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Osvaldo Bertolino

Jornalista e escritor

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A guerra entre Moro e Bolsonaro, plim plim por plim plim

Grupo Globo, seguido por grande parte da mídia, tenta manter a versão de que o traque é uma bomba poderosa

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A novela folhetinesca da Globo com o vídeo da acusação do ex-ministro da Justiça Sérgio Moro contra o presidente da República Jair Bolsonaro visivelmente perde audiência. O que foi apresentando como “bomba política” – conforme descrição de Merval Pereira, colunista dos Marinho no jornal O Globo – tem gerado muita fumaça e quase nenhum fogo.

Desde que Moro deu aquela entrevista pirotécnica para anunciar sua saída do governo, a gangorra entre os fatos e as versões não para de se movimentar. O Grupo Globo tentou tirar leite de pedra, mas, fora os efeitos especiais da novela, não apareceu nada de novo. Nem o esperado depoimento do ex-ministro à Polícia Federal (PF) conseguiu sustentar a sua versão bombástica na despedida do Ministério da Justiça.

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Salvo algo vindo do Imponderável de Almeida – figura usada pelo jornalista, escritor e teatrólogo Nelson Rodrigues para justificar algo inesperado no futebol –, é improvável que novos fatos surjam para dar veracidade às versões. O que se tem, até o momento, é uma história em círculo, com muitos personagens e enredo paupérrimo.  

Enquanto a novela vai perdendo audiência, Bolsonaro dá os seus pulos. Sua performance no famoso ritual de entrevistas quase diárias nos arredores do Palácio do Planalto na quarta-feira (13) mostrou que ele sabe jogar no tabuleiro de sordidez do projeto de poder eleito em 2018. Num determinado momento, quase aos gritos e soltando um de seus proverbiais palavrões, ele novamente conclamou os mais pobres à morte, pedindo para que deixem eles  trabalhar.

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A leitura dos que não têm onde se socorrer é de que existe alguém impedindo a “busca do pão de cada dia”, como disse Bolsonaro em outra ocasião. Quem seria? Só pode ser os que defendem o isolamento social e o fechamento das empresas para evitar a propagação desenfreada do coronavírus. E, para o bolsonarismo, esses “irresponsáveis” – como dizem o presidente e seus asseclas – têm nomes e estados bem definidos.

Arma-se, nesse xadrez, a guerra suja em curso, com os governadores e prefeitos no fogo cruzado. A movimentação das peças passa pela sobrevivência da população mais vulnerável à crise econômica. O ponto é: se o isolamento social for para valer, então é preciso garantir que ninguém será privado dos gêneros necessários à sobrevivência. Não tem como pedir para essas pessoas manterem-se isoladas e com fome crônica. Nessa sinuca de bico, o bolsonarismo tende a levar vantagem.

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No fundo, as duas facções em guerra estão diante do dilema sobre os rumos da economia. A da Globo, que tenta manter Moro e sua corrupta Operação Lava Jato (agora com variações, como no enfrentamento com Bolsonaro no caso da troca da direção da PF) na ativa, ainda não conseguiu organizar um movimento político para dar sustentabilidade ao programa rentista do ministro da Economia, Paulo Guedes. Bolsonaro reiterou a carta branca ao seu ex-Posto Ipiranga, mas até agora não conseguiu apresentar algo de novo para enfrentar o desastre econômico à vista.

O impasse está nesse ponto. Como tudo é movimento no mundo das coisas materiais, essa disputa vai evoluir para algum desfecho. Nenhuma das duas facções apresenta soluções efetivas para o drama do povo. Não se vê, na Globo e seus satélites – a mídia, de maneira geral –, uma cobrança efetiva para que o governo cumpra as leis, novas e velhas, que determinam medidas emergências para situações como essa da Covid-19.

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Está aí, também, um desafio para a frente ampla contra Bolsonaro. Nela, o conceito de unidade e luta é absolutamente determinante. Ou seja: ao mesmo tempo em que se combate Bolsonaro, por meio da ilimitada aglutinação de forças que advogam essa tática, ela precisa ser flexível no aspecto da luta em frentes específicas, como a defesa do emprego, do salário e da renda de uma maneira geral.

Imponderável de Almeida

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O episódio do vídeo segue rendendo sordidez de parte a parte. A troca de chumbo alimenta a já fraca audiência da novela, mas tem se revelado apenas o conhecido mais do mesmo. Dificilmente sairá algum coelho desse mato infestado de raposas.

Claro, sempre é possível sair alguma coisa de onde menos se espera. Mas a regra, segundo dizia o Barão de Itararé, é de que de onde menos se espera é que nada sai mesmo. O episódio vem sendo incensado pelo Grupo Globo e seus satélites da mídia como instrumento de desgaste de Bolsonaro, certamente preparando algo que vai muito além da proclamada defesa do interesse público.

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Não é de hoje que Bolsonaro se incompatibilizou com os setores dominantes que não tinham ele e seu séquito como opção do pós-impeachment fraudulento, golpista, contra a ex-presidenta da República Dilma Rousseff. Como disse o ex-ministro da Ciência e da Tecnologia do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Roberto Amaral, Bolsonaro montou no cavalo encilhado que passou à sua frente.

Os golpistas não tinham um projeto de poder delineado. Assim como não tinham no golpe militar de 1964 e no processo que impediu Lula de ser eleito presidente em 1989. No regime militar, foram feitos diversos arranjos políticos, muitas vezes com fraturas profundas.

