A PEC da blindagem e o rugido da fera acuada
A PEC da blindagem revela mais medo do que força, e seu cálculo de prosperar é quase nulo diante da sociedade e do STF
A fera acuada é a imagem da força em desespero. Quando cercada, sem saída e sem fuga possível, deixa de agir com cálculo e prudência. Todo o instinto se concentra em sobreviver, e a energia reprimida se transforma em agressividade. É nesse instante que ela se torna mais perigosa: não luta por vitória, mas pela própria existência.
Foi nesse espírito que se deu a aprovação, a toque de caixa, da chamada PEC da blindagem na Câmara dos Deputados. O Supremo Tribunal Federal acompanha de perto o desembolso das emendas do orçamento secreto, e o cerco da Justiça ameaça atingir dezenas de parlamentares. Sentindo-se encurralados, muitos deputados agiram como a fera que percebe não ter saída: reagiram com violência institucional, não para fortalecer a democracia, mas para proteger a si mesmos.
A pressa, a ausência de debate e a fragilidade dos argumentos mostram que não se tratou de um gesto de confiança, mas de medo. A PEC funciona como uma garra lançada contra o controle externo, uma tentativa desesperada de criar um escudo protetor diante do risco de exposição e punição.
Assim como na natureza, em que a fera acuada ataca sem medir consequências, também no Parlamento essa reação pode ser destrutiva. A manobra expõe a disposição de usar o poder Legislativo em causa própria, tensionando o equilíbrio entre os Poderes e corroendo a legitimidade das instituições.
Entretanto, há um dado que os parlamentares não podem ignorar: o cálculo de que essa iniciativa prospere é quase nulo. A sociedade acompanha cada vez mais atenta os movimentos de blindagem da classe política e tende a rejeitar qualquer medida que represente retrocesso na transparência. O STF, por sua vez, já demonstrou disposição em enfrentar a lógica do orçamento secreto e não recuará facilmente diante de um arranjo feito para paralisar investigações.
Se a fera acuada rugiu com força, o eco não será suficiente para intimidar o país. O instinto de sobrevivência pode ter guiado a Câmara, mas será a resistência social e institucional que definirá os limites dessa tentativa de blindagem. No fim, o gesto extremo não passará de um ataque no vazio — mais revelador da fragilidade de quem o praticou do que de sua força.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.




