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A hipocrisia, a miopia e “um jantar brasileiro”

Temos ainda muito que caminhar para reparar anos e anos de um Brasil que não soube abolir, de fato, a escravidão

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No dia 20 de novembro, data do falecimento do líder negro Zumbi dos Palmares, foi comemorado o "Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra". Essa data tem por objetivo relembrar a luta heroica dos negros contra a escravidão, luta essa que, definitivamente, não se encerrou em maio de 1.888, quando foi assinada a Lei Áurea pela princesa Isabel.

A escravidão foi abolida há mais de um século, mas até hoje convivemos com o preconceito, o racismo e o egoísmo de uma sociedade que ainda resiste em dar oportunidades a pessoas que não possuem apenas a cor da pele diferente, mas um histórico de gerações e gerações vividas sob a égide da injustiça e da desigualdade.

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Essa situação é agravada quando constatamos que o preconceito no Brasil é mascarado pelo mito da "democracia racial", ou seja, pelo cinismo e pela hipocrisia de pessoas que se recusam a olhar em volta e enxergar, por exemplo, a proporção de brancos, negros e pardos nas escolas particulares que dão ensino de excelência, de forma a garantir a vaga do aluno em alguma Universidade pública e, paralelamente, enxergar a proporção de brancos, negros e pardos passando uma temporada em alguma instituição penal para menores infratores.

Ora, basta deixar de olhar com os olhos míopes do preconceito para chegar à conclusão de que a "democracia racial" no Brasil é uma grande e mal contada mentira! Ninguém se considera racista, mas é fácil encontrar pessoas que conhecem pessoas que, de forma explícita ou velada, têm preconceito. Ninguém tem preconceito no Brasil, mas muitas pessoas consideram "racista" a política pública das cotas por intermédio da qual o jovem branco, que estudou na melhor escola particular, concorra em desigualdade com o jovem negro ou pardo (e pobre, o que é quase um sinônimo), que teve uma péssima formação escolar.

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Será mesmo racismo o Poder Público tratar brancos e negros de forma desigual por estarem em situações absolutamente desiguais, na exata medida da sua desigualdade? A resposta positiva a essa pergunta, dada de forma equivocada por muitos, revela que o problema da desigualdade no Brasil não é apenas social, mas está intimamente relacionado com a cor da pele.

Daí a importância de comemorarmos e divulgarmos essa data tão significativa para, a partir da conscientização de todos, removermos paradigmas ultrapassados que impedem um incremento mais célere das políticas públicas de ações afirmativas e atrapalham a aceitação dessas políticas por parte da população.

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O francês Jean-Baptiste Debret pintou uma tela que retrata a desigualdade social existente no Brasil colonial em que os negros, famintos, serviam uma mesa farta aos seus senhores, que distribuíam migalhas aos pequeninos filhos de escravos. Embora tenha sido pintada em 1827, a tela ainda é atual por mostrar não apenas o estilo de vida desigual dos brancos e negros, mas, principalmente, a mentalidade de muitos que não aceitam que o Estado brasileiro, ao invés de migalhas, proporcione aos negros a oportunidade de sentar à mesa e provar do prato principal.

Temos ainda muito que caminhar para reparar anos e anos de um Brasil que não soube abolir, de fato, a escravidão e permaneceu durante muito tempo com as portas das oportunidades fechadas para os negros. A grave omissão do Estado brasileiro, que durante décadas lavou as mãos e deixou que a injustiça e a desigualdade prevalecessem, resultou nesse cenário e isso não será alterado com com sorrisos, discursos e tapinhas nas costas. Somente com políticas públicas efetivas, ou seja, com as chamadas ações afirmativas, é que iremos alcançar um País que seja de realmente de todos.

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Dia 20 de novembro é dia de comemorar os avanços já obtidos com as políticas públicas compensatórias tomadas pelo Estado brasileiro, com destaque para as cotas nas Universidades e no serviço público, mas também para reafirmar que não está tudo bem. Com coragem, esperança e obstinação, sigamos em busca de um País mais inclusivo, plural e solidário.

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