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Fernando Horta

Fernando Horta é historiador

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A nova estratégia do governo Lula

"Chegando a seis meses de governo Lula parece estar mudando sua estratégia de ação", aponta

(Foto: Fábio Rodrigues-Possebom/Ag. Brasil)
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Chegando a seis meses de governo Lula parece estar mudando sua estratégia de ação. Nos primeiros meses houve uma superestimada confiança no grupo de ministros. O presidente, que manteve o mandato na base do seu capital político, acreditou que todos poderiam brilhar como o ministro Flávio Dino. Caso isto ocorresse e o governo entraria numa espiral de acumulação de capital político que poderia, em tese, sobrepujar a oposição que a mídia faz e também colocar nas cordas o sabotador Campos Neto. Em todos os pronunciamentos o presidente deixou esse plano bem claro para os ministros. O presidente inclusive protegeu todos os ministros, colocando-os dentro de seu quase interminável manancial de apoio político popular.

Não funcionou.

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Havia três grandes espinhos na estratégia antiga. Em primeiro lugar, o novo marco tributário é impopular (imaginando que você exclua a posição de banqueiros como “popular”). As manifestações de oposição à regra contracionista que Haddad e Galípolo propõem veio de múltiplos lugares na sociedade. Incluindo o próprio partido do presidente. Muitos, amedrontados pela força do presidente, preferiram o silêncio público, mas mantém críticas ao projeto apresentado. A aposta de Haddad é que a política de “apaziguamento” feito com as elites pode criar um cenário de retomada da confiança (a famosa fadinha) e impulsionar uma mudança estrutural da economia. A aposta é arriscada e as chances são contra o ministro.

Por outro lado, o Ministério da Educação – tomado pelos “banqueiros pela educação” – era outro sangramento diário para o governo. Embora a manutenção do famigerado “Novo Ensino Médio” seja, de longe, o para-raios das críticas ao MEC, não são as únicas. A manutenção de dezenas de bolsonaristas em cargos dirigentes e cargos de confiança e a submissão dos profissionais que lá estão aos ditames do neoliberalismo das fundações vinha desgostando numerosos grupos sociais. De alunos a professores (o coração da educação) há consenso que este é o pior ministério do governo. Camilo Santana, contudo, mantinha firme seu propósito de fazer uma educação alijada dos interesses de professores e educadores. Chegou a dizer que o Novo Ensino Médio tinha apoio “dos secretários de educação”, como se tais figuras fossem legítimas no processo da discussão.

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O terceiro espinho incomodando o cenário interno do governo era a Petrobrás. Desde o início houve uma rejeição de sindicatos e petroleiros ao nome de Jean Paul Prates para a presidência. O senador petista tem uma vida dedicada às empresas da área petrolífera, tendo defendido posições contrárias à Petrobrás em inúmeras vezes. Poucas foram as vozes petistas contra o monopólio de exploração da Petrobrás e entre elas estava o diligente senador. Prates divergiu da política do presidente de voltar a fazer da Petrobrás uma empresa estrutural no processo de reindustrialização do país e ao demorar para acabar com o PPI (preço de paridade de importação) pressionava a classe média que via seus ganhos se manterem, mas seus custos seguirem crescendo no governo Lula.

Por um tempo, o presidente acreditou que o ganho de capital político internacional poderia comprar tempo para os ministérios aportarem medidas que fortalecessem o governo. A retomada dos antigos programas deveriam ser as “cerejas” desse bolo cujo crescimento dependia os planos do primeiro semestre. Ocorre que a liberdade e proteção que o presidente deixou aos ministros (incluindo a articulação política e casa civil) não se mostraram suficientes. As derrotas do governo no Congresso e o racha criado na base de apoio, tanto dentro do Partido do Trabalhadores como na sua base social (sendo o MST um exemplo visível) alertaram o presidente de que a estratégia não seria bem-sucedida.

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Leitura feita, o presidente resolveu mudar. Ordenou que Prates fizesse imediatamente o abandono do preço internacional na Petrobrás e calculou bem que a indignação das elites, acionistas e imprensa, seria calada pelo ganho imediato que a redução da gasolina e do gás traria de apoio na sociedade. Com isso, o presidente comprou uma briga que imaginava Prates compraria sozinho. Nas contas frias da política, o presidente assumiu o risco de descontentar os “grandiosos” acionistas, mas aliviou um dos espinhos.

Por outro lado, a chegada do PL 2601/2023 que prevê alterações na Lei de Diretrizes e Bases da Educação e na prática substitui a monstruosidade do Novo Ensino Médio de Temer cria uma condição favorável para que o presidente se livre do julgamento atávico do ministro Camilo. Se este projeto prosperar e a câmara ouvir efetivamente os sujeitos da educação, o presidente resolveria outro ponto de sangramento sem a necessidade de abrir briga com o senador-ministro. As pretensões políticas do senador não seriam afetadas pela teimosia em se ombrear com banqueiros neoliberais e o presidente veria um problema sério resolvido sem custo político significativo. Parabéns aos professores Daniel Cara, Fernando Cássio e Andressa Pellanda. Apesar de odiados no MEC, seguem trazendo benefícios ao governo.

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Tendo resolvido os dois problemas acima, o presidente centrou fileiras com Haddad. Vai gastar todo o capital político disponível neste momento para aprovação do marco fiscal. E isso sem ninguém ter visto ainda a contraparte que é o marco tributário. Haddad opta por manter todos no escuro quanto à questão da tributação. Lula aposta tudo nessa estratégia. Liberou verbas, conversou com o presidente da Câmara e estabelece que esse será a grande vitória do primeiro semestre.

O presidente arruma a “cozinha”, diminui a perda de capital político por teimosia ou desobediência de ministros e aceita pagar o custo do impopular marco fiscal. Encerrada essa votação, Lula espera um segundo semestre virtuoso. Se o cenário de Haddad ocorrer, a aposta é que a economia comece a dar resultados e que isso aumente o capital do presidente. Inclusive para lidar com ministros arredios. O problema é que nesse caminho, Lula parece afastar-se ainda mais dos grupos que não apenas o elegeram, como desde 2016 e 2017 estiveram com a cara na rua enfrentando o fascismo.

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Há grupos de “neopetistas” que se afastaram do presidente quando ele era um preso pela Lava a Jato e que agora retornam como se tivessem sido sempre amantes da democracia e confiantes na inocência do presidente. A conta de afastar-se desses grupos para ganhar apoios no centro pode deixar o presidente sem os dois, se o arriscado cenário que propõe Haddad não vingar.

No fim, os que são contra o novo marco fiscal vão precisar torcer para que ele dê certo. A estratégia de Lula foi colocar todos os ovos no cesto de Haddad. E que Deus nos ajude.

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