A Política Energética dos Chihuahua: Gás, Gás, Gás
Continuem latindo – e comprando GNL russo...
Comecemos com um conto do Império se gabando para o vento.
Mr. Disco Inferno ordena que a OPEC e a OPEC+ reduzam os preços do petróleo, porque, na cabeça dele, isso pode resolver a guerra na Ucrânia – assim tipo forçando Moscou a se sentar à mesa devido à queda dos rendimentos do setor energético. Isso, em si, resume o nível do lixo com que a cornucópia de acrônimos que passa por serviços de inteligência vem alimentando o Presidente.
Trump em Davos: “Vou pedir à Arábia Saudita e à OPEC que baixem os preços do petróleo (...) Se o preço baixasse, a guerra Rússia-Ucrânia terminaria imediatamente, No momento, o preço está alto o suficiente para que a guerra continue (...) Com a queda dos preços do petróleo, exigirei que as taxas de juro caiam imediatamente. E da mesma forma, eles devem baixar no mundo inteiro. As taxas de juros devem seguir nosso exemplo”.
Como seria previsível, a OPEC+ – basicamente comandada pela Arábia Saudita e pela Rússia – disse Nyet. Além do fato de que eles não ligam muito para taxas de juros, no front energético eles continuarão a fazer o que planejaram, inclusive, em breve, reduzir a produção, mas em níveis aceitáveis.
A Standard Chartered, um ator de primeira linha, observou que a OPEC tem um poder limitado no que se refere a pôr fim à guerra imediatamente com a redução dos preços de petróleo, e que ministros da OPEC veem essa tentativa de “estratégia” como muito ineficiente e de alto custo.
Deixemos de lado os ditames imperiais.
O plano estratégico de vitória dos chihuahuas - Como ressaltado anteriormente, os Estados Unidos – usando fracking – tem gás suficiente para consumo interno, mas não o bastante para exportar em massa para a União Europeia, em razão de problemas de liquefação. Isso explica por que, mesmo comprando mais energia dos Estados Unidos a preços exorbitantes, a União Europeia de fato continua em grande parte dependente do GNL russo – e de outras fontes não-estadunidenses – desde a sabotagem dos Nord Streams, revelada em detalhes por Sy Hersh.
Mesmo operando em capacidade máxima, o Império do Caos simplesmente não consegue fornecer todo o gás necessário à União Europeia. Acrescente-se a isso que houve praticamente zero de investimento, tanto no tão necessário aumento da exploração e como na infraestrutura indispensável para fazer frente ao aumento da demanda na União Europeia.
No mercado interno de petróleo dos Estados Unidos, as coisas se tornam realmente kafkianas. O transporte rodoviário – um gigantesco componente do setor de serviços, depende do diesel importado da Rússia, que tem que ser misturado a petróleo Made in America para para ser utilizável em caminhões.
Muda a cena para Davos, que veio e se foi mal dando sinal. A Medusa Tóxica von der Leyen da Comissão Europeia, disse em Davos que a Europa havia “reduzido substancialmente” e em “tempo recorde” sua dependência nos combustíveis fósseis russos.
Bobagem. A realidade energética na Europa é sombria. O GNL russo de Novatek, atualmente, é vendido a cerca de 4,5–4,7 dólares por MMBtu. O que é mais caro que gás de gasodutos, mas ainda muito (itálicos meus) mais barato que o GNL dos Estados Unidos.
Todos os profissionais do setor, do Golfo Pérsico à Antuérpia, sabem que a Europa vem importando GNL russo como nunca importou antes. É isso – ou uma morte seca. Paralelamente, a Rússia irá triplicar sua capacidade de fornecer GNL até 2035. Resultado: o que quer que venham a inventar os tais “comissários de energia” de Bruxelas, a Rússia continuará de importância fundamental para a segurança energética da Europa.
Não há limites – sequer estratosféricos – para a estupidez da Eurocracia, que corrói o sistema como uma praga. Os europeus não apenas conseguiram fechar seus próprios gasodutos, mas ainda estão “investigando” o que de fato foi um ataque terrorista ao Nordsream.
Resultado: eles agora estão importando mais (itálicos meus) gás russo, embora por meios diferentes, de fornecedores terceiros, e pagando uma fortuna.
