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Antonio Soares

Servidor público, licenciado e mestre em História. Historiador, arqueólogo e atual diretor do Museu Arqueológico do Rio Grande do Sul

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A política reptiliana bolsonarista

A essa altura do campeonato, diante da catástrofe em que nos encontramos, não podemos mais reagir da mesma forma toda vez que um bolsonarista, ou o próprio, joga diante de nós um “rabo de lagarto”

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Virar jacaré ganhou outro significado nos últimos meses - se é que algum dia teve algum. Faz anos que venho tentando entender o bolsonarismo. Creio que a metade do mundo também. Nós, de humanas, estamos mergulhados em análises desde 2016 sobre os fenômenos que circundam a ascensão da extrema direita no mundo. Encaramos Bolsonaro como parte de algo global, inclusive com suas táticas que subvertem toda a política brasileira. Entre mentiras, insinuações e dissimulações, percebe-se que há uma engenharia, ainda que tosca, mas que está funcionando.

Análises sobre os discursos, análise históricas, análises políticas, análises psicológicas, análises sociológicas, antropológicas, etc. Análises que ora se complementam, ora se contradizem. O bolsonarismo não apenas é passível de análises, ele demanda constantes empreitadas analíticas para decodificar seus atos e verbalizações. Esforços que logo ali se perdem diante da necessidade de novas análises, diante de novas declarações absurdas e vazamentos escandalosos – calculados ou não.

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Já se percebeu o uso das cortinas de fumaça para distração dos adversários. Entretanto, sugestionado pela ideia imbecil do risco de virar um jacaré ao ser vacinado, percebi a similaridade do comportamento bolsonarista com um tipo específico de réptil. A tática bolsonarista pode ser comparada com a tática dos lagartos. Alguns lagartos, inclusive, diante do perigo se inflam para parecer mais assustadores, mas na verdade, sua principal defesa é distrair os predadores com um pedaço desprezado de si mesmo, a cauda. Autotomia é o nome dado para o ato da auto amputação.

Mas o bolsonarismo não apenas joga seus “rabos” para distrair os adversários. O que mais me chama a atenção é que o bolsonarismo joga “os rabos” dos próprios adversários para distraí-los. Enquanto este modus operandi não ganha um conceito melhor, ficaremos com o conceito de “distração por rabo de lagarto alheio”. Um exemplo fático foi o discurso de Flávio Bolsonaro argumentando que a CPI – que vai apurar a negligência e projeto bolsonarista no não combate à pandemia – poderia causar mortes por supostamente não respeitar distanciamento social durante os trabalhos. Distanciamento social, medidas preventivas ao contágio pelo Sars-Cov-2 que ele, sua família e o todo o bolsonarismo despreza. Percebemos que ele usa conceitos caros para seus adversários para tentar provocar uma distração. A reação esperada seria uma discussão sobre os supostos riscos de exposição por parte dos membros da CPI. Flávio Bolsonaro tenta distrair o adversário atirando um pedaço do próprio adversário. Um “rabo de lagarto alheio”.

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A apropriação dos conceitos caros para a esquerda por parte do bolsonarismo tem sido a tática principal como instrumento de provocação e distração. Foi desta forma que praticamente criminalizaram todo um campo político, jogando sobre a esquerda todas as pechas que recaíam sobre eles mesmos. Desde a corrupção até a depravação. Por isso, em menos de cinco anos, com ajuda da mídia, transformaram em vilões nacionais aqueles que, em menos de 10 de governo, mexeram (ainda que timidamente) nas estruturas de 500 anos de exploração colonial. Talvez, e isso será objeto de outro escrito, estejamos presenciando uma “reação colonialista”.

Contudo, o bolsonarismo se vale de uma característica da esquerda: a autofagia. Historicamente o campo progressista é fragmentário. Produz as mais contundentes críticas sobre si mesmo. E o faz em público! Se fosse apenas lavar roupa suja em público, seria ótimo! Pois daria mais transparência aos processos político-partidários. Mas são verdadeiras carnificinas políticas. A própria esquerda esquentou, nos bastidores, as teorias de conspiração sobre o caso Celso Daniel, a suposta corrupção e fortuna da família Lula, sobre a extrema rigidez de Dilma, etc. As análises bem elaboradas, com pesquisa e bem fundamentadas também são publicadas em momentos inoportunos. Como exemplo podemos tomar o Greg News, programa de Gregório Duviver, que foi ao ar no último 14 de maio. Argumenta, com razão, que a política punitivista e as chacinas são uma constante na história brasileira. Demonstra que a ação de implantação das UPPs, em novembro de 2010, a “Ocupação do Complexo do Alemão”, durante o governo de Lula, deixou mais mortos que a Chacina do Jacarezinho. Embora seja uma análise correta, a forma e a oportunidade estão, sob o ponto de vista pragmático, são desastrosos. Gregório acabou de criar um “rabo de lagarto” para o bolsonarismo jogar quando o assunto for violência policial e violência social. Óbvio que o bolsonarismo, talvez o cirismo também, criarão comparações falaciosas entre Lula e Bolsonaro. Deturpando uma discussão importante para a sociedade brasileira com um punhado de farsas a serem desmascaradas. O “rabo de lagarto” fez o seu papel.

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E o que é o “soltar o rabo de lagarto” se não uma farsa para salvar a própria pele? Algo que é até comum na microfísica do poder em Brasília. Mas nos últimos anos presenciamos “rabos de lagartos” hipertrofiados serem jogados sobre o Brasil. Toda a narrativa bolsonarista é construída sobre grandes farsas. Desde a sua pretensa honestidade moral até sua pretensa potência ditatorial. Desde seu liberalismo até suas qualificações acadêmicas. São tão verdadeiras quanto a Lava-Jato ou a facada de Juiz de Fora. São tão perene quanto a série “O mecanismo”. Perdoem o sarcasmo!

A destruição da política brasileira fica evidente quando há três pré-candidatos a presidente da República sem filiação partidária. O atual presidente está sem partido faz anos, e ninguém se importa! Esta destruição da credibilidade dos partidos, dos sindicatos, das representações populares, beneficia a exploração da riqueza e do trabalho do Brasil. Estamos em pleno processo colonial. A essa altura do campeonato, diante da catástrofe em que nos encontramos, não podemos mais reagir da mesma forma toda a vez que um bolsonarista, ou o próprio, joga diante de nós um “rabo de lagarto”. Quando nos atacam com nossos próprios conceitos. Nossa reação até agora foi de correr atrás dos nossos próprios “rabos”, literalmente. Parece até que gostamos disso! Por isso, acredito que para instaurar um estado de arte na política brasileira, com as bases fortes, com partidos fortes, devemos abandonar a ingenuidade de um vira-lata caramelo. Que fica feliz em correr atrás do próprio rabo que abana pela felicidade. Diante dos “rabos de lagartos”, tenhamos a esperteza das raposas.

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