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Ricardo Nêggo Tom

Cantor, compositor, produtor e apresentador do programa Um Tom de resistência na TV 247

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A pastora branca e a bandeira de um deus que não quer saber de gente preta e de LGBT'S

É preciso, mais do que urgentemente, desassociar a figura de Jesus Cristo do cristianismo que anda sendo praticado ao redor do mundo. Falando do Brasil especificamente, a percepção que eu tenho é a de que o evangelho de Cristo passa por um processo de banalização

Kakau Cordeiro (Foto: Reprodução)
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É preciso, mais do que urgentemente, desassociar a figura de Jesus Cristo do cristianismo que anda sendo praticado ao redor do mundo. Falando do Brasil especificamente, a percepção que eu tenho é a de que o evangelho de Cristo passa por um processo de banalização. Ultimamente, qualquer um se auto intitula pastor, pastora, profeta, profetiza, apóstolo, ungido e santo. Há até quem se apresente como o próprio Jesus. Charlatanismo e estupidez em estado puro.

O vídeo que está viralizando nas redes sociais, onde uma pastora identificada como Kakau Cordeiro e que faria parte da comunidade evangélica Sara Nossa Terra, usa o púlpito de sua congregação para destilar ignorância, racismo e homofobia, deveria suscitar forte reação da sociedade. Principalmente, por parte de pretos e LGBT’S evangélicos. Antes que digam que a fala da sacerdotisa da intolerância foi retirada de contexto, peço que observem atentamente a entonação usada por ela ao se referir à “gente preta” e a população LGBT.

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Logo no começo do vídeo, ela chama a atenção para o “absurdo de pessoas cristãs levantando bandeiras políticas”, desconhecendo ou ignorando o fato de que Jesus Cristo foi crucificado, muito em função das bandeiras políticas que ele levantou no seu tempo. Ou toda a sua pregação em favor dos mais pobres, dos oprimidos e marginalizados, e por um mundo mais igual e mais justo, foi um discurso de alienação reversa? Seguindo a sua fala, ela inclui na sua crítica as “bandeira de pessoas pretas, bandeira de LGBTQIA+, sei lá quantos símbolos tem isso aí” e classifica como uma “vergonha” o comportamento de cristãos que se preocupam com o respeito e a dignidade do próximo.

Para a pastora, a única bandeira a ser erguida pelos cristãos é Jeová, é Jesus Cristo, ignorando outra recomendação do Deus que ela acredita seguir, que sugere que amemos aos outros como a nós mesmos. Ou seja, ninguém que naturaliza ou relativiza a dor e o sofrimento do outro, tem Jesus Cristo como a sua bandeira. Faltou pouco ela deixar escapar um “a nossa bandeira nunca será vermelha”, dado o neopentecostalismo fascista do seu discurso. Fascismo este que é ratificado quando ela ordena aos seus fiéis que “parem de querer ficar postando coisas de gente preta e de gays. Para!”, pedindo para que suas ovelhas postem nas redes sociais apenas coisas sobre palavra de Deus, pois ela é que transforma vidas.

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Creio que a palavra de Deus realmente possa transformar vidas. Creio, inclusive, que se a pastora em questão conhecesse essa palavra e a colocasse em prática, a sua vida já teria sido transformada e ela não estaria praticando racismo e homofobia usando essa palavra transformadora como instrumento de naturalização do mal. Como ela mesmo recomenda no vídeo, é preciso se converter. Não basta virar crente para entender o que Cristo pregou. Porque, como diz a sabedoria popular: “Crente até o diabo é” Porém, não existe conversão sem consciência. Seja ela humana, cristã ou social.

O que a pastora Kakau Cordeiro fez, foi conclamar o seu povo a desprezar a causa daqueles que historicamente, sempre foram oprimidos e tiveram a sua existência negada ou relativizada. Algo que Jesus jamais teria feito. A Igreja não apenas se omitiu diante da escravidão, como até justificou a desumanização de pessoas pretas, sob a alegação de que elas não tinham alma. O mesmo que a pastora Kakau Cordeiro sugere aos cristãos, ao pedir para que eles parem de se importar com gente preta. A ignorância, a vigarice e a cretinice que permeia boa parte do segmento evangélico no país, quase se configura num pleonasmo vicioso.

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Kakau Cordeiro representa o evangelho neopentecostal bolsonarista, que tem um miliciano como messias e o preconceito como profissão de fé. É a típica terrivelmente cristã que presta continência à bandeira do ódio, da intolerância e da burrice. Uma falsa profeta, entre outras centenas desse tipo que estão espalhadas pelo Brasil afora, que trabalha pelo sonho da implementação de um estado evangélico de direito no país. Um estado onde as minorias teriam que se render ao deus que teria enviado essa gente fundamentalista e insana para salvar a nação. Um deus que não se importa com gente preta, LGBT, pobre, oprimida e com qualquer outro grupo que não se encaixe nos padrões cristãos que eles instituíram.

Está na hora de pararmos de ouvir e de postar coisas de gente crente que é gente de bem, e que coloca a bandeira do desprezo ao próximo acima de tudo. E quando ouvirem “cristãos” dizendo que estão sendo perseguidos, tenham a certeza de que eles estão falando bobagens ungidas, em línguas nem tão estranhas assim.

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