No pós-1989, o fracasso de Fernando Collor de Mello na Presidência da República possibilitou a eleição e a reeleição de Fernando Henrique Cardoso (FHC) com base no combate à inflação, encenação para a aplicação do perverso projeto neoliberal.

Na ditadura, o chamado “milagre econômico” impulsionou a economia e depois cobrou um alto preço com a crise da dívida externa. Na “era FHC”, o combate à inflação também legou uma dívida monstruosa, essa interna. Em ambos os casos, a mentira econômica sustentou o regime, não um projeto efetivo de poder.

No pós-golpe de 2016, não se viu nenhuma medida com esse teor. O que seria a “ponte para o futuro” propagada por Michel Temer antes da usurpação do cargo presidencial por meio da fraude do impeachment, se revelou mera reedição de ideias antigas, que ficaram conhecidas tanto no regime militar quando na “era neoliberal”. Mas o surgimento de algo que pudesse ser apresentado como repetição do “milagre econômico” e do combate à inflação não aconteceu.

Paulo Guedes chegou com essa promessa no arranjo que uniu o bolsonarismo e o lavajatismo. Era a tábua de salvação da direita. Mas, com sua enrolação para justificar a ausência dos resultados prometidos com as “reformas” e o arrocho orçamentário da Emenda Constitucional do teto dos gastos públicos, acabou se desgastando, apesar de ser, ainda, o cimento que sustenta o arranjo eleito em 2018.

É aí que está o nó da questão. Não tem nada de moralidade ou coisa que o valha, como apregoa o Grupo Globo e seus arredores ao insistir no vídeo que virou novela. Óbvio, como disse Roberto Amaral, deve-se bater em Bolsonaro independente das batidas do Grupo Globo. O alvo é Bolsonaro. Mas, na lógica da frente ampla, não se pode deixar de constatar que cada setor tem o seu foco de atuação. O binômio unidade e luta é o que dá base para a sua consistência.

Traque e bomba

As tensões políticas no país se avolumam rapidamente. O presidente Jair Bolsonaro, já um fantasma que ronda o terceiro andar do Palácio do Planalto – onde fica a cadeira da Presidência da República –, assombra o país com ameaças e gritos, mas se mostra incapaz de encontrar um caminho para seguir em frente. Bolsonaro se transformou numa figura isolada, mergulhada em seus devaneios e disposta a reagir como fera acuada.

Até onde ele pode levar a sua aventura ainda é um ponto de interrogação. O que lhe resta de apoio efetivo se limita às suas milícias, que atuam em frentes como os subterrâneos da marginalidade social, as seitas que traficam a fé e o crime organizado nas redes sociais. Seu governo está infestado de tresloucados, além de alguns militares ainda fiéis a ele. 

Em busca de respaldo, já se fala abertamente em compra de apoio no Congresso Nacional. Mas a operação tem se mostrado difícil, tal o grau de descrédito de Bolsonaro. Ninguém se arrisca a apostar alguma ficha no futuro do seu governo, o que vai lhe deixando como única alternativa se lançar em aventuras contra as instituições, criando no país uma situação de convulsão política, que eventualmente possa lhe favorecer.

As probabilidades de sucesso nessa empreitada são mínimas. Para ter sucesso, Bolsonaro precisa vencer os demais Poderes da República – o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF) –, as organizações que representam a sociedade, os movimentos sociais e a quase totalidade da mídia. É muita guerra para pouca munição. Mesmo o apelo às Forças Armadas não encontra eco, conforme disse recentemente o ex-ministro da Defesa, Aldo Rebelo.

O grande problema para Bolsonaro é a formação de um processo político com força para sustentar seu projeto de poder. O bolsonarismo chegou ao governo cavalgando o lavajatismo, impulsionado pela mídia, sobretudo o Grupo Globo. Ou seja: ele entrou em um barco que navegava desde a farsa do “mensalão”. Sem esse lastro para se manter no poder, só lhe resta se voltar para as suas históricas bases de apoio – os agrupamentos milicianos que agora se manifestam como se a chegada de Bolsonaro à Presidência da República fosse por seus méritos.

Essas debilidades do bolsonarismo não significam que o projeto de poder eleito em 2018 está debilitado. Basta ver o jogo pesado do Grupo Globo em torno da barulhenta saída do ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro, do governo. O estardalhaço feito em torno das suas delações contra Bolsonaro dava a entender que ele estava de posse de uma bomba de alto poder de destruição. Quando tudo veio a público, o que se viu foi um traque.

Mas o Grupo Globo, seguido por grande parte da mídia, tenta manter a versão de que o traque é uma bomba poderosa. “O depoimento é uma bomba política, que só desmoralizará quem não quiser investigar”, escreveu Merval Pereira, porta-voz dos Marinho, em sua coluna no jornal O Globo. O caso pode não dar em nada, mas reforça as acusações que pesam contra Bolsonaro, de consequências políticas imponderáveis.

Moro não saiu do governo à toa, pelos motivos que foram espalhados pela mídia. Aldo Rebelo, na mesma entrevista, diz que Bolsonaro possivelmente estava com medo de que a Polícia Federal fosse usada contra ele, como ocorreu com seus antecessores. Segundo ele, quem mais usou a Polícia Federal foi Moro, não Bolsonaro, que tinha receio desse uso. Ou seja: o projeto de poder que levou Bolsonaro de carona à Presidência da República segue operando intensamente.

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