A pátria acima de tudo, ou os interesses dos Estados Unidos?
A proposta de impor uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros representa um retrocesso nas relações comerciais e uma ameaça à soberania econômica do Brasil
No último anúncio do presidente Donald Trump, o Brasil foi colocado na linha de fogo de uma disputa eleitoral que pouco tem a ver conosco. A proposta de impor uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, a partir de 1º de agosto, representa não apenas um retrocesso nas relações comerciais com nosso segundo maior parceiro internacional, mas uma ameaça direta à soberania econômica do nosso país.
Trata-se de uma medida unilateral, protecionista e danosa, que pode provocar prejuízos bilionários para nossas exportações. Entre os setores mais afetados estão o petróleo, a carne bovina, o suco de laranja, o café e os bens industrializados de maior valor agregado, como autopeças, máquinas e aeronaves. Estamos falando de cadeias produtivas inteiras que geram empregos, renda e desenvolvimento em diversas regiões do Brasil.
É nesse contexto que precisamos refletir: quem, de fato, defende os interesses do povo brasileiro? Infelizmente, parte da nossa classe política parece mais preocupada em agradar líderes estrangeiros do que em proteger a economia nacional. A extrema-direita brasileira, especialmente o bolsonarismo, tem se posicionado de maneira covarde e incoerente diante desse ataque frontal aos nossos produtores. São os mesmos que vivem bradando “pátria acima de tudo”, mas se calam — ou até celebram — quando essa mesma pátria é colocada de joelhos diante de um tarifaço estrangeiro.
Enquanto isso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com maturidade diplomática e visão estratégica, tem reforçado os laços comerciais do Brasil com países da América do Sul, da Ásia e da África. Só com a China, foram 36 novos acordos; com o Chile, mais 13. Com a Indonésia e outras nações do Sudeste Asiático, o Brasil tem estreitado relações com vistas a um futuro mais integrado e multipolar, onde não fiquemos reféns das decisões unilaterais de potências como os Estados Unidos. Esse é o caminho: diálogo, multilateralismo e defesa dos interesses nacionais com firmeza e autonomia.
O Mercosul e os países do Cone Sul têm papel central nessa estratégia. Como presidente da Comissão de Mercosul e Assuntos Internacionais da Alep, acompanho de perto o esforço de reposicionar o Brasil como um ator global respeitado, que negocia com dignidade, sem subserviência. Nosso povo não pode mais pagar o preço das alianças irresponsáveis de quem, em nome de ideologias importadas, trai os interesses nacionais.
Agora, é importante falar do que essa política de Trump — aplaudida vibrantemente pelos seus aliados no Brasil — representa para o nosso estado e para a minha cidade. O Paraná é um dos maiores produtores agrícolas e florestais do país. Exportamos celulose, papel, madeira, café e derivados de soja. Somos grandes fornecedores de alimentos e insumos para o mundo. Em Guarapuava, por exemplo, as exportações chegaram a mais de 66 milhões de dólares só no primeiro semestre do ano passado — sendo que 73% desse total veio do setor madeireiro, e dois terços disso foram enviados diretamente aos Estados Unidos.
Ou seja: essa tarifa de 50% imposta por Trump representa, na prática, o risco de fechamento de mercados, queda na produção, redução de empregos e prejuízo direto para as famílias guarapuavanas. E o mais preocupante é ver políticos eleitos por essa mesma população se gabando de jamais terem votado no PT logo após o anúncio da taxação, como se isso fosse mais importante do que defender os interesses concretos da sua própria base eleitoral.
A pergunta que precisa ecoar em cada lavoura, em cada indústria, em cada cooperativa é: quem está realmente do nosso lado? Quem defende o produtor, o trabalhador, o pequeno empresário paranaense? Os que aplaudem um presidente estrangeiro quando ele prejudica o Brasil? Ou os que vão ao mundo buscar acordos, mercados e respeito internacional?
O povo precisa estar atento. Porque defender a pátria é, antes de tudo, defender o Brasil. E não há patriotismo possível onde há subserviência.
2026 está logo ali. E o Brasil não pode mais errar o lado da história.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

