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Valter Pomar

Historiador e integrante da Direção Nacional do PT

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A Marinha não quer remoer o passado!!!

"O presidente Lula, por respeito à história das lutas do povo brasileiro, precisa demitir Marcos Olsen", defende Valter Pomar

Marcos Sampaio Olsen (Foto: Pedro França/Agência Senado)
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O comandante da Marinha escreveu, no dia 22 de abril de 2024, uma carta criticando a inclusão de João Cândido no panteão dos heróis do Brasil.

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A seguir os melhores momentos da tal carta, dirigida ao deputado que preside a Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados.

Segundo o comandante, a “Revolta de Marinheiros ocorrida em navios da Esquadra, em 1910”, “constitui para a Marinha do Brasil (MB), fato opróbio da história, cujo estopim se deu pela atuação violenta de abjetos marinheiros que, fendendo hierarquia e disciplina, utilizaram equipamentos militares para chantagear a nação, disparando, a esmo, os canhões de grosso calibre dos apoderados Encouraçados contra a então Capital Federal e uma população indefesa, ceifando a vida de duas crianças, atingidas no Morro do Castelo”.

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Não sei o que é mais “abjeto”: a referência demagógica às duas crianças cuja vida teria sido ceifada pelos disparos “a esmo” de “canhões de grosso calibre” ou o que vem a seguir.

“Mister rememorar dentre as reivindicações apresentadas por manifesto de rebelados ao Governo brasileiro: o aumento de salários; a exclusão de Oficiais considerados - por eles - indignos de servir à Marinha; e regime de trabalho menos exigente. Notável, então, entender que, além do justo pleito pela revogação da prática repulsiva do açoite, buscavam, deliberadamente, vantagens corporativistas e ilegítimas”.

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Óbvio que para um Almirante de Esquadra é totalmente inaceitável que reles marinheiros demandem “vantagens corporativas”, afinal todos sabemos que estas são restritas a altos oficiais. Oficiais que continuam incapazes de compreender o seguinte: o fato de em 1910 continuar existindo a “prática repulsiva do açoite” é justificativa em si mesma suficiente para que os “canhões de grosso calibre” fossem dirigidos contra os “oficiais indignos”.

Acontece que, para o comandante da marinha, os castigos físicos eram apenas um “erro”, um “equívoco” indigno.

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Parece incrível ler isto em 2024, mas está aqui: “Os castigos físicos levados a cabo nos navios, prática inaceitável, sob perspectiva alguma, e absolutamente incompatível com os caros preceitos morais observados pela sociedade contemporânea, foram reconhecidos, posteriormente, como equivocados e indignos, e os insurgentes, inclusive, anistiados. Porém, resta notável diferença entre reconhecer um erro e enaltecer um heroísmo infundado.”

Erro é ter nomeado este comandante. Açoite é crime, é prolongamento da escravidão. Aliás, quantos altos oficiais são negros?

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Por qual motivo o comandante da Marinha não quer “remoer o passado”? 

Ele mesmo diz: “incluir, no Livro de Heróis da Pátria, João Cândido Felisberto ou qualquer outro participante daquela deplorável página da história nacional, quando o patrimônio público foi destruído e o sangue de brasileiros inocentes derramado, seria o mesmo que transmitir à sociedade e, em particular, aos militares de hoje a mensagem de que é lícito recorrer as armas que lhes foram confiadas para reivindicar suposto direito individual ou de classe”.

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Seria cômico, não fosse cínico. 

Na República Velha, nas condições antidemocráticas então vigentes, era “lícito” recorrer às armas para combater as desigualdades e injustiças. Aliás, foi isso que fizeram os tenentes e a Revolução de 1930. “Ilícito” foi fazer isso em 1964. 

O Comandante da Marinha manifesta, ainda, que a Força Naval não “vislumbra aderência da atuação de João Cândido Felisberto na Revolta dos Marinheiros com os valores de heroísmo e patriotismo; e sim, flagrante que qualifica reprovável exemplo de conduta para o povo brasileiro”.

E esbanja sua hipocrisia ao criticar a atitude de “enaltecer passagens afamadas pela subversão, ruptura de preceitos constitucionais organizadores e basilares das Forças Armadas e pelo descomedido emprego da violência de militares contra a vida de civis brasileiros é exaltar atributos morais e profissionais, que nada contribuirá ao pleno estabelecimento e manutenção do verdadeiro Estado Democrático de Direito”.

Desmedido é o comandante da Marinha interferir no trabalho legislativo.

Espero sinceramente que o senhor Marcos Olsen seja melhor marinheiro que historiador. 

Mas o presidente Lula, por respeito à história das lutas do povo brasileiro, precisa demitir este senhor do cargo de Comandante da Marinha.

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