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Luiz Fernando Padulla

Professor, biólogo, doutor em Etologia, mestre em Ciências, autor do blog 'Biólogo Socialista'

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A Monsanto não mata. Deixa doente para a Bayer tentar te salvar!

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Falar sobre agrotóxicos é urgente. Mesmo que para isso, precisemos confrontar interesses escusos do capital e suas empresas, as quais exercem forte lobby no meio político. Já escrevi outras vezes sobre essa prática abominável – e desumana – e vale novamente retomarmos a discussão.

As políticas abusivas de liberação de agrotóxicos potencialmente danosos ao ambiente e ao ser humano, adotada pelo (des)governo de Bolsonaro, explica-se pelos laços com tais empresas, apoiadas pela chamada “bancada ruralista”- não à toa, em apenas 6 meses, o Ministério da Agricultura já liberou mais 239 agrotóxicos, com muitas dessas substâncias sendo comprovadamente nocivas ao corpo humano, especialmente para fígado e doenças neurológica. Usam o argumento de que O PIB do Brasil sempre foi amparado significativamente pelo agronegócio que, a cada ano, bate seus próprios recordes de produção. No entanto, isso tem seu custo não apenas financeiro, mas ambiental, uma vez que o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo. Alternativas – muitas delas biológicas e naturais – e existem. O que falta é interesse.

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No documentário/livro da jornalista Marie-Monique Robin chamado “O mundo segundo a Monsanto”, destaco um documento da Monsanto, de 1970, tornado público em 2002: “não podemos nos dar ao luxo de perder nem sequer um dólar em nossos negócios”.

Esta empresa – que recentemente se aliou à Bayer no chamado “casamento do inferno” – usou moléculas indiscriminadamente sobre populações e suas plantações durante testes e posterior na Guerra do Vietnã como desfolhante, o tal “agente laranja” (que não era o Queiróz!).

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(Em tempo: A Bayer, maior empresa farmacêutica e química alemã, compra por US$ 57 bilhões a Monsanto, a maior empresa de agricultura e biotecnologia, sendo líder na produção de sementes geneticamente modificadas (os chamados transgênicos). A preocupação – pertinente – que estão repercutindo, é a concentração no mercado do agronegócio, uma vez que as duas corporações juntas, poderão responder por mais de 30% dos negócios na produção mundial de culturas agrícolas, criando um novo monopólio das cadeias de produção, e os produtores – principalmente os pequenos produtores – serão os mais afetados, sendo obrigados a pagar preços mais altos por sementes e produtos, inviabilizando a sustentabilidade – talvez seja esse o interesse dessas corporações. No entanto, envolve um aspecto talvez ainda mais preocupante e pouco falado: doenças e remédios. É sabido - mas talvez pouco divulgado – que o uso dos chamados “defensivos agrícolas” assim como de plantas e produtos transgênicos consumidos, são responsáveis por grande parte das doenças e alergias alimentares, tanto nos produtores como nos consumidores. E uma vez doentes, recorrem aos remédios. A Monsanto uma das maiores produtoras de agrotóxicos e de sementes transgênicas. E a Bayer, a maior produtora de remédios. Um esquema altamente lucrativo e sustentável para seus donos: produzem as doenças, e vendem os remédios!)

Vale lembrarmos que essas empresas surgem justamente para desenvolver armas químicas que posteriormente se tornariam “defensivos agrícolas” – acobertadas pela falácia do governo sul-vietnamita, em conspiração com os estadunidenses, que afirmava que “nenhum produto era tóxico e não causaria nenhum dano à natureza, aos animais domésticos, aos seres humanos ou ao solo”.

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Anos depois, veteranos da guerra e suas famílias ainda pagam o preço dessa irresponsabilidade, e cobram na Justiça um mínimo de ressarcimento em função dos problemas de saúde, inúmeras doenças e cânceres que surgiram nessas populações. Tentando se livrar de punições monetárias, a Monsanto chegou até a fraudar laudos e relatórios para esconder os efeitos tóxicos de seus produtos sobre as pessoas e o ambiente.

Não é de se espantar que hoje a atitude seja parecida, evitando ao máximo ser vinculada a esse passado comprometedor, hoje tenta fazer seu marketing sobre os controversos transgênicos, ou Organismos Geneticamente Modificados (OGMs). E mais uma vez, atuam nos bastidores do Congresso para retirarem o rótulo nos produtos comercializados à população. O texto, de autoria do deputado Luiz Carlos Heinze (PP-RS), determina a retirada do triângulo amarelo com a letra "T", que hoje é colocado obrigatoriamente nas embalagens de alimentos que contenham qualquer percentual de OGMs. Caso seja aprovado, mais um mostra do retrocesso do país e a força que essas corporações (em especial a Monsanto/Bayer) têm nos bastidores.

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Vale lembrar que, à medida que pesquisas sérias e imparciais vêm à tona, mostrando os danos e perigos dos alimentos geneticamente modificados, vários países tomam a precaução de rotulagem, dando ao consumidor a opção do conhecimento – hoje são mais de 60 países que obrigam a rotulagem. Curiosamente, nos Estados Unidos, os deputados decidiram proibir essa identificação.

Abrindo um pouco mais o leque, é perturbador e intrigante outro levantamento apresentado pela autora do livro. De todos os “produtos fitossanitários” (um modo pomposo e menos impactante para designarem os agroTÓXICOS) lançados no planeta apenas 0,3% atinge os organismos alvos, enquanto 99,7% vão para outros lugares, como solo e água. Assim, vemos que o problema vai além do produto contaminado. Podemos (e com certeza estamos) ingerindo e absorvendo poluentes de forma indireta.

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Pesquisas mostram, por exemplo, que o herbicida mais utilizado no mundo (Roudup – à base do glifosato), altera significativamente o sistema hormonal, reduzindo em 94% a produção de hormônios sexuais masculinos pelos testículos. Casos de depressão, transtorno e déficit de atenção, hiperatividade e até autismo já foram relacionados ao Roudup e a dioxina (presente no agente laranja). Isso me faz pensar se os alunos presentes nas salas de aula, diagnosticados com alguns desses transtornos neurológicos – em número cada vez maior, diga-se de passagem – não seriam vítimas, de alguma maneira, desses agroquímicos.

Recentemente, a Monsanto foi condenada a pagar indenização de US$ 2 bilhões a um casal que teve câncer nos Estados Unidos justamente pela exposição ao Roudup. O júri condenou a empresa por negligência, e como bem destacou o advogado, “a Monsanto jamais teve o interesse de averiguar se o Roundup era seguro(...). No lugar de investir em uma ciência sólida, aplicaram milhões para atacar a ciência que ameaçava sua agenda comercial”. Anteriormente, a mesma empresa sofreu outras duas derrotas para um agricultor (indenizado em US$ 80 milhões) e um jardineiro (US$ 78 milhões), ambos com linfoma de Hodking associados ao agrotóxico.

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Outra ponderação extremamente importante deve ser feita: a resistência de bactérias aos antibióticos. Recentemente tivemos no Brasil vários casos de pessoas internadas e isoladas por conta das chamadas “superbactérias” – algumas, inclusive, vieram a óbito. Por trás disso, também está a Monsanto, com o “Hormônio do crescimento bovino rbGH”. Ao injetar esse hormônio transgênico nas vacas para que produzam mais leite, o efeito colateral é o surgimento de infecções nas mamas (doença conhecida como mastite), fazendo com seja produzida maior quantidade de glóbulos brancos (pus) que vai diretamente para o leite. Ao tratar a vaca com antibióticos, esses medicamentos ficam igualmente no leite, sob a forma de resíduo. E aí, quando bactérias entram em contato com os antibióticos, eis que surge a teoria da seleção natural e faz seu papel, selecionando as mais resistentes.

E o que podemos avaliar em relação aos casos de câncer? Em levantamento realizado em mulheres estadunidenses, acima de 50 anos, entre os anos de 1994 (quando entrou em circulação no mercado o rbGH) até 2002, foi constatado um aumento de 55,3%. Dados, no mínimo intrigantes.

Por mais que apresentem laudos (muitos dos quais são fraude, como relata a jornalista), os mesmos não são nada conclusivos. E o caminho que estamos tomando hoje, ao liberar o plantio dessas sementes, assim como o consumo desses produtos, pode ser sem volta. Estamos pagando para ver o surgimento de um novo DDT (tido como revolucionário para a agricultura, mas anos depois proibido pelos efeitos danosos à vida) em pleno século XXI?

Assim, nota-se que os atuais meios predatórios de produção do agronegócio são inconsistentes com a saúde pública e a sustentabilidade (ambiente, sociedade e economia). Atividades de monocultura, sob o domínio de grandes latifúndios, geram apenas 30% do alimento mundial, de baixa qualidade (contaminados com químicos e cultivados com produtos transgênicos).  Em contrapartida, metade dos alimentos mundial vem dos pequenos produtores com sua agricultura familiar, detendo apenas 20% das terras. Seria esse um dos motivos de vermos constantemente uma política de criminalização dos movimentos sociais, em especial o MST, e o corte de recursos para a agricultura familiar, justamente porque lutam contra esse domínio do agronegócio?

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