É isso que pode ser descrito como o plano estratégico de vitória dos chihuahuas
O Tesouro dos Estados Unidos sanciona Mr. Disco Inferno - As exportações de GNL russas alcançaram uma alta recorde no ano passado, com um crescimento de 4% – e produzindo 33,6 milhões de toneladas. O recorde mensal era de 3,25 milhões de toneladas em dezembro de 2024, 13,7% maior do que em novembro.
O maior importador russo é a Yamal GNL: 21,1 milhões de toneladas, 6% mais que em 2023.
Muda a cena para os proverbiais resmungos estadunidenses na forma de o Secretário de Estado Adjunto para Recursos Energéticos Geoffrey Pyatt ordenar o “término definitivo” da exportação de gás russo para a Europa.
Dane-se a opinião de países como Hungria, e danem-se suas necessidades.
Pyatt disse ao Conselho Atlântico: “Hoje somos o maior exportador de GNL de todo o mundo, e ao final do governo Trump, teremos dobrado nosso desempenho atual […] Ficou claro que a Bruxelas decidiu chegar a zero [importação de gás da Rússia] até 2027 ... e os Estados Unidos dão seu forte apoio a esse objetivo”.
Meu Deus. Será que essa gente sequer lê as manchetes mais importantes? Tal como reportado pelo Politico, a União Europeia está “devorando” gás russo em níveis sem precedentes desde o início de 2025, tendo importado 837.300 toneladas métricas de GNL apenas nas duas primeiras semanas do ano.
O acordo de trânsito pela Ucrânia foi encerrado definitivamente – pelo menos por enquanto – a começar de 1º de janeiro. A ação agora acontece nas rotas marítimas.
Entra em cena o Tesouro dos Estados Unidos com um novo pacote de sanções contra – o que mais seria? – o comércio internacional de petróleo russo, tendo como alvo até 5,8 milhões de barris diários enviados por mar.
Nas atuais circunstâncias, o mercado global de petróleo vem tendo um superávit de cerca de 0,8 milhões de barris por dia. Os preços do petróleo, em 2025, devem permanecer em cerca de 71 dólares o barril de Brent cru (no momento, o preço é de 76,2 dólares). Não exatamente o que deseja Mr. Disco Inferno.
Suponhamos então que esses 5,8 milhões de barris de petróleo russo – sob rígidas sanções – venham a desaparecer do mercado global. Nesse caso, teríamos um aumento vertiginoso dos preços de petróleo até uma média de 150/160 dólares o barril. Mais uma vez, longe do que deseja Mr. Disco Inferno: ele vociferou a promessa – e continua vociferando – de uma superpotência petrolífera MAGA e de preços de petróleo reduzidos para 50 dólares o barril.
Segundo o orçamento russo para 2025, o petróleo está cotado a 65,9 dólares o barril.
Se o Tesouro dos Estados Unidos conseguir, em um truque de mágica, fazer “desaparecer” esses 5,8 milhões de barris, os rendimentos russos aumentariam para cerca de 88,2 bilhões de dólares, mesmo considerando a queda no volume das exportações.
Petróleo a preços altos é prejudicial para a competitividade dos Estados Unidos. Então, alguém deveria dizer a Mr. Disco Inferno que essa jogada do Tesouro, na verdade, terá efeitos mais negativos para os sonhos trumpianos que para a Rússia.
Por toda a Eurásia, a Rússia está em uma situação muito vantajosa, especialmente face a seus parceiros dos BRICS. O gasoduto Poder da Sibéria para a China está a todo o vapor, e o Poder da Sibéria II deve começar a operar em 2030. Um aumento nas exportações de GNL para o Irã é negócio fechado – especialmente depois da assinatura da parceria estratégica no começo desse mês.
No presente ano, um acordo também será assinado na Rússia referente ao transporte de GNL para o Afeganistão por comboios de navios-tanque. O próximo passo será o Gasodutistão: talvez, finalmente, o passo necessário para construir uma variante do TAPI (o gasoduto Turcomenistão-Afeganistão-Paquistão-Índia), mas com gás proveniente da Rússia.
O grande cliente do GNL russo, fora a China, é, obviamente, o parceiro de BRICS Índia. Um Paquistão estabilizado é do interesse da Rússia, do Irã, do Afeganistão e da Índia – não uma Islamabad remotamente controlada por Washington, como é a situação atual – para a abertura final das rotas de GNL para a Índia.
Quanto aos chihuahuas europeus, divirtam-se com suas fantasias de “defesa estratégica”. Continuem latindo – e comprando GNL russo.
Tradução de Patricia Zimbres
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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