A nova cultura da lacração do “cancelamento”. Somos todos juízes
A internet criou seu tribunal. Nele, todos internautas são juízes mas se esquecem que também falham, falam besteira, cometem erros e não necessariamente precisam ser achincalhados
Nesses dias surgiu uma polêmica no Twitter. Uma internauta disse que “a maior dor de uma mulher é a de não conseguir ter filhos”.
Pronto, foi o suficiente para outra internauta ficar revoltada e dizer que a mulher não pode generalizar a dor de todas as mulheres. Vários internautas então começaram a pregar o “cancelamento” da mulher que generalizou a dor de todas as mulheres.
É claro que o comentário foi infeliz. Afinal, como generalizar que a “maior dor de uma mulher é em não conseguir ter filhos?”
Eu mesma sinto outra dor. Tenho 33 anos e a mínima vontade de ter um bebê. A sociedade encara isso como uma grave ofensa. “Laís, mas você é tão saudável, será mesmo que não quer ter um bebê?
“Laís, você vai se arrepender”
“Laís, é um dom que Deus lhe deu”.
Um porre, um saco conviver com isso. Mas até onde vai a cultura de cancelar alguém por uma fala dessas? A internauta não foi ofensiva, não agrediu ninguém, não acusou ou cometeu crime. Foi apenas uma frase infeliz.
A internet criou seu tribunal. Nele, todos internautas são juízes mas se esquecem que também falham, falam besteira, cometem erros.
Outro dia mesmo estava bebendo com uma amiga e usei um termo errado. Ela me corrigiu e eu me dei conta o quando o termo é bizarro. Imagina se tivesse dito isso em minhas redes? Seria esquartejada pela liga do bem.
É claro que não devemos permitir a cultura do ódio. Pessoas que espalham mentiras e preconceitos nas redes devem ser canceladas sim. Mas até onde vai a cultura do cancelamento em nome da lacração?
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
