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Marcus Atalla

Graduação em Imagem e Som - UFSCAR, graduação em Direito - USF. Especialização em Jornalismo - FDA, especialização em Jornalismo Investigativo - FMU

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A maestria de Bolsonaro e a inabilidade da esquerda

A população sabe estar sendo enganada o tempo todo, não confia mais no jornalismo, na política, nas instituições, no judiciário, nos governos e na “ciência” (transvertida em um ente divino)

(Foto: Felipe Campos Melo/Fotos Públicas)
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Negacionistas, sommelier de vacina, pobre de direita, gado; esses são alguns dos rótulos, os quais a esquerda convencionou chamar todos aqueles que votaram em Bolsonaro. Entretanto, ao se colocar todos no mesmo balaio de gatos, a esquerda mostra não ter compreendido nada o que realmente está acontecendo. Também se revela distante e pouco sensível àqueles que diz representar, o povo. 

Acalme-se caro leitor, aqui não estamos tratando de arrependimento e perdão, nem mesmo desta visão simplista e moralista cristã, onde tudo se resume aos 7 pecados capitais e a luta entre o bem e o mal. Trata-se de compreender um fenômeno, sair do mundo paralelo imagético dos memes, das redes sociais e retornar ao mundo real.

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É claro que existem os 15 a 20% da população com mentalidade fascista, escravista, racista e todos os outros “istas” que lhes cabem. Porém, não é disso que se trata. A maioria das pessoas votaram no Partido dos Trabalhadores por mais de uma década e agora retornam a indicar o voto no Lula.

A questão aqui é que a população sabe estar sendo enganada o tempo todo, não confia mais no jornalismo, na política, nas instituições, no judiciário, nos governos e na “ciência” (transvertida em um ente divino). E isso não é uma visão apenas do brasileiro, por consequência do golpe de 2016, é uma visão mundial, um problema sistêmico. 

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Sem um referencial no que é confiável, as pessoas escolhem “a verdade” pelo seu viés de confirmação. E nisso colocamos a imprensa corporativa que também faz parte do ecossistema de desinformação e cria um mundo paralelo pautado em seus interesses. 

É a ciência, estupido!!!

Essa foi uma das frases mais ouvidas durante essa pandemia ao se referir a pessoas com medo da vacina ou que acreditaram na cloroquina.  A ciência, de forma genérica, se tornou equivalente a um ente divino.  Como se apenas a afirmação que algo é “cientifico”, bastasse para transformá-la em uma verdade absoluta, inconteste e dogmática. Sendo o suficiente para excomungar daqueles com incertezas, medos e críticas.

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A ciência é um método, que exige diversos protocolos a serem seguidos. A pesquisa e os resultados são tão confiáveis quanto o rigor aplicado neles. Não faltam casos de empresas financiando pesquisas cujos resultados são fraudados ou duvidosos.  

No início dos anos 2000, virou moda a dieta da proteína do Dr. Atkins. A dieta prometia um emagrecimento rápido baseado apenas no consumo de proteína animal. Mais tarde, ao ser revisada por pesquisadores (leia aqui), descobriu-se que a dieta não tinha eficácia a longo prazo e seu uso duradouro causara grandes males a saúde. O Dr. Atkins e seus pares foram financiados pela indústria de proteína animal dos EUA. Trouxe excelentes resultados para o faturamento desse setor, aumentou em muito o consumo de carne e cerveja. Mas não para a saúde das pessoas. - Dieta Atkins ajuda a vender carne e cerveja nos EUA.

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Os médicos são vistos pela sociedade como detentores de um conhecimento científico, porém, é comum doutores receitarem medicamentos, não pelo custo benefício ou por ter menos contraindicações ao seu paciente, mas sim, por receberem comissão do laboratório que produz a substância. Seja  uma comissão de forma direta ou indireta, através de viagens e hospedagens em resorts para “congressos médicos”. 

