A hipocrisia de estreia de Alexandre Borges
Alexandre Borges produz um texto que engessa as operações da Polícia Federal e reduz sua capacidade de enfrentar o crime organizado
O UOL se supera a cada dia. Agora decidiu contratar Alexandre Borges como colunista. Que bom. Assim, a máscara daqueles que tentam disfarçar sua ideologia sob o véu de falsas análises começa a cair. Borges, um profissional com passagem por veículos sabidamente engajados no projeto político da direita – Gazeta do Povo, Antagonista e Jovem Pan estão aí como currículo - chega para dizer, muito provavelmente, aquilo que a família Frias gostaria de dizer sem assumir a autoria.
E em sua coluna de estreia ele não poderia ter abusado mais do cinismo e dos sofismas. Desfila uma suposta preocupação com os despossuídos para, na verdade, defender o relatório do deputado e secretário de Tarcísio de Freitas, Guilherme Derrite - um texto que engessa as operações da Polícia Federal e reduz sua capacidade de enfrentar o crime organizado. Em outras palavras: uma blindagem explícita às facções.
Do alto de seu palanque recém-inaugurado, Borges tenta vender a ideia de que o PT e a esquerda teriam alguma dificuldade em tratar de segurança pública. Se fosse analista - e não torcedor -, e se possuísse um mínimo de honestidade intelectual, admitiria algo simples: a esquerda vê de forma diferente, sim, o caminho para enfrentar o crime. Ele também reconheceria que a política de segurança defendida por seus parceiros ideológicos fracassa fragorosamente no combate ao PCC em São Paulo e ao Comando Vermelho no Rio de Janeiro.
O crime nesses estados não apenas cresce: expande seus tentáculos para diversos setores. Postos de gasolina, fintechs, organizações sociais que atuam na privatização de serviços em prefeituras, adulteração de bebidas. Atua, inclusive, como sócio no exercício do poder. Ou não era exatamente esse o papel do deputado bolsonarista TH Joias no governo Cláudio Castro? A forma como a direita enxerga segurança pública é um desastre - e os números comprovam isso.
Mas o cinismo de Borges - não me refiro, claro, ao poeta - o impede de dizer que seus aliados ideológicos protegem, acolhem e blindam justamente os que garantem a circulação do dinheiro do crime. Ele não diz que o projeto defendido pela esquerda aposta na asfixia econômica e logística das facções. E que é no andar de cima - na Faria Lima, nos condomínios de luxo, nos palácios que protegem políticos espalhados pelo país - que se deve cortar o oxigênio que alimenta o crime organizado e, exatamente, onde mira o projeto de enfrentamento ao crime organizado defendido pela esquerda.
A estreia de Alexandre Borges no UOL não poderia ser mais reveladora. Ele escancarou que não está ali a passeio. Chega com objetivo, método e missão: defender sua visão de mundo e sua ideologia sem disfarce. É um direito seu - e dos Frias. Viva a democracia!
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.




