezes, violentas, não é natural, mas encontra no desejo hegemônico o seu espaço de ação.

Como governar hegemonicamente todo um hemisfério? Quer dizer, como garantir que Estados médios e menores tenham adesão a um projeto de poder que vem de fora, de um país mais forte? Historicamente, a solução é a violência. Mas dado que hoje a violência entre Estados se tornou indesejável, como governar um hemisfério?

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Homens como Michel Foucault e Giorgio Agamben se debruçaram sobre isso. Segundo eles, o Estado foi criando dispositivos para controlar aquilo que a violência explícita não poderia mais garantir. Num primeiro momento, criaram-se instituições disciplinares, e enquanto o desafio de governar aumentava, aumentava também a complexidade destes dispositivos.

É possível dizer que eles internacionalizaram. A chamada guerra às drogas, este dispositivo de poder, é uma das maneiras de governar as relações desiguais entre os países do hemisfério. Ela garante a predominância da repressão, da militarização e da continuidade em detrimento do cuidado, da articulação entre os países e de uma solução mais plausível.

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O tempo é curto aqui para apresentar soluções para o problema. O livro "Narcotráfico, Soberania e Relações Internacionais no México" (Gramma Editora), lançado este ano, consegue desenvolver melhor essas possibilidades. Mas as conclusões são claras.

A guerra às drogas é um fracasso retumbante pelo ponto de vista humano. Milhares de vidas jogadas fora, proporcionais ao tamanho do investimento que a mantém, e não a resolvem. Mas é um sucesso na manutenção das enormes desigualdades sociais, das disparidades das relações sociais, da violência policial, da repressão estatal e do governo hegemônico em âmbito hemisférico.

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A solução não é muito evidente. Mas passa inevitavelmente pela flexibilização da penalização sobre consumo individual, o controle da produção e circulação -- inclusive com a taxação de impostos – e o financiamento de serviços públicos de qualidade.

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