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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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A pauta não é mais a fome. É a dívida pública...

"A desigualdade e a fome não foram embora só porque se afastou o monstro do fascismo", diz Denise Assis aos "comentaristas amigos do 'mercado'"

Lula, William Bonner e Renata Vasconcellos (Foto: Ricardo Stuckert | Reprodução/TV Globo)
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Por Denise Assis, para o 247

Estranhos comentaristas, os nossos... Durante a campanha eleitoral, quando estava em risco o sistema democrático (ainda não de todo a salvo), fizeram o seu trabalho com esmero, botando o dedo nas feridas expostas da gestão daquele lá, o “invisível”. 

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Batiam com a elegância de sempre, e foram poucas as que lamentavelmente passavam apenas raspando, como as falas mais para jocosas, do que para combatentes, sobre o assalto aos cofres públicos na maior e mais deslavada compra de votos que se viu. 

Antes do pleito, não faltavam nos veículos matérias caudalosas sobre os 33 milhões de famintos fabricados por Paulo Guedes ao longo dos últimos quatro anos, o dever de casa bem executado, os números na ponta da língua.

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Urnas apuradas, ainda sacudindo a areia da roupa, pós eleição, já estavam em campo cobrando a linha a ser adotada pelo governo eleito, para a economia, um nome para a pasta para acalmar o “mercado” (e os patrões, faltava dizer) e já a estratégia exposta pelo presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, em todos os palanques que subiu - a de tirar do teto de gastos as despesas com o Bolsa Família -, virou quase pecado. Virou “promessa de campanha”.  

A princípio apelidada de PEC da Transição, com valor calculado em R$ 175 bilhões para o programa que destina R$ 600,00 a cada família e R$ 150,00 para cada criança abaixo dos seis anos, e o desatar de grilhões que amarram ações sociais tais como recursos destinados ao SUS, ao Programa Nacional de Alimentação Escolar, o Farmácia Popular e o programa das cisternas, foram logo encarados como uma ameaça à economia. 

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Adeus matérias sensíveis sobre a pobreza. O que antes da eleição eram recursos para o Bolsa Família, apontados como aceitáveis, na elaboração de uma PEC da Transição, agora já mudou de nome para o pejorativo “PEC-Fura-teto”.  

Mais que depressa deitaram falação sobre o risco de um aumento descontrolado da dívida pública, com direito a ameaças do tipo: quando a dívida de um país cresce, o risco do calote aumenta, levando o governo a pagar juros mais altos para continuar se financiando. E: mais juros, maior inflação... 

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Isto, sem considerar que os investimentos públicos estão no menor patamar da série histórica em termos reais, de R$ 22 bilhões (0,2% do PIB), como apontaram em artigo assinado recentemente na Folha, Esther Dweck (Professora do Instituto de Economia da UFRJ) e Bruno Moretti (Economista e assessor legislativo).

Toda aquela desigualdade social demonstrada em reportagens sensíveis, para espantar a ameaça fascista virou “risco de calote”, o retorno dos juros altos, o aumento imediato de inflação, atingindo como um raio os mais pobres! A PEC foi transformada em uma peça elástica e autoral. Quando apresentada pelo partido eleito, no valor de aproximadamente R$ 200 bilhões, para reduzir o fosso entre os mais ricos e os miseráveis, é a “PEC Fura-teto” (nenhuma menção aos quase R$ 800 bi além teto, do governo que se vai). Mas se apresentada pelo senador de olhos azuis, amigo do mercado, deve ficar na casa dos R$ 80 bi que dá, na boa que dá. 

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O que os comentaristas amigos do “mercado” não avaliam, é que além da conta da dívida pública, que deveria ser encarada como investimento, pois é para gerar produtividade e bem-estar para a população, há uma fatura a ser cobrada e levada em conta. A desigualdade e a fome não foram embora só porque se afastou o monstro do fascismo, com uma montanha de votos. O governo, apesar de não ser só do PT, como alertou Lula, em um dos seus comícios, é de todos que votaram pela redução da pobreza. A pauta social é do país. E desse jeito, não haverá país para geral.

“Do ponto de vista macroeconômico, a redução de despesas com elevados efeitos multiplicadores sobre a renda e indutoras do aumento da capacidade produtiva e tecnológica do país reforça a expectativa de estagnação do Produto Interno Bruto (PIB) per capita em 2023. O mercado estima crescimento de apenas 0,7% para o PIB no ano que vem”, escreveu a professora, num alerta. 

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“É nesse contexto que a equipe de transição do governo eleito, em parceria com membros do Legislativo, apresentou a “PEC do Bolsa Família”, visando o consenso político,” esclareceu a acadêmica. 

Ou aproveitamos o momento de mobilização e o mínimo de consciência de que nesse caminho não dá mais, ou arranjamos um jeito de inserir o país inteiro na rua Faria Lima, onde o ar é perfumado, a desigualdade, se existe, é entre uma etiqueta de grife e outra na gola do terno e um almoço de negócios dá para bancar um mês de merenda escolar.

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