A pobreza, o desemprego, o desamparo e a hipocrisia
Seria engraçado, não fosse trágico, que os convertidos à sensibilidade social não fossem aqueles que reclamaram dos direitos trabalhistas para as domésticas, também de negros e índios nas universidades, de “favelados” nos aeroportos, de pobres trocando bicicletas e jegues por motocicletas e adquirindo casa e carro próprios.
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De repente uma pá de gente adquiriu uma incrível noção de solidariedade, notaram? A pobreza, o desemprego e o desamparo passaram a comover gente que – eu bem me lembro – defendia com unhas e dentes a meritocracia, se eriçava só de ouvir em Fome Zero, Bolsa Família e Cotas, enchia a boca para dizer que “tem que ensinar a pescar e não dar o peixe”, criticava todo e qualquer assistencialismo como “politiqueiro”, “curral eleitoral” e “populismo barato”, responsabilizava as vítimas e não seus algozes pela miséria que lhes castigava e não raro definia-os como “vagabundos”, “preguiçosos” ou “indolentes”.
Pois entonces, de uma hora pra outra esses arautos do preconceito de classe transformaram-se quase que como num passe de mágica nos seres mais preocupados e condoídos com o sofrimento alheio. Seria engraçado, não fosse trágico, que os convertidos à sensibilidade social não fossem aqueles que reclamaram dos direitos trabalhistas para as domésticas, também de negros e índios nas universidades, de “favelados” nos aeroportos, de pobres trocando bicicletas e jegues por motocicletas e adquirindo casa e carro próprios.
Não ficaram na queixa invejosa ou recalcada. Investiram contra a Democracia e a estabilidade econômica, financiaram e apoiaram grupos políticos extremistas e aplicaram um Golpe de Estado que abriu as portas do Inferno para a destruição dos três pilares do Estado: Democrático de Direito, do Bem Estar Social e de Soberania Nacional.
Portanto, é fácil perceber que tais manifestações são puro mise-en-scène elitista. Fosse diferente não teriam aprovado a PEC da Morte, as Reformas Trabalhista e Previdenciária, a Terceirização, tampouco eleito o homem que hoje lamentavelmente conduz os destinos da Nação. A pobreza, o desemprego e o desamparo tem DNA na ideologia e na práxis das classes dominantes, nenhum sinal de altruísmo ou arrependimento, apenas hipocrisia – da grossa.
Resta aos trabalhadores e trabalhadoras, aos pobres e excluídos, ao povo, observar e ser pacientemente esclarecido quanto aos falsos apelos dirigidos por quem dia após dia lhe rouba mais do que suas condições materiais de sobrevivência, também lhe sonega o sonho. O combate à pobreza, ao desemprego e ao desamparo passa por redistribuição de renda, reformas estruturais, políticas públicas, protagonismo e prioridade das classes populares, novos métodos de governança e poder, não por miragens ou demagogias dos senhorios da ancestral Casa Grande que até hoje nos explora, oprime e exclui.
“Se não tens o que comer
Como pretendes defender-te?
É preciso transformar
Todo o Estado
Até que tenhas o que comer.
E então serás teu próprio convidado.
Quando não houver trabalho para ti
Como terás de defender-te?
É preciso transformar
Todo o Estado
Até que sejas teu próprio empregador.
E então haverá trabalho para ti.
Se riem de tua fraqueza
Como pretender defender-te?
Deves unir-te aos fracos.
E marcharem todos unidos.
Então será uma grande força.
E ninguém rirá.”
Bertolt Brecht, “Canção da Saída”
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