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Carlos Castelo

Jornalista, sócio-fundador do grupo Língua de Trapo, um estilo sem escritor

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A máscara da morte verde-amarela

Sem empecilho, o vulto se afastou. Louco de raiva, o príncipe Lira avançava impetuosa e rapidamente

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Por muito tempo a “Morte Verde-Amarela” devastara o país. Jamais pestilência alguma fora tão mortífera ou tão terrível.

Mas o príncipe Lira sabia-se feliz, intrépido e sagaz. Quando teve uma importante vitória política, chamou à sua presença centenas de amigos frívolos, escolhidos entre os fidalgos e damas da corte, e com eles se encerrou num de seus palacetes fortificados. A mansão estava amplamente abastecida. Com tais precauções, os cortesãos estavam a salvo do contágio.

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O mundo externo que se arranjasse. Por enquanto, era loucura pensar nele ou afligir-se por sua causa. O príncipe tomara todas as providências para garantir o divertimento dos hóspedes. Contratara bufões, subcelebridades, cantores sertanejos. Vinho e segurança estavam dentro da mansão.

A folia continuou, rodopiante, até que o relógio começou a bater meia-noite. A música parou, acalmou-se o rodopio dos dançarinos; e, como antes, uma constrangida imobilidade tomou conta de todas as coisas.

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Doze foram as badaladas; por isso, os que meditavam entre os foliões tiveram tempo de meditar mais longa e profundamente. E antes que se esvanecesse o eco da última badalada, muitos dos convivas puderam perceber a presença de um novo mascarado, que, até então, não atraíra as atenções. Entre murmúrios, propagou-se a notícia daquela presença; elevou-se da companhia um zum-zum, um rumor de desaprovação e surpresa.

O novo mascarado excedia em extravagância ao próprio Herodes. Vestia uma mortalha que o cobria da cabeça aos pés. A máscara que lhe escondia as feições imitava com tanta perfeição a rigidez facial de um cadáver que nem mesmo a um exame atento se perceberia o engano. Suas vestes estavam salpicadas de sangue; sua ampla fronte, assim como toda a face, fora borrifada com horrendas manchas escarlates.

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Quando os olhos do príncipe Lira caíram sobre aquela figura espectral seu rosto congestionou-se de raiva.

- Quem se atreve - perguntou aos cortesãos que o cercavam -, quem se atreve a insultar-nos com essa brincadeira idiota? Agarrem-no, tirem essa máscara dele!

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Três ou quatro dos convidados chegaram a ensaiar uma perseguição. Mas, devido ao terror produzido pelo mascarado no ânimo de todos, não se atreveram a caçá-lo.

Sem empecilho, o vulto se afastou. Louco de raiva, o príncipe Lira avançava impetuosa e rapidamente; já estava a três ou quatro passos do vulto que se retirava, quando este virou-se e encarou seu perseguidor. Nesse instante ouviu-se a gargalhada do príncipe.

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Ao cair a horripilante máscara, todos os desmascarados do festim puderam ver com seus próprios olhos: a “Morte Verde-Amarela” era o presidente da República.

(Livre adaptação do conto “A máscara da morte rubra”, de Edgar Allan Poe, tradução de José Paulo Paes)

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