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Andrew Korybko

Mestre em Relações Internacionais pelo Instituto Estadual de Relações Internacionais de Moscou. Autor do livro Guerras Híbridas – Das Revoluções Coloridas aos Golpes(Expressão Popular).

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A guerra de 165 bilhões de dólares

Para justificar os gastos elevados numa guerra que a Ucrânia não pode vencer, membros da OTAN podem se envolver diretamente no conflito

Um soldado tira uma foto de seu companheiro enquanto ele posa ao lado de um tanque russo destruído e veículos blindados, em meio à invasão da Rússia na Ucrânia em Bucha, na região de Kiev, Ucrânia 2 de abril de 2022 (Foto: REUTERS/Zohra Bensemra)
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(Publicado no site A Terra é Redonda)

O ex-secretário geral da OTAN, Anders Rasmussen, previu que “se a OTAN não conseguir definir um direcionamento claro acerca da Ucrânia, existirá uma possibilidade real de alguns países agirem individualmente”. Ele então especulou que “os poloneses considerariam seriamente entrar no conflito e montar uma coalizão dos dispostos caso a Ucrânia não consiga nada em Vilnius”. Por mais surreal que isso soe, esta mesma previsão havia até então sido difamada como “propaganda russa” por entidades oficiais da União Europeia.

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A Força Tarefa East StratCom (ESCTF), que faz parte do Serviço Europeu de Ação Externa, tem um projeto chamado “EUvsDisinfo”, onde se desmascaram ditas “propagandas russas”. Eles têm afirmado com regularidade que o cenário específico previsto pelo ex-chefe da OTAN é uma “recorrente narrativa de desinformação pró-Kremlin”, sugerindo assim que Anders Rasmussen é uma “marionete russa”. A ESCTG, é claro, não pretendia desacreditá-lo e provavelmente irá recalibrar sua narrativa à luz de suas recentes palavras.

Não obstante, a questão é que o mesmo exato cenário, que foi anteriormente taxado de “recorrente narrativa de desinformação pró-Kremlin”, agora está ganhando credibilidade por ninguém menos do que o líder do bloco militar anti-Rússia dos Estados Unidos. Isso justifica os repetidos alertas do chefe do Serviço Russo de Inteligência Estrangeiro, Sergey Naryshkin, desde o início da operação especial deste país, de que a Polônia está armando uma intervenção militar na Ucrânia.

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Considerando a maneira com que a narrativa Ocidental sobre este cenário evoluiu no último ano, pode-se concluir que existe uma chance real de que ele aconteça num futuro próximo, o que, naturalmente, leva à questão acerca do que mudou para provocar tal inversão. O sucessor de Anders Rasmussen, Jens Stoltenberg, declarou em fevereiro que a OTAN está em uma “corrida logística”/“guerra de desgaste” com a Rússia, implicando que a produção militar/industrial desta última é equivalente à dos 31 países-membros do bloco.

A vitória russa na Batalha de Artyomovsk provou que a dinâmica supracitada está tendendo a seu favor, o que é um mal presságio para a contraofensiva de Kiev apoiada pela OTAN. É precisamente porque as chances de sucesso estão se amontoando contra si que este regime fascista explodiu a barragem de Kahkovka, em um gesto desesperado para dividir a atenção dos defensores de modo a facilitar um avanço nas linhas de fronteira. Também há uma chance de que ele possa expandir o conflito para Belarus e/ou para a Moldova pelos mesmos motivos.

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Caso estes gambitos falhem e a contraofensiva de Kiev apoiada pela OTAN não seja capaz de superar o impasse em que este conflito se encontra desde a metade do último ano, então o Ocidente terá que fazer algo diferente para convencer seu eleitorado de que continuar nesta guerra de proxy de 165 bilhões de dólares vale a pena. Aqui reside a importância do progresso significativo da inclusão da Ucrânia na OTAN na cúpula do próximo mês, exatamente como Anders Rasmussen sugeriu, para que isso seja visto como uma importante derrota da Rússia.

O secretário de defesa do Reino Unido, Bem Wallace, afirmou ao jornal Washington Post, em uma entrevista recente, que “temos que ser realistas e dizer que [a inclusão da Ucrânia na OTAN] não acontecerá em Vilnius; ela não acontecerá no futuro próximo”, algo que até mesmo o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, relutantemente reconheceu como verdade. Por este motivo, o presidente francês, Emmanuel Macron, sugeriu, em vez disso, estender as garantias “tangíveis e críveis” de segurança àquela ex-república soviética.

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Mesmo se uma série de pactos de defesa mútua, de espírito semelhante àqueles que os EUA firmaram com a Coreia do Sul logo após o armistício, for acordada, pode ainda não ser o suficiente para satisfazer as demandas do público Ocidental, tampouco aquelas dos defensores ucranianos de Volodymyr Zelensky. A Polônia, que almeja se tornar uma nação hegemônica regional na Europa Central e do Leste, poderia então assumir a liderança na organização da “coalizão dos dispostos” que Rasmussen previu, de modo a expandir de facto o guarda-chuvas nuclear da OTAN sobre a Ucrânia.

A presença formal das tropas dos Estados convencionais da OTAN naquele país pode inspirar confiança em qualquer pacto de mútua defesa de tipo coreano que pode logo ser oferecido pelos membros do bloco à Ucrânia na cúpula do próximo mês. Além disso, ela também pode servir para congelar a Linha de Contato (LOC), detendo os ataques russos por meio do receio de que eles desencadeiem indiretamente o Artigo 5, caso aquela aliança de forças seja ferida como resultado de quaisquer ações que o Kremlin tome, incluindo as de autodefesa.

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A dinâmica estratégica militar deste conflito, portanto, radicalmente se modificaria em um instante caso o cenário previsto por Anders Rasmussen se torne realidade, particularmente uma vez que a mobilização das forças dos Estados da OTAN na linha de contato pode impedir que a Rússia recue em direção à Ucrânia se Kiev expandir o conflito para Belarus e/ou para a Moldávia. No máximo, Moscou então poderia apenas esperar que eles retornassem às suas posições anteriores, em vez de procurar explorar seu potencial fracasso em manter a ofensiva nestas frentes.

Dito isso, faz todo sentido, na perspectiva dos interesses militar-estratégicos e narrativos do Ocidente, que a Polônia lidere uma “coalizão dos dispostos” em direção à Ucrânia em algum momento neste verão, especialmente se a contraofensiva de Kiev apoiada pela OTAN falhar em mover consideravelmente a linha de contato. Apesar do enorme perigo de aumentar as chances de uma guerra quente entre a Rússia e a OTAN por erros de cálculo, estes líderes parecem ainda preferir jogar os dados em desespero para conquistar qualquer coisa que possa ser apresentada como uma “vitória”.

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A Rússia previu exatamente este cenário um ano atrás, mas foi apenas recentemente que alguém mais do que a Polônia demonstrou interesse em vê-lo acontecer. O Ocidente difamou esta previsão até agora, acusando-a de “propaganda russa” para enganar sua audiência e fazê-la acreditar que nada de semelhante estava sendo planejado, só para, agora, o ex-chefe da OTAN prever exatamente o mesmo que a Rússia previu. Tudo está se movendo muito rápido no sentido da realização desta previsão em um futuro próximo, muito embora isso também não seja algo garantido.

Tradução: Daniel Pavan.

(Publicado originalmente na newsletter do autor.)

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