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Carlos Alberto Mattos

Crítico, curador e pesquisador de cinema. Publica também no blog carmattos

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A guerra de um homem

Em quase três densas horas, "Onoda, 10.000 Noites na Selva" relata a história paranoica do "último soldado" japonês a se render depois da II Guerra

(Foto: Divulgação)
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O tenente Onoda Hiroo ficou conhecido como "o último soldado" japonês por se recusar a acreditar no fim da II Guerra até 1974. Durante 29 anos ele permeneceu clandestino nas selvas da ilha filipina de Lubang, aguardando que seu superior imediato lhe mandasse a ordem de rendição. Um comportamento paranoico, gerado pela perda do senso de realidade em escala patológica.

Sua história é contada na produção francesa Onoda, 10.000 Noites na Selva (Onoda, 10.00o Nuits dans la Jungle), clássico exemplo do modelo "guerra de um homem". O diretor Arthur Harari partiu do livro autobiográfico de Onoda, mas alega que não se ateve ao pé da letra. Preferiu construir o filme como a lembrança de alguém de fora, ou seja, um narrador onisciente.

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O perfil do tenente é construído por algumas poucas indicações psicológicas. Contra a orientação do pai para se matar caso caísse em mãos inimigas, ele acata a recomendação de seu mentor militar, o Major Taniguchi: "Você não tem o direito de morrer". Piloto frustrado por sofrer de tonturas, ele é enviado às Filipinas para liderar um pequeno batalhão especial que deveria fustigar os aliados até que o exército imperial conquistasse aquele território. 

Em quase três densas horas, acompanhamos a redução do grupo até ficarem somente quatro integantes, e depois apenas dois. Eles sobrevivem à fome, às doenças e aos temporais roubando víveres dos camponeses filipinos, morando em cabanas improvisadas e tecendo teorias absurdas sobre o andamento de uma guerra que já havia terminado há muito tempo. Criam toda uma geopolítica imaginária e fantasiam códigos e mensagens cifradas. Ao botar as mãos em jornais e num rádio de pilha, já nos anos 1950, Onoda entende que todas as informações foram inventadas pelo inimigo para enganá-lo. 

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Por fim, sozinho na selva, já não podemos saber se ele ainda acreditava em suas convicções de "resistência total" ou apenas se entregava a uma ideia de missão convertida em loucura. A síndrome é bem japonesa, composta por orgulho patriótico, uma noção de honra suicida e um fascismo interior que leva à obediência mais cega. 

A saga de Onoda, como contada na tela, tem um quê de improvável. Roupas, pilhas de rádio e munições dificilmente resistiriam por décadas da forma como aparecem. Afora isso e uma edição um tanto complacente na duração, o filme impressiona pelo estilo robusto e a verossimilhança das locações no Camboja. 

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Depois de sua rendição, em 1974, Onoda Hiroo viveu por 40 anos no Mato Grosso (do Sul) ao lado de um irmão. Morreu em 2014, aos 91 anos. Consta que, na verdade, Onoda foi o penúltimo soldado japonês a se render. Teruo Nakamura "resistiu" por mais sete meses do que ele, na atual Indonésia. 

>> Onoda, 10.000 Noites na Selva está na plataforma Reserva Imovision

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O trailer:

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