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Edmar Antonio de Oliveira

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A Ilha dos Sapatos: uma metáfora sobre o marxismo

"Depois de algumas semanas, o investigador se reuniu com os habitantes da ilha e apresentou seus resultados. Explicou que o senhor João estava enriquecendo em ritmo acelerado ao passo que os demais sentiam, no máximo, uma tímida melhoria em seus salários". Confira na íntegra

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Imaginemos que exista uma ilha completamente isolada. Neste local, só existe uma indústria que se dedica somente à produção de sapatos. Os sapatos, por sua vez, são vendidos para outras ilhas e dados como pagamento aos trabalhadores e fornecedores da indústria. A Ilha dos Sapatos, como ficou conhecida devido ao seu principal (e único) produto de exportação, no entanto, é autossuficiente, com todos os itens necessários para a produção disponível em seu território.

Todos os habitantes, contribuem de alguma forma, direta ou indiretamente, para a produção de sapatos. Existem os fazendeiros, que criam o gado para o couro, os mineiros que extraem o ferro e outros minerais, os ferreiros que constroem os equipamentos, os mecânicos que constroem as máquinas e lhes dão manutenção, os pedreiros que construíram a usina hidroelétrica, os trabalhadores que atuam diretamente na indústria transformando o couro, costurando, montando, etc. Existe também o proprietário da indústria, o senhor João, que se dedica a gerir o negócio.

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Como se pode perceber, o sistema econômico da ilha gira em torno da fábrica, e esta se mostra dependente de todos os cidadãos, em menor ou maior grau. Acontece que a harmônica comunidade começou a ser abalada quando a indústria passou a exportar mais sapatos. O senhor João, diante da maior demanda, comprou novas máquinas para serem operadas, dobrando a produção. A remuneração dos trabalhadores, no entanto, pouco se alterou, embora a produção tenha aumentado. 

O senhor João também passou a comprar mais insumos e matérias primas, mas o preço não sofreu grande alteração. Em pouco tempo, a produção quadruplicou e seu proprietário passou a construir mansões e comprar do exterior carros, iates, bebidas e outros itens de luxo. Isso levou os ilhéus a questionarem: como o senhor João tem enriquecido tanto, ao passo que os demais habitantes da ilha pouco ou nada melhoraram suas vidas?

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Para descobrir este mistério, os moradores locais contrataram um detetive para analisar o caso. O jovem investigador, ao se inteirar o depoimento de boa parte dos habitantes da ilha e verificar os dados da empresa, percebeu que o sapato, enquanto apenas couro, sem que ninguém o transformasse em sapato, tinha bem menos apreço que um sapato pronto, ou seja, tinha menos valor para a sociedade que o couro cru. Apenas o trabalho de transformação da indústria gerava valor para o produto diante da sociedade. Percebeu também que cada mercadoria produzida não era um produto unicamente da indústria, mas resultado de uma série de processos ocorridos na ilha. Para sintetizar sua descoberta, chamou este sistema de tempo de trabalho socialmente necessário para produzir os sapatos.

O detetive observou ainda que, embora várias pessoas trabalhassem na fábrica, em diferentes setores, toda a produção ficava sob o controle do proprietário, que decidia o destino das mercadorias, após retirar alguns pares para remunerar os trabalhadores e fornecedores. Dessa forma, embora a produção estivesse sempre crescendo em uma escala geométrica, o aumento da remuneração aos operários sempre crescia em proporção bem menor. Concluiu também que o dono do meio de produção considerava a mão de obra como mais um insumo em sua planilha contábil (embora máquinas e estoques de couro não possuam as necessidades e características inerentes aos seres humanos) e se apropriava do excedente de produção, após feitos os pagamentos. Essa era a causa de o senhor João estar ficando tão mais rico que os demais habitantes da ilha. 

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Descoberto isso, era preciso dar mais detalhes. Afinal, essa mera observação era nada mais do que um médico concluir que o paciente está doente, sem maior diagnóstico.

Assim, percebeu que a melhor maneira de medir a produção era considerando quantos itens foram produzidos pela fábrica em uma hora e verificar quanto cada trabalhador recebeu de sapatos referentes à produção nesse espaço de tempo. Para facilitar o raciocínio, chamou essa medida de valor-trabalho. Ficou admirado ao perceber que, durante uma hora, eram produzidos 100 mil pares de sapatos na fábrica, mas cada um dos mil trabalhadores recebia 200 pares de sapatos mensais como remuneração. Assim, produziam seu próprio salário em dua horas de trabalho. O restante da produção ficava com o patrão, que pagando cerca de 1 milhão de sapatos mensais em outras despesas, acumulava o restante para seu próprio uso. A essa diferença, esse excedente entre o que é produzido e o que é pago aos trabalhadores, o investigador chamou de mais-valia.

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Depois de algumas semanas, o investigador se reuniu com os habitantes da ilha e apresentou seus resultados. Explicou que o senhor João estava enriquecendo em ritmo acelerado ao passo que os demais sentiam, no máximo, uma tímida melhoria em seus salários. Isso se devia ao fato de que ele se apropriava da produção da ilha, embora todos participassem desta produção e os funcionários da indústria fossem os responsáveis pela transformação que atribui valor ao produto, demonstrando seus cálculos sobre a exploração da mais-valia no processo. 

Afirmou ainda que, apesar de boa pessoa, caso o senhor João não procedesse dessa maneira, a indústria entraria em colapso, pois é o sistema que regia todas as ilhas do mundo. Sugeriu então que os ilhéus se reunissem, rompessem com aquela ordem estabelecida na ilha e com a qual todos concordavam, e criassem uma nova ordem, discutida entre todos, onde a produção e a distribuição, não apenas dos sapatos, mas de todos o bens produzidos na ilha, fosse feita de uma maneira mais agradável para todos.

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Diante da situação, iniciou-se ampla discussão entre os moradores da Ilha dos Sapatos. Alguns concordavam com a proposta do detetive. Uma parte achava que seria melhor apenas cobrar impostos do senhor João. Outros achavam que que era hora de se mobilizar para conseguirem melhores salários. Outros achavam que nada deveria ser feito, pois viviam bem daquele jeito e não queriam correr o risco de se indispor com o senhor João. Determinada parcela acreditava que o senhor João, por ser de uma minoria étnica, e possuir identidade sexual minoritária na ilha, não deveria ser atacado, mas tido como exemplo de superação para as demais minorias. 

Depois de alguns dias de discussão, o detetive se retirou da Ilha dos Sapatos, triste por que ainda não se havia chegado a nenhuma conclusão. Soube anos mais tarde, que a discussão ainda imperava na ilha, sem chegar a nenhuma providência real, a não ser a revolta de parte dos habitantes contra seu nome e sua investigação, sendo atribuído a ele todas as mortes e tragédias que ocorreram depois daquele fatídico dia em que apresentou suas descobertas.

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