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Teju Franco

Músico e compositor

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A Nova Esquerda e o Velho Repertório

O grande imbróglio linguístico do momento é a velha extrema-direita falar em nova política no momento que se apropria do governo através de um conluio de fraudes que parece remontar à monarquia

(Santa Maria) Presidente da República, Jair Bolsonaro durante Desfile dos Artilheiros da Reserva, da Ativa e de Alunos da Escola Militar. (Foto: Foto: Alan Santos/PR)
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O grande imbróglio linguístico do momento é a velha extrema-direita falar em nova política no momento que se apropria do governo através de um conluio de fraudes que parece remontar à monarquia. Os filhos do Lula, vítimas de tantas fakenews, que nunca passaram perto do Palácio do Planalto, foram materializados em vilania e aparelhamento de poder pelos filhos do Bozonaro: 01, 02, 03. O escritório do crime da Favela do Rio das Pedras ocupou a antessala da presidência da República, para os que diziam não terem bandido de estimação e foram agraciados com uma quadrilha inteira de milicianos, matadores de aluguel, contrabandistas de armas. Para os que passaram anos e anos espalhando boatos de negócios mirabolantes nunca comprovados da família Lula, a realidade mandou séries e séries de depósitos, saques e funcionários fantasmas, o laranjal do Queiroz. Queiroz, o homem cujo maior feito foi desmistificar a cruzada moralista contra a corrupção da Lava Jato e do Ministério Público. Queiroz, o bandido de estimação do Ministério Público, o bandido intocável do Ministério Público, o MP que queria morder uns bilhões de dólares da Petrobrás para uma fundação em que eles administrariam essa fortuna, com fins educacionais evidentemente, a Universidade de transgressões da Lava jato.

Absurdos não faltam nessa balbúrdia institucional em que o judiciário brasileiro transformou a velha e derrubada República. A nova política é tão nova quanto o mofo dos paletós dos funcionários fantasmas dos gabinetes da família Bolsonaro; a vendedora de açaí, a mãe do miliciano, o irmão do presidente, o motorista dessa carruagem monarquista. Não existe nova política de extrema-direita. A extrema direita é uma carruagem encalhada na história. Mas, em contrapartida, a nova esquerda existe.

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A nova esquerda vem se materializando na história de maneira mais prática que teórica. A herança marxista restringiu-se à críticas pontuais sobre as fórmulas de exploração do capitalismo, mas ninguém fala mais em ditadura do proletariado. A democracia parece incorporada ao socialismo contemporâneo, pautas diversas foram incorporadas a essa nova esquerda mais arejada, mais feminista, mais à vanguarda do que os velhos partidos comunistas.

Os tempos mudaram. Apesar de todo esse movimento político pelo retrocesso do conservadorismo de origem fascista no mundo, a esquerda segue adiante com a certeza que a história não volta atrás.

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No Brasil, isso se deu, também. É nítida a mudança de pensamento e postura dos socialistas não apenas em relação ao regime democrático, mas também a questões comportamentais como o feminismo, o racismo, as questões de gênero, a política de drogas e demais assuntos.

Quem parece ter ficado meio boiando nessa história foi a gloriosa música popular brasileira, tão atuante durante o período da ditadura. Essa que, sem dúvida, foi a principal voz de resistência sob aquele regime de censura absoluta. Essa MPB que era, ao mesmo tempo, o grito de guerra e o consolo dos perseguidos pela violência do regime militar, parece ter se desconectado da intrincada e manipulada realidade política dos fatos, golpes e manobras que derrubaram a democracia brasileira em 2016.

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Nossa MPB parece ter ficado como Carolina, sem ver o tempo do golpe passar na janela, com exceção do eterno militante Chico Buarque e do despertar de Gil e Caetano no segundo tempo da prorrogação das eleições de 2018, as demais vozes como Milton Nascimento e o Clube da Esquina, Ivan Lins, Djavan, João Bosco, Carlos Lira, passaram meio ao largo do que acontecia, meio distraídos como Carolina. Outras cantoras que venderam muitos discos para a esquerda nas décadas de setenta e oitenta passaram a estar mais à direita devido à opinião publicada pelo monobloco da mídia oficial. Lenine, Fagner, Zé Ramalho, o Lobo bobo, enfim, a MPB de maneira geral, com a exceção de um Alceu ali, um Chico Cesar aqui, um Chico Buarque e um Sergio Ricardo acolá, de maneira geral, a MPB, pouco ou quase nada, se manifestou contra o golpe que surrupiou mais uma vez a jovem democracia brasileira. Assistiram calados à gloriosa ser derrubada, após tantos anos de luta para recuperá-la. Assistiram inertes, passivos, pretensamente isentos, à velha direita sair do armário e assaltá-la mais uma vez.

Talvez por falta de real informação, pouca base intelectual, talvez por viver muito “emsimesmada” na própria glória, no pantheon das divindades da fama, supostamente acima das mediocridades da política. Talvez mais informados por uma emissora de TV e uma mídia hegemônica do que pela intelectualidade ativa do País. Foram manipulados e levados a absorver as narrativas que vão de Joaquim Barbosa a Sergio Moro e a farsa da Lava Jato, ou as fortunas e crimes da família Lula nunca encontrados em lugar nenhum. O fato é que essa gente perdeu o bonde da história, se desconectou, boiou. Passou num carro alegre cheio de um povo contente, atropelando indiferente ao largo do mais sórdido golpe que a extrema-direita impingiu à nossa democracia, essa que viveu seu apogeu nos governos progressistas. A MPB assistiu a tudo isso sem dar um pio, sem cantar uma nota. Ninguém, nenhum desses ídolos falou nada, fez nada para conter esse golpe que, agora, revela toda a monstruosidade e crueldade que traz em si.

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Não estou com isso querendo tirar o valor de ninguém. É claro que amo esses ídolos como todo mundo, suas músicas, sua gloriosa contribuição para a cultura brasileira. Mas, justiça seja feita, essa gente não fez nada. Parecem viver numa realidade paralela. Voltamos 40 anos na história e essa gente nem aí. Voltamos a ver militares no governo e essa gente nem aí. Voltamos a ser reprimidos e caçados nas ruas e universidades do país e essa gente nem aí.

O mesmo não se pode dizer da “Renca, coletivo de Resistência”, um grupo de compositores que se formou em São Paulo. Um time de craques, facilmente comparável à geração de sessenta, que não tem medo de tomar posição, assumi-la publicamente e levar a sua música às últimas consequências junto às suas posições políticas. Compusemos músicas pontuais para todos os acontecimentos políticos da história recente do País, temos material para vários CDs, um vasto repertório de canções fantásticas e vigorosas que conclamam a classe toda a sair da roda de bajulações e entrarem na luta porque o momento é grave e muito perigoso, tudo está em risco. Fazem parte do “Renca, coletivo de Resistência”:

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- “Carolina” saia dessa janela. E você, esquerda, saia da década de sessenta, renove o repertório, prestigie quem está atuando com a responsabilidade e comprometimento que o momento merece. O cara que queria fazer a hora está cantando num clube militar. A moça que cantava o hino está batendo palmas para Sergio Moro. A nova voz do Nordeste não se vê representada por essa esquerda que está aí, ou seja, vocês. E nós aqui cantando para as moscas, enquanto vocês dão milho aos velhos pombos e canários que parecem estar mais pra lá do que pra cá. 

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