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Paulo Moreira Leite

Colunista e comentarista na TV 247

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A inexplicável volta de Ibaneis

"Com todo respeito que Moraes merece, o retorno de Ibaneis ao governo do Distrito Federal aguarda melhores explicações", aponta

Ibaneis Rocha e depredação do prédio do Senado por terroristas bolsonaristas (Foto: Reuters | Pedro França/Agência Senado)
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“Sem fazer juízo de mérito (a ser realizado em momento oportuno) e apenas em relação ao interesse da investigação e das providências cautelares, os elementos coligidos até o momento não permitem inferir que o retorno de Ibaneis Rocha ao cargo de Governador do Distrito Federal impeça o curso da colheita de provas, obstrua as investigações em andamento, coloque em risco a ordem pública ou a aplicação da lei penal“, escreveu Alexandre Moraes, quando decidiu reinstalar Ibaneis no cargo do qual fora afastado após as investigações sobre o 8/1.

Com todo respeito que Moraes merece, claramente sublinhado neste espaço, como se pode ler no artigo "Alexandre Moraes abriu uma porta da História" (28/02/2023), o retorno de Ibaneis ao governo do Distrito Federal aguarda melhores explicações.

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Publicadas pelo G1 e, mais tarde, pela revista Carta Capital, as mensagens do então governador às autoridades ao longo do 8 de janeiro, quando as forças democráticas do país se mobilizavam para enfrentar a covarde investida golpista contra o nascente governo Lula causam surpresa -- e mesmo indignação -- pelo tom apaziguador, irresponsável. É uma situação em que, literalmente, as palavras falam por si.

As 11h21 daquele dia trágico, o governador e o ministro da Justiça, Flávio Dino trocaram mensagens sobre os fatos do dia. "Situação tranquila, no momento", disse o governador ao ministro, acrescentando um arquivo em áudio de Fernando de Souza Oliveira, secretário em exercício de Segurança do DF, onde cobria as férias do titular, Anderson Torres, de férias nos Estados Unidos. Tres horas mais tarde, em nova mensagem, o governador dizia a Dino: "não há nenhum informe de questão de agressividade ligada a esse tipo de comportamento".

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"Oremos para que tudo acabe bem," reagiu o ministro, que duas horas e meia depois tentou falar com Ibaneis pelo telefone -- era o momento em que os golpistas invadiam prédios públicos da capital federal.

As 16h43, o governador escreveu ao ministro ( "Vamos precisar do Exército"), num apelo que caiu no vazio -- pois, como se sabe, as Forças Armadas estavam longe de cumprir o dever de dispersar os golpistas.Há outros diálogos espantosos. Na véspera, quando o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), escreveu que a "Polícia está um tanto apreensiva pelas notícias de mobilização e invasão do Congresso", chegando a fazer um apelo ( "pode nos ajudar nisso?"), o governador em apenas dois minutos: "já estamos mobilizados. Não teremos problemas. Coloquei toda forças nas ruas".

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Registros que refletem o comportamento de autoridades no calor dos acontecimentos cumprem uma função política insubstituível. Conforme a decisão original de Alexandre Moraes, o afastamento de Ibaneis foi fixado em 90 dias. Agora,No livro "O Ato e o Fato," onde registrou as primeiras horas do golpe de 64 no Rio de Janeiro, Carlos Heitor Cony produziu um documento único como testemunho histórico.

Suas cronicas narram o comportamento de autoridades -- e também cidadãos anonimos -- numa hora decisiva da História. Acabaram se constituindo numa primeira peça de resistência a uma ditadura que empolgou os ricaços que desfilavam de Cadillac em Copacabana, como lembra Cony, para prolongar-se por duas décadas. Permanecem muito instrutivas sobre um país onde a democracia permanece enfrquecida e ameaçada, por obra de uma classe dominante sem compromisso real como as necessidades da maioria.

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Seis décadas depois, cabe reconhecer o comportamento de um governador -- reeleito em primeiro turno -- na jornada decisiva de 8 de janeiro com base em registros cuja verdade não é possível questionar. O afastamento de Ibaneis não era uma decisão isolada. Foi confirmada dias depois no plenário do STF, por sete votos contra a dois. Apenas André Mendonça e Kassio Nunes Marques, ambos indicados por Bolsonaro, se manifestaram contra a medida.Alguma dúvida?

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