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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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A pauta era para ser os mil dias de governo

"Inexplicavelmente, sem nenhum motivo específico que justificasse a abordagem sobre o tema, Bolsonaro disparou: as Forças Armadas não cumpririam uma “ordem absurda” mesmo que viesse dele", escreve a jornalista Denise Assis

Bolsonaro tenta autogolpe com cerco ao Congresso e Judiciário (Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino | Isac Nóbrega/PR)
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Por Denise Assis, para o Jornalistas pela Democracia 

A pauta era para ser os mil dias de seu governo. Inexplicavelmente, sem nenhum motivo específico que justificasse a abordagem sobre o tema, Bolsonaro disparou: as Forças Armadas não cumpririam uma “ordem absurda” mesmo que viesse dele.

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Desde o dia 7 de setembro - quando trocou a data cívica do dia da Independência, por uma balbúrdia de tresloucados, composta pelos seus fanatizados “amarelinhos” e um “contingente” de caminhoneiros, que os militares estão em silêncio. Quebrado uma única vez, pelo comandante do Exército, no dia 17, para pedir aos seus comandados, que obedeçam apenas aos seus chefes diretos e parem de dar ouvidos às redes sociais.

Naquele dia, o 7 de setembro, o “batalhão” de Bolsonaro estava disposto a tudo pela deposição do Supremo Tribunal Federal (STF), onde identificou e nomeou que havia um “canalha” (o ministro Alexandre de Moraes) e um fdp (o ministro e presidente do TSE, Luiz Roberto Barros). E tanto era assim, que bastou que convocasse os seus seguidores pelas redes sociais, e logo apareceram recursos - segundo os próprios, angariados junto a uma parcela do agronegócio -para que se deslocassem até Brasília e para a Avenida Paulista.

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Seus gritos foram ouvidos no coração de São Paulo, onde 125 mil pessoas o aplaudiram e apoiaram numa aventura que ninguém sabia onde iria dar. Nem ele.

Sem projeto para o país, a não ser o de se reeleger para safar-se da avalanche de denúncias contra ele e os filhos, acumuladas nas mãos de Alexandre de Moraes, e com o crescimento constante do ex-presidente Lula, nas pesquisas, Bolsonaro parecia não querer correr o risco de esperar a derrota nas urnas – eletrônicas – como definiu o Congresso. Partiu para o tudo ou nada. Mudou a pauta da data nacional e desfechou o golpe, certo de que teria atrás de si a retaguarda das Forças Armadas, das polícias Militares e da Polícia Rodoviária Federal.

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A princípio, deu tudo certo. E tão certo deu, que a PM do Distrito Federal foi deixada ao Deus dará, pelo governador Ibaneis Rocha Barros, em viagem ao Piauí. E, da parte da PRF, as ações fluíam bem, com os caminhoneiros barrando estradas sem nenhuma dificuldade. Por trás das cortinas, o presidente do STF, Luiz Fux, apelou para o comandante do Exército, ameaçando lançar mão do tal artigo “fetiche” de Bolsonaro e seus milicos de confiança, o 142. Não precisou. O general Paulo Sérgio de Oliveira entrou em cena e segurou as tropas. Porém, bem longe do Planalto, onde o presidente esperava que as fileiras fossem socorrê-lo. Era com elas que esperava contar. Não sabe governar sozinho. É um déspota no discurso, mas na prática não saberia o que fazer com o poder só para ele. Quais os próximos passos? Ignorava. Tinha súditos, mas não tinha, como um dia alardeou, um Exército para chamar de “seu”.

De dentro do closet, onde costuma se refugiar quando entra em pânico, gravou uma mensagem. A sua “retirada da Laguna”. “Recuem!”, era a ordem aos caminhoneiros. Mas como amainar a sanha daqueles homens parrudos e motivados por seus gritos? Como os fazer reconhecer aquela voz espremida na garganta pelo medo do descontrole que provocara no país? Precisou o ministro Tarcísio de Freitas vir a público dizer: é ele mesmo. Esqueçam a ordem de combate. Recuem!

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Chamem o Temer! Chamem o Temer, Bolsonaro pedia, do fundo do closet. Dera tudo tão certo, que deu errado. O que fazer agora, que viraria um ditador? Onde aquilo desembocaria? Como governar sem apoio dos demais poderes? O que era mesmo, governar???

Veio o Temer, num avião inteiro só para ele. Aplainou as arestas, já imbuído que estava da programação de um novo seminário para traçar nova “pinguela para o futuro” do país. Ser-lhe-ia muito útil o momento. Chegou até a pensar em voltar à cena política como pretendente ao Palácio. Mas, concentrado, tratou de dizer a um Bolsonaro prestes a ter nova crise de soluços: “Ai, ai, ai, não faça mais isto! E daqui por diante prometa ser um presidente comportado!”

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No novo figurino, depois de posar para uma capa de revista, já em pele de cordeiro, Bolsonaro reuniu os generais para a cerimônia de hoje (27/09) na plateia, em comemoração de mil dias no cargo. E para demonstrar que tem se esforçado, disse de público a frase com que pensa garantir aos militares, não ter em mente brincar de golpe, por enquanto, contando com o apoio deles. (Só o triunvirato palaciano, do barulho). 

Com o ruidoso silêncio dos últimos 20 dias, comandantes, por sua vez, mandaram uma mensagem tonitruante: não arranje encrencas. Estamos dizendo à sociedade que as Forças Armadas não são esponja de aço. Não temos mil e uma utilidades. Não acataremos ordens absurdas. O nosso papel é a defesa do Estado.

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Agarrado ao cargo, de onde sabe que os Comandos podem apeá-lo, Bolsonaro repetiu: as Forças Armadas não cumprirão, “ordens absurdas”. Nem dele, que não possui Exército algum. Só um mandato, e que se não andar na linha corre sérios riscos de acabar logo ali.

"As Forças Armadas estão aqui. Elas estão ao meu comando, sim, ao meu comando. Se eu der uma ordem absurda, elas vão cumprir? Não. Nem a mim nem a governo nenhum. E as Forças Armadas têm que ser tratadas com respeito", disse, à espera da nota na arguição.

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