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Jean Menezes de Aguiar

Advogado, professor da pós-graduação da FGV, jornalista e músico profissional

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A lógica do investigado brasileiro: a polícia federal enlouqueceu

Já reparou que toda pessoa que é investigada pela polícia federal se apressa em dizer que está tranquilo, não deve nada, tudo vai ser explicado? Nunca apareceu alguém que admitisse um erro sequer. Em regra, só depois de espremido pela desgraça do cárcere e humilhação de defecar em público, num buraco no chão é que vai para a delação 'premiada'

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Já reparou que toda pessoa que é investigada pela polícia federal se apressa em dizer que está tranquilo, não deve nada, tudo vai ser explicado? Nunca apareceu alguém que admitisse um erro sequer. Em regra, só depois de espremido pela desgraça do cárcere e humilhação de defecar em público, num buraco no chão é que vai para a delação 'premiada'.

Considerando-se que alguns ocupam cargo público, e ainda que não tivessem um padrão ético dos japoneses quando são descobertos em algo ilícito, há um o triste padrão brasileiro aí. Tem a ver com malandragem, jeitinho, 'esperar para ver o que vai dar', ou tentar 'deixar a poeira baixar'.

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Uma etnografia aplicada a esses comportamentos, um estudo dessas reações constantes poderia contribuir para um conhecimento ainda melhor deste traço cultural do brasileiro.

Se invariavelmente o agente 'reserva' espaço na sua personalidade para o jeitinho, a malandragem, a esperteza, fica claro que 'esse' brasileiro não possui uma honestidade introspectiva sua e própria, desculpe-se a redundância, uma que 'se' envergonhasse e se arrependesse efetivamente de 'um' ato errado e vergonhoso, como afanar dinheiro público e prejudicar milhões de necessitados. Beira à puerilidade, mas deveria ser este o pensamento correto.

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Não há vergonha, nem arrependimento, mas também não se trata de 'um' único ato de erro. O que há são disfarces e manejos elaborados para esconder pistas e provas; vitórias e apoderamentos jactanciosos pela personalidade superior da riqueza e do dinheiro conseguido, do próprio agente e da guilda familiar que consiga usufruir as delícias numa cafona Miami; bolsas e óculos de grife-ostentação e outros traços patéticos de um espumoso novoriquismo sulamericano, pagaguaio, argentino ou brazuca, são iguais. Dá-se um parasitismo inercial da vida que se passa a apoiar num dinheiro fácil e muletal.

O Brasil, estranhamente, nunca teve polícia, Ministério Público nem Receita Federal 'que' quisesse investigar uma coisa muito simples: se chama 'evolução patrimonial'. É o filho recém-formado do papai 'autoridade' que ganha 3 milhões de reais em um ano com uma empresa de consultoria sem um único empregado. É o político que há 20 anos tinha um patrimônio de 100 mil reais e, sendo exclusivamente político a vida toda, passou a ter 80 milhões em patrimônio. E não há fiscalização, controladoria, corregedoria, polícia, nada. Nunca houve. Se a Lava Jato não for apenas uma marola sociológica, continuará a não haver.

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O brasileiro 'mediano', em todos os seus aspectos, certamente está se vendo 'vingado', um pouco que seja. Assiste há décadas a orgia com o dinheiro público, em todas as esferas e lugares. Viu nascer, crescer, envelhecer e morrer-já-vai-tarde lideranças políticas e 'autoridades' com suas mansões e vidas milionárias, filhos e netos sucedendo o posto, e nunca ninguém investigou nada.

Talvez por essa impunidade-cocainômana com o dinheiro público, trincada, patológica, com olho esbugalhado da alegria letárgica da vitória da corrupção mais inteligente que os idiotas que fiscalizam, ou creem fiscalizar e não fiscalizam nada, o pensamento do arrependimento ou da vergonha nunca tenha florescido 'nessa' sociedade brasileira do roubo público.

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Aí, pilhado, flagrado com dinheiro em cueca, calçola ou espartilho, ou conta na suíça vem a novela cultural da negação, pura e simples. O dinheiro não é meu. Agora com essa neo-esperteza: a empresa offshore.

Quem continua em xeque nem são as 'autoridades' que concertam ações judiciais contra jornalistas, porque seus ganhos públicos nababescos foram, de novo (!) revelados; nem é esse 'patronato' que ficou na época da ditadura órfão de Delfim Neto e do Estado autoritário e queria continuar explorando na proteção impune do Estado como ensina Elio Gaspari na última edição de sua obra, A ditadura acabada, p. 53. Quem continua em evidência é o povo, a gente, o trabalhador comum, as donas de casa, os estudantes, essa sociedade que precisa se cidadanizar, no melhor dos sentidos, de uma vez por todas.

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A polícia federal não enlouqueceu, nem a operação Lava Jato. Mas essas 'instâncias' sabem que a caneta do político é poderosa demais e pode ser muito mais forte que suas intenções. Já começa uma reação contra o cansaço extasiado por parte de certa elite com as apurações corrupcionais. Só o povo conseguirá criar uma nova cultura. Resta saber se é isso mesmo que essa sociedade quereria. OBSERVATÓRIO GERAL.

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