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Carlos Castelo

Jornalista, sócio-fundador do grupo Língua de Trapo, um estilo sem escritor

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A lua de Schwob

Sequências intermináveis de epidemias, vindas de cepas desconhecidas até pelos mais renomados institutos de pesquisa científica, completavam a temporada de estragos no outrora planeta azul. A Terra parecia uma versão cinematográfica exagerada do Apocalipse, de São João Evangelista

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Foi no dia em que a NASA registrou uma nova lua de Saturno com o nome de Marcel Schwob. O clima terrestre já vinha apresentando variações; calores piauienses no Ártico, friagens em plena tarde no Saara. Sequências intermináveis de epidemias, vindas de cepas desconhecidas até pelos mais renomados institutos de pesquisa científica, completavam a temporada de estragos no outrora planeta azul. A Terra parecia uma versão cinematográfica exagerada do Apocalipse, de São João Evangelista.

Num dia muito árido, o jovem casal acabara de entrar na suíte de hotel para a tão aguardada lua de mel. Quando ela soltava uma das alças do sutiã, soou o trovão. Trovão, na verdade, não seria a melhor palavra para descrever aquele ribombar. O noivo foi até a janela, já com o discurso pronto para acalmar a parceira, e voltar ao que haviam iniciado. Ao olhar para fora, no entanto, foi difícil crer no que divisava. Trevas envolviam o dia, uma chuva de meteoritos se encaminhava ao solo, ventos dilaceravam qualquer objeto ou ser que se interpusesse à sua frente. Voltando ao leito, e à esposa, sentiu que o prédio se mexia, adernando para a direita. A estrutura do edifício deu um estalo fazendo a dupla se apavorar. Não havia mais nada a fazer, era sair dali. 

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Em doida carreira deixaram o hotel e ganharam a rua. Depois desceram a avenida principal que levava ao rio. A distância até a beira não era muito grande, mas pareceu uma vida: driblar os fragmentos arremessados pelo vento e evitar as explosões celestes foi épico.

Atracado a um pequeno píer havia um jet-ski usado pelos turistas para conhecer a fauna e a flora local.

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Em desespero pularam sobre a máquina e aceleraram em direção oposta à hecatombe. Antes plácidas, as águas turvas do rio se engolfavam como se movidas pelas hélices de um liquidificador. Logo, o movimento circular do aguaceiro os cuspiu para as margens. Tombaram sobre um pequeno promontório de onde era possível enxergar, ao longe, todo o demoníaco espetáculo da Terra se autodeglutindo. Enormes bolas de fogo abraçavam os prédios, astros de formato irregular chocavam-se e os habitantes eram formigas assustadas em meio ao caótico festival de destruição.

O casal ficou observando a sinfonia espectral em silêncio. Logo notaram que uma língua de fogo, acompanhada por fragmentos de pedra e lava, vinha em sua direção. Os detritos escaldantes ganhavam terreno em alta velocidade, em poucos minutos cairiam sobre o promontório. Foi quando os noivos se entreolharam languidamente. E transaram.

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