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Umberto Martins

jornalista e escritor

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A ordem imperialista liderada pelos EUA está com os dias contados

Podemos estar caminhando para uma ordem pós-imperialista, quem sabe verdadeiramente democrática e multilateral como sugerem as intenções, os compromissos e a ideologia que orientam os dirigentes da China

Funeral simbólico de potências imperialistas e da Otan em Cabul (Foto: Reuters)
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Os Estados Unidos concluíram na noite de segunda-feira (30) a retirada das tropas estacionadas no Afeganistão. Depois de 20 anos de invasão e ocupação imperialista, emerge a imagem de uma potência derrotada, humilhada, em declínio e incapaz de liderar o mundo. Um retrato do esgotamento da ordem mundial inaugurada pelos acordos de Bretton Woods em 1944, que já não corresponde à geografia econômica e política do século 21.

Líderes do Talibã, ladeados por uma festiva multidão de apoiadores, celebraram o fim da ocupação militar cobrindo caixões com as bandeiras das velhas potências imperialistas do Ocidente: EUA, França, Reino Unido e da Otan.

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Mais do que a vitória do Talibã é preciso realçar o revés geopolítico do Tio Sam. China e Rússia já se movimentam para ocupar o espaço perdido pelos EUA na estratégica região. Pequim reconheceu o novo governo e se comprometeu a financiar a reconstrução do Afeganistão.

“Os eventos que estão ocorrendo não muito longe de nós, quero dizer, no Afeganistão… Por 20 anos as tropas americanas estiveram presentes neste território, e por 20 anos tentaram civilizar as pessoas, mas de fato, tentaram implantar suas regras e padrões de vida no sentido mais amplo… inclusive na organização política da sociedade. O resultado são só tragédias, só perdas, para aqueles que o fizeram e ainda mais para aqueles que vivem no Afeganistão. O resultado é zero, para não dizer negativo”, comentou o presidente da Rússia, Vladimir Putin.

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Guerra e decadência

Ao justificar a patética retirada de Cabul, em pronunciamento na tarde desta terça-feira (31), o presidente Joe Biden afirmou que não poderia continuar uma guerra sem fim e sem perspectiva e que seu país tem outros desafios prioritários. É significativo que tenha mencionando, neste sentido, a competição geopolítica com a China e a Rússia.

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A aventura imperialista cobrou elevado preço em vidas humanas. O conflito vitimou mais de 100 mil civis, somando mortos e feridos, entre 2009 e 2019, segundo o diplomata japonês Tadamichi Yamamoto, responsável pela missão das Nações Unidas em território afegão (Unama, na sigla em inglês).

Os custos econômicos foram astronômicos 

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O chefe da Casa Branca – que caracterizou a caótica retirada de “êxito” – estima que um valor entre US$ 1 a US$ 2 trilhões foram subtraídos do erário e enterrados na guerra de duas décadas. A este respeito é bom lembrar que alguns autores atribuem ao excesso de gastos militares a causa da decadência das grandes potências. Não me parece a única nem a principal, mas é de fato uma causa relevante. 

Certamente a escaramuça foi produtiva para a indústria de segurança norte-americana, que lucrou muito no Afeganistão. Mas não se pode dizer o mesmo quando se considera os impactos dos gastos (ou seriam investimentos?) na indústria da morte sobre o conjunto da economia e, em especial, nas contas governamentais.   

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Não terá sido por mera coincidência que as últimas duas décadas também testemunharam a aceleração do processo de desindustrialização e decadência do poderio econômico dos EUA no mundo. A crise financeira global de 2008 e a pandemia da covid-19 também apressaram os passos da história neste sentido.

Ascensão e queda 

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Em 2010, o valor da produção industrial da China ultrapassou o dos EUA. Representou 19,8% da produção manufatureira mundial contra uma parcela de 19,4% dos norte-americanos. Este é um indicador muito mais relevante do declínio de Washington e da ascensão de Pequim do que o valor do PIB medido em dólares.

Independente e à margem da vontade dos ocupantes da Casa Branca, a ordem hegemonizada pelos EUA está vivendo seu último capítulo na história e a transição para um novo arranjo geopolítico internacional tornou-se irreversível por meios normais. Ressalve-se que o desfecho deste imbróglio não virá em dias, provavelmente cobrará décadas de tensões.

Podemos estar caminhando para uma ordem pós-imperialista, quem sabe verdadeiramente democrática e multilateral como sugerem as intenções, os compromissos e a ideologia que orientam os dirigentes da China. Mas a obsessão das classes dominantes estadunidenses em conter a próspera nação asiática e manter a qualquer preço a hegemonia sobre a geopolítica mundial é a pedra no caminho da humanidade.

Se tal obstáculo não for removido pelo bom senso pode conduzir o planeta a guerras de consequências imprevisíveis. Lênin já alertava que sob o imperialismo, que nada mais é do que o capitalismo dos nossos dias, as guerras tendem a ser inevitáveis.

Mas a história também ensina que elas não revertem a decadência nem impedem o tombo e o fim dos impérios. O exemplo mais recente vem da Inglaterra, mas não é o único.

No auge do seu poder colonial foi dito muitas vezes que “o sol nunca se põe no Império Britânico” devido à sua vasta extensão ao redor do mundo. Hoje isto é apenas uma pálida lembrança na memória dos ingleses. O futuro não promete reservar destino muito diferente para os EUA.

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