A OMS – Organização Mundial de Saúde- que deveria fiscalizar as vacinas contra o COVID-19, entrou na guerra econômica e geopolítica. Acelerou a aprovação de algumas e burocratizou a de outras, retardando suas aprovações. O que dizer da ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária- na guerra entre os interesses políticos do Bolsonaro versus os governadores do Nordeste. Leia em: Inédita no mundo, acusação da Anvisa contra a Sputnik gera polêmica -Super Interessante. O Conselho Federal de Medicina teve que ser processado, pelos seus médicos membros, por omissão voluntária, ao não fiscalizar médicos que recomendavam tratamentos sem comprovação no tratamento precoce do Covid-19. (Médico quer que MPF investigue omissão do CFM contra tratamento precoce de Covid). 

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Qual o espanto com a desconfiança da população no que lhes é informado?

Os exemplos da “ciência” sendo usada para legitimar interesses financeiros e ideológicos são os que não faltam. 

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A política e as instituições 

Estudo realizado em 2016, pelo Institute for Democracy and Electoral Assistance (IDE), constatou um aumento gradativo de eleitores deixando de votar em todo o mundo. Incluindo países europeus considerados como democracias antigas e consolidadas. O eleitor tem consciência de que os políticos, não os representam, atuam em defesa do capital patrocinador de suas campanhas.

O mesmo serve para as demais instituições, o judiciário não promove a justiça, usa de lawfare, para promover seus interesses políticos; o direito penal do inimigo e o encarceramento em massa de jovens negros e pobres. 

A OEA -Organização dos Estados Americanos- cuja obrigação é dirimir conflitos e promover a democracia, foi a legitimadora do golpe de Estado na Bolívia em 2019. Leia em: “Eles não foram neutros na análise” – Pública. O Instituto Ipsos realizou recentemente (28/07), uma pesquisa em que constatou que no mundo todo há uma sensação de declínio no âmbito político, social e institucional. Os brasileiros são os que mais sentem que seu país está em decadência dentre as 25 nações pesquisadas.

  • 69% - Acredita que o Brasil está em declínio
  • 82% - A elite política e econômica não trabalha duro
  • 80% - A economia é manipulada para beneficiar ricos e poderosos
  • 76% - A principal divisão da sociedade é entre cidadãos comuns e a elite política e econômica
  • 78% - Os partidos políticos não ligam para a população
  • 74% - Acredita que precisam de um líder forte para recuperar o país das mãos dos ricos e poderosos

A população brasileira aprendeu a ser pragmática, até mesmo pela desigualdade social do país. Ela tem urgência em suas demandas e necessidades. O Bolsonaro se apresentou como um político forte, com condições de lutar contra o sistema e mudá-lo. Soma-se a isso, a perda de qualidade de vida causada pelo Neoliberalismo.

 Nas eleições de 2018, o Partido dos Trabalhadores era visto como parte do sistema - 14 anos na presidência. Boa parte da aversão ao PT, foi um antissistema convertido em antipetismo por décadas de ataques da imprensa brasileira.  As pesquisas de intenções de votos mostram o antipetismo refluindo aos vinte e cinco por cento histórico. Porém, a população ainda acredita que precisa de um líder forte. O pressuposto de que Bolsonaro já é uma carta fora do baralho, não parece condizer com a realidade.

A perícia da extrema-direita e o bater-cabeça da esquerda

A extrema-direita compreendeu o momento histórico, capturou o sentimento antissistema, e o usa com maestria em seu favor.  Aumenta a desinformação e a confusão, através de fake News e discursos contra as instituições. Ao mesmo tempo, acolhe essas pessoas e mostra-se sensível a suas demandas e medos.

Já a esquerda tem tratado essas pessoas como uma massa única, não separa o joio do trigo e mostra uma completa incompreensão da situação atual e a capacidade de enxergar parte do seu eleitor. 

É necessário voltar a ter um círculo de afeto com essa parte da sociedade, coisa que o bolsonarismo faz e as esquerdas deixou de fazer quando se afastou das bases e se institucionalizou.

Esses fenômenos sociais convergiram para o Bolsonaro e não se encerrarão com o fim dele. 

Parafraseando o professor e pesquisador Eduardo Costa Pinto da UFRJ: “O Bolsonaro não é a doença, é um vírus oportunista que se aproveitou de um corpo já enfermo.”

Por fim, a campanha do Lula tem se pautado no retorno do passado, mas esquecido de pautar propostas de mudanças para o futuro. O que não conversa com o anseio de parte significativa do eleitorado e permite um vazio para o Bolsonaro manobrar.

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