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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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A leniência de Paulo Gonet fez vicejar um Marçal

"O que Paulo Gonet está fazendo é trabalhando pela ideologia na qual acredita, a da direita", escreve Denise Assis

Paulo Gonet (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

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A colega jornalista Helena Chagas externou, hoje, no X, a sua indignação, ao escrever: “É espantoso, imperdoável, que apenas hoje, quase seis meses depois de iniciado o processo, o Conselho de Ética da Câmara vai analisar a cassação de Chiquinho Brazão, preso como mandante do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes. Depois da provável aprovação lá é que a perda de mandato irá a plenário — sabe Deus quando. Ao protelar essa decisão, qual é a mensagem que os deputados, eleitos pelo povo, passam ao país? Que não é importante punir o responsável por um crime brutal? Ou que, por ser um de seus pares, o sujeito pode tudo?”

Pode, Helena. Pode. Vimos desfilar diante dos nossos olhos, uma Carla Zambelli de arma em punho, cruzando as ruas movimentadas de São Paulo, na véspera da eleição, quando todos sabemos ser proibido o porte de arma, perseguindo um jornalista, apenas porque ele cantarolou uma música que não lhe cai bem no gosto. Vimos a mesma deputada contratar um hacker para simular um código fonte, a fim de impressionar uma plateia ávida pelo golpe, em Sete de Setembro de 2022. O que aconteceu? Nada...

Vimos um deputado jovem, subir à tribuna ostentando uma peruca loura e fazer deboche da condição de uma deputada trans. O que aconteceu? Nada...

Vimos um senador, o Marcos do Val (Podemos-ES), da ultradireita, ameaçar um ministro do Supremo Tribunal Federal com “um fim trágico”. Por fim entenda-se, morte, e por trágico compreenda-se violência. O que aconteceu? Nada...

E, voltando quase dois anos para trás, vimos um país perplexo assistir a cenas de vandalismo e terror nos dias 12 e 24 de dezembro de 2022, e outras tantas de barbárie no 8 de janeiro de 2023, porque alguém perdeu uma eleição que se pretendia democrática, mas como última cartada, em desespero, prosseguiu com o seu plano golpista, que de resto nunca foi suspenso, até os dias de hoje. Pode quem quiser descansar e achar que com uma frente ampla e alguns telefonemas de chefes de estado internacionais o poder está sob controle. Não está.

A carga que o jornal Folha de São Paulo tem feito sobre o ministro que preside os inquéritos sobre fake news e que abarca todos esses episódios pró golpe, não tem outro propósito a não ser enfraquecer o poder do STF – vide as PECs da vingança -, e abalar a estrutura de um governo que vai muito bem na economia, espetando na cara do mercado índices positivos, tal como a criação de mais 200 mil empregos, no mês anterior, mas politicamente se equilibra. 

Pode-se criar “pautas positivas” à vontade. Porém, o tecido político está esgarçado, quando do ponto de fervura da indignação crescida no auge da desrupção do 8 de janeiro, até o do anúncio de um novo presidente do Banco Central – nitidamente uma medida para acalmar o mercado, que se bandeou para os braços de um fascista, com folha corrida na Polícia-, há um espaço de tempo em que vicejou a desfaçatez e a naturalização do crime.

Houve tempo para que o encolhido Jair Bolsonaro e seus filhinhos amestrados saíssem da toca onde estavam encolhidos de medo e se arvorassem do alto de um caminhão de som na Paulista, a clamar por anistia. (Isso foi só o início da ideia). Houve tempo suficiente para, a partir do brado por anistia ela virasse uma PEC. Houve espaço para que ela começasse a tramitar e, mesmo sendo uma ideia escalafobética, pois nem crime há, ainda, para ser anistiado, que ela virasse tema de discussão levado “a sério”.

Houve, ainda, espaço para que o calhamaço da Polícia Federal encaminhado pela Polícia Federal ao ministro Alexandre de Moraes, com um arrazoado de provas contundentes e irrefutáveis provocasse um Oh! na sociedade, e fosse dormitar no arquivo digital do PGR.

E, por fim, houve tempo suficiente para que o PGR, arrogando para si o papel de moço compenetrado e preocupado com os rumos da eleição de 2024, empurrasse com a barriga todos esses fatos, em nome do bem viver e da tranquilidade geral. 

Mentira! Ao dizer que não quer causar sacolejos na democracia, o que ele faz é colocar no centro dos acontecimentos o seu lado sombrio, que tanto uma colega de 247 quanto eu denunciamos em artigos. Paulo Gonet, ao se recusar a indiciar Jair Bolsonaro pelos crimes – que vamos constatar ali na frente, ele cometeu -, na verdade se posiciona de forma afrontosa. 

Tal como no caso do “orçamento secreto”, quando a mídia passou a usar a expressão para a indecência que se desenrolava diante dos nossos olhos, no orçamento da União, como quem chama carinhosamente a um Pet, agora se fala com naturalidade, do zelo de Gonet com as eleições municipais. 

O que Paulo Gonet está fazendo é trabalhando pela ideologia na qual acredita, a da direita. Deixa, permite, acumplicia, com o papel de “cabo eleitoral” de Bolsonaro no pleito. E, nesse estado de leniência, o que fez foi propiciar com o esticar do tempo, que vicejasse um Marçal.

Quando Jair terminar o seu périplo pelo país, elegendo prefeitos e vereadores à vontade – embora venha perdendo fôlego para alguém mais esperto, apena isso, mais esperto -, aí, sim, Gonet entra em cena para indiciar aqui, aliviar ali, pois nesse caso Bolsonaro já terá jogado o jogo da torcida do PGR. Vergonhosa a postura de Paulo Gonet. Agora me perguntem se estou surpresa. Nem um pouco. Eu e colega avisamos...

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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