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Emir Sader

Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros

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A independência que realmente tivemos

Temos que compreender como nossa independência frustrante teve efeitos sobre o futuro do país

(Foto: Pedro Américo (1888))
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Se cumprem 200 anos de que o Brasil deixou de ser colônia. Termina o período iniciado com a invasão do território nacional pelos colonizadores.

Mas, ao contrario da grande maioria dos países latino-americanos, o Brasil não passou de colônia a República, mas de colônia a monarquia. Por que? Qual o significado dessa passagem anômala no continente.

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Na grande maioria dos países latino-americanos a independência significou a ruptura com os colonizadores, assim como o fim da escravidão. No caso do Brasil, ao contrário, a data significou a vinda da família real portuguesa ao Brasil, estreitando os laços com o país, ao abandonar Portugal às tropas napoleônicas. A Espanha, ao contrário, havia resistido a essa invasão, o que enfraqueceu o poderio militar espanhol e favoreceu sua derrota diante dos países latino-americanos.

Assim, o Brasil passou de colônia a monarquia, estreitando, ao invés de distanciar-se, dos colonizadores. A ponto que seu primeiro monarca foi o filho do monarca português. E aquela frase, que alertava que se deveria impedir que algum aventureiro se apropriasse da coroa, os aventureiros eram os brasileiros, entre eles, Tiradentes. O “independência ou morte” não remetia à independência do Brasil, mas à permanência do vinculo com Portugal. O Brasil não teve os próceres da independência como Bolivar, San Martin, O’Higgins, Sucre, entre outros, que tiveram os outros países da América Latina e do Caribe.

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Ao mesmo tempo, não terminou a escravidão no Brasil com o fim da colônia. Os dois fatores estavam intrinsecamente vinculados, conforme as analises de Caio Prado Jr. Em 1859 se decretou uma Lei de Terras, que formalizava a propriedade das terras dos que se haviam apropriado delas. Assim, quando, no final do século XIX, terminou a escravidão, os novos homens livres não tinham acesso às terras. Deixavam de ser escravos, mas seguiam sendo pobres, sem terras.

Dessa forma, a questão colonial se enlaçou com a questão étnica e com a questão socia e a nacional. O Brasil foi o país da América Latina e do Caribe que mais tarde terminou com a escravidão. E a República so foi instaurada no final do século XIX, como uma espécie de movimento militar, sem nenhum tipo de participação popular, protagonizado pelos militares.

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Do ponto de vista da dependência externa, já se havia dado a transição da dependência portuguesa para a dependência da Inglaterra, que se consolidou a partir daquele momento.

Temos que comemorar aquele tipo de independência? Temos que compreender seu significado. Compreender como aquela independência frustrante teve efeitos sobre o futuro do país.

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Em primeiro lugar, por ter estendido a escravidão por quase um século a mais. Em segundo, por não ter começado a construção do Estado nacional já no momento do fim da colônia.

Como dizia o Spinoza: Nem chorar, nem sorrir, compreender.

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