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André Barroso

Artista plástico da escola de Belas Artes da UFRJ com curso de pós-graduação em Educação e patrimônio cultural e artístico pela UNB. Trabalhou nos jornais O Fluminense, Diário da tarde (MG), Jornal do Sol (BA), O Dia, Jornal do Brasil, Extra e Diário Lance; além do semanário pasquim e colaboração com a Folha de São Paulo e Correio Braziliense. 18h50 pronto

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A problemática fala de Friedrich Merz

Declaração de Merz expõe como a extrema direita se sente cada vez mais à vontade para normalizar discursos xenófobos e flertar com o revisionismo histórico

O chanceler da Alemanha, Friedrich Merz - 21/10/2025 (Foto: REUTERS/Heiko Becker)

O chanceler da Alemanha, Joachim-Friedrich Martin Josef Merz, discursou na sua volta à Alemanha depois da COP30, no Pará, dizendo: "Todos ficaram felizes por termos voltado, principalmente por sair daquele lugar". Um mal-estar numa fala recheada de neonazismo ariano e xenófobo. Ainda se tratando da Alemanha, que a princípio seria o país que sempre estaria atento a um crescimento do fascismo no país, está ficando cada vez mais claro que a direita tradicional está aderindo à popularidade da extrema direita, que avança de braços dados com a internet.

O corte que tem essa fala, assim como falas esdrúxulas de representantes no Brasil, usa uma estratégia de Janela de Overton. Criado por Joseph P. Overton, o conceito mostra que políticos agem nessa janela para não serem considerados extremos pela opinião pública. A todo momento é testada e, dependendo dos reflexos da sociedade, é mantida ou deslocada a janela. Ou seja, manipulam aqueles discursos que podem e não podem aparecer na mídia. As falas da extrema direita mundial, que despejam falas problemáticas, racistas, machistas, homofóbicas, se forem avaliadas de uma forma, podem expandir ou retrair, mas sem nenhum pudor, por canais na internet e até por grandes meios de comunicação.

Uma estratégia da metapolítica, criada pela alt-right mundial, trabalha movendo essa janela o tempo inteiro. Vide Bolsonaro, querendo colocar temas fascistas em pauta e depois desmentindo o que falou. Isso é usado de forma crua nas redes sociais ou manipulando com mais cuidados, como grandes jornais. Agora vemos um grande jornal brasileiro falando que Bolsonaro merece tratamento especial por se tratar de um ex-presidente e ter direito a prisão residencial. Porém, em 31 de janeiro de 2019, o mesmo jornal reclamava dos privilégios de Lula na prisão, falando que ele deveria ser tratado como todos os outros presos no Brasil.

A Alemanha passa por um problema econômico de estagnação no seu crescimento, enfrenta uma transição energética, com a Guerra da Ucrânia atrapalhando as conexões, o envelhecimento da população e, além disso, a escassez de mão de obra qualificada. Há instabilidade política, com disputas grandes entre os dois polos, agravadas pelas tarifas impostas pelos EUA, que impactam diretamente suas exportações.

Um chanceler que fala em proteção climática, investindo mais de 300 milhões na proteção da floresta amazônica para o Fundo Florestas para Sempre (TFFF), mas mostra incômodo ao pisar na própria floresta. Merz sