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Weiller Diniz

Jornalista especializado em cobertura política, ganhador do prêmio Esso de informação Econômica (2004) com passagens pelas redações de Isto É, Jornal do Brasil, TV Manchete, SBT. Também foi diretor de Comunicação do Senado Federal e vice-presidente da Radiobrás, atual EBC.

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A noiva cadáver no altar do crime

A orgia com recursos públicos é arroz de festa no álbum dele

Jair Bolsonaro em Nova York (Foto: Alan Santos/PR)
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Na concorrida recepção anual da ONU, Bolsonaro rasgou a etiqueta na maior cerimônia do planeta para mentir com despudor: “Estamos há 2 anos e 8 meses sem qualquer caso concreto de corrupção”. A orgia com recursos públicos é arroz de festa no álbum dele: uso de laranjas pelo PSL (onde se elegeu), denúncias e inquéritos contra os filhos, o dinheiro nas nádegas do vice-líder, ex-ministros denunciados por corrupção, o gigolô da Economia com milhões de dólares no paraíso fiscal das Ilhas Virgens e a cobrança de propinas nas vacinas. No escândalo da AstraZeneca a lembrancinha era de 1 dólar por dose.

Na Covaxin – encomendada pelo mestre de cerimônia Bolsonaro ao fornecedor indiano – o enlace foi anulado depois de mais de 20 flagrantes da CPI de traições aos contribuintes. Entre elas superfaturamento, pagamento antecipado a offshore inexistente no contrato, pressão ilegal sobre servidores e uma intermediária – a Precisa Medicamentos –, amasiada do líder do governo e de péssima reputação pelo calote de R$ 20 mi durante gerência de Ricardo Barros no ministério da Saúde. Só a CPI atribuiu 9 crimes a Bolsonaro e delitos múltiplos contra outros 78, muitos do cortejo governista.

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A falsa maquiagem ética de Bolsonaro borrou de vez no matrimônio com o PL, tocado por um dos salteadores mais notórios do Brasil. Valdemar da Costa Neto foi um dos presidiários do mensalão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. É uma velha cortesã que, apesar da prisão e do enxovalho público, segue se refestelando nos coquetéis e buffets públicos. Ele foi condenado em 2012 pelo Supremo Tribunal Federal a 7 anos e 10 meses de prisão e uma multa que ultrapassou R$ 1 milhão. Pouco, diante dos R$ 8,8 milhões do enxoval que amealhou como suborno para se amancebar com o poder.

A condenação para corrupção passiva foi fixada por 5 votos a 4. A maioria seguiu a pena proposta por Ricardo Lewandowski, revisor do processo do mensalão, – de 2 anos e 6 meses de prisão -, mas vários ministros protestaram alegando que o protagonismo de Costa Neto merecia pena maior, como a proposta pelo relator Joaquim Barbosa, de 4 anos e 1 mês de prisão. Costa Neto foi preso em 2013 após a Suprema Corte decretar o trânsito em julgado. Em 2020, na longa valsa pelo Código Penal, se tornou réu por peculato, corrupção passiva e fraude a licitação por um suposto esquema de superfaturamento nas obras do trecho da Ferrovia Norte-Sul.

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Em suas bodas com a criminalidade, Costa Neto tem dois “save the date” traumáticos. Em 26 de novembro de 2012, o STF fixou a sentença por sua prisão. Em 30 de novembro de 2021 Bolsonaro disse um adulterino “sim” ao PL, 9 anos e 3 dias depois. Outra lua de mel amarga foi exposta em 21 de julho de 2005. Data do explosivo desabafo da ex-mulher de Valdemar, Maria Christina Mendes Caldeira, ao Conselho de Ética da Câmara dos Deputados. Em depoimento antológico, pela comicidade e síntese da infâmia, Mendes Caldeira, acusou o ex-cônjuge de possuir “um cofrão” lotado de dólares. “Não era um cofre de porquinho”, comparou provocando risadas. Ela contou que presenciou Costa Neto entregar um dote de dinheiro público ao ex-deputado Remi Trinta do PL do Maranhão: “uma mala dessas que vocês recebem aí”, disse ela provocando mais gargalhadas.

À época os deputados recebiam uma pasta estilo de executivo no início do mandato. O padrinho escalado por Valdemar para intimidar a depoente, o ex-deputado Edmar Moreira, foi desmoralizado: “o mensalão existe e o Valdemar recebeu”, respondeu Mendes Caldeira validando a maldição da ex. O fiel Edmar Moreira, soube-se depois, não pagou impostos sobre um castelo, no interior de Minas, avaliado em R$ 19 mi. Costa foi obrigado a se divorciar do mandato para evitar a cassação. Foi reeleito em 2006 e nunca deixou de rapinar os repastos do poder.

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A comilança do PL no banquete do “mensalão” foi dedurada pelo presidente do PTB, o ex-deputado Roberto Jefferson. Na época era garçom de Lula e hoje é pajem de Bolsonaro. Valdemar Costa Neto, na rixa de gangue, representou no conselho de Ética contra o rival. Na condição de dedo-duro e acusado, Jefferson citou como beneficiários das propinas o próprio Costa Neto, os deputados do PL Sandro Mabel e Bispo Rodrigues, além de três parlamentares do PP (Pedro Corrêa, então presidente da sigla, José Janene e Pedro Henry). Na sessão da Comissão de Ética em que Jefferson foi cantar, Costa Neto abriu a guerra dos bolos na cara: “Então dê os nomes”.

O presidente do PTB respondeu: “Afirmo que Vossa Excelência recebe e repassa”. Jefferson perdeu o mandato. Ele, Costa Neto, Corrêa, Henry e Rodrigues, entre outros, foram denunciados pela Procuradoria-Geral da República no regabofe do mensalão e, depois, condenados a penas variadas pelo STF em 2012. Valdemar também abusou de uma concubina secreta para esconder o dinheiro ilícito, a empresa fantasma Guaranhuns Empreendimentos. Uma década depois, Costa Neto está casado com Bolsonaro e Jefferson segue abandonado em Bangu, sentindo-se traído e rejeitado, após a prisão por pregações golpistas.

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De dentro do Centro de Progressão Penitenciária (CPP), Costa Neto embalou um PCC político, manteve-se como principal sacerdote do PL e cumpriu apenas parte da pena. Em 2016, o ministro Luís Roberto Barroso, organizou a despedida de detento. Na carruagem Bolsonarista ele já embarcou a dama de honra Flávia Arruda como ministra-chefe da Secretaria de Governo. É padrinho de indicações no Ministério da Saúde, no Banco do Nordeste e no Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. O “boy”, alcunha do submundo da libertinagem, foi a cereja do bolo na posse da ministra Flávia Arruda, levada ao altar da articulação política de Bolsonaro em abril de 2021.

A deputada Flávia Arruda é casada com José Roberto Arruda, cuja carreira é pura devassidão e crime. Como senador e líder de Fernando Henrique Cardoso violou o sigilo do painel eletrônico em votação secreta na cassação do mandato do ex-senador e inimigo local Luiz Estevão, em 2001. Renunciou para evitar a cassação e arrastou na crise o então presidente do Senado, o baiano Antônio Carlos Magalhães. Como governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, foi pilhado em uma gravação recebendo uma sacola com propina de R$ 50 mil. Foi preso, cassado e condenado por corrupção e falsidade ideológica. Em 2020 o STJ confirmou a condenação. Inelegível, improvisou um bem-casado doméstico para continuar a ter voz no sindicato do crime.

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Outro que encorpará o prontuário do PL é Flávio Bolsonaro. Arrasta a malcheirosa grinalda das “rachadinhas”, apesar do véu estendido por entidades superiores que tentam, mas não zeram uma investigação inapagável. Flávio Bolsonaro foi um cerimonialista trapalhão no enlace com o PL. Ao microfone, o senador se referiu ao adversário do pai como “ex-presidiário”. As sentenças de Lula foram anuladas. Ele estava ao lado de Valdemar Costa Neto, um ladravaz que exala a fedentina dos trajes dos presidiários: “Ainda querem nos fazer crer que um ex-presidiário, preso por roubar o povo brasileiro, está à frente de Bolsonaro nas pesquisas”, praguejou Flávio Bolsonaro.

Deve ter se inspirado nos votos do golpista das pantufas, general Augusto Heleno, na convenção do PSL que lançou Bolsonaro: “Se gritar pega centrão, não fica um meu irmão”. O senador Flávio Bolsonaro está na quarta legenda. O primogênito segue a infidelidade paterna que traiu o eleitor pela nona vez. De malas prontas para engrossar a folha corrida do PL está o ministro Onyx Lorenzoni. Ele confessou o crime de Caixa 2, mas foi perdoado pelo celebrante Sérgio Moro, o “conje”, assíduo frequentador de casas de tolerância que se diz marido traído. É um beato de meretrício que fez vistas grossas para várias outras libertinagens, entre elas os crimes financeiros atribuídos aos filhos de Bolsonaro, que resultaram em uma promissora imobiliária familiar.

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O banco imobiliário da família Bolsonaro, de hábitos dissimuladamente modestos, soma perto de 40 transações, entre aquisições e vendas. Os valores superam os R$ 10 milhões, somando os negócios do pai, filhos, mãe e madrasta em apartamentos, terrenos, casas e salas. Jair Bolsonaro negociou 14 imóveis. Flávio chegou a 21 operações com a mansão mal-assombrada de Brasília, destaque do empreendedorismo cujo valor é de R$ 6 milhões no condomínio da pompa na capital. Corriqueiras nas transações imobiliárias deles são as compras abaixo do valor de mercado, vendas lucrativas, lacunas sobre a origem e licitude dos recursos e a predileção por pagamentos em espécie. Na mansão de Flávio Bolsonaro em Brasília há névoas do alicerce ao acabamento.

O valor do imóvel – R$ 5,97 milhões – é mais que o triplo dos bens declarados pelo senador em 2018. Ao TSE, o patrimônio informado foi de R$ 1,7 milhão: um apartamento, uma sala comercial, 50% da franquia da fantástica fábrica de chocolates, um automóvel e investimentos. A escritura atesta a quitação de R$ 2,8 milhões de entrada e o financiamento bancário de outros R$ 3,1 mi. São muitas rachaduras. Houve um incremento de R$ 1,1 milhão no patrimônio em 2 anos. As 3 transferências bancárias para pagar a entrada somam apenas R$ 1,09 milhão dos R$ 2,8 milhões assinalados na escritura como quitados.

O hábito de pagar imóveis em espécie, no bucólico do Rio de Janeiro, é hereditário. Rogéria Bolsonaro, mãe dos numerais 01, 02 e 03 e primeira mulher do capitão, comprou em 1996 um apartamento na zona norte do Rio pelo valor de R$ 95 mil. Atualizado o imóvel, situado em Vila Isabel, valeria R$ 621 mil. No período da compra Rogéria Bolsonaro era casada com o então deputado Jair Bolsonaro em comunhão de bens. A separação só aconteceria 2 anos depois, em 1998.A escritura registra com todas as letras que o preço “certo e ajustado de R$ 95 mil foi recebido integralmente no ato… através de moeda corrente devidamente conferida, contada e achada certa e examinada pelos vendedores”.

Entre o final de 1997 e 2008, quando estava com o então deputado Jair Bolsonaro, Ana Cristina Siqueira comprou com ele 14 apartamentos, casas e terrenos, que somavam um patrimônio avaliado em cerca de R$ 3 milhões, o equivalente a R$ 5,3 milhões em valores corrigidos pela inflação. Pelas escrituras, contou a revista “Época”, cinco dos 14 imóveis foram pagos “em moeda corrente”, ou seja, em dinheiro vivo, passeando impunemente pelo Rio de Janeiro. Foram duas casas, um apartamento e dois terrenos em negociações separadas, que somam R$ 243 mil, em valores históricos, ou atualizados R$ 638 mil.

Apesar de DRs grosseiras com o pretendente, ofensas e palavrões, prevaleceu o amor pragmático, patrimonialista e o PL abriu a casa ao noivo e a linhagem bastarda que ele precede. O bacanal político/financeiro é impessoal como os pactos antenupciais. Ainda que Bolsonaro seja abandonado pelo eleitor ou tenha casos extraconjugais, Costa Neto enxerga no rufianismo a chance de expandir a bancada de deputados federais, somando os comensais do PL aos parasitas do capitão. Quanto mais deputados federais forem eleitos, mais recursos dos fundos partidário e eleitoral a legenda disporá.

O fundo partidário estipula que 5% dos recursos são distribuídos igualmente entre todas as legendas. Os 95% restantes são divididos proporcionalmente de acordo com o número de deputados que cada sigla tem. O outro fundo, o eleitoral, é distribuído de uma forma que privilegia o número de deputados federais eleitos. Nesse casamento de interesses, o ex-presidiário Costa Neto amplia o poder de barganha na orgia pública. Bolsonaro está em queda nas pesquisas e a ruína econômica projeta adultérios óbvios, mas Valdemar aposta que vai se dar bem na suruba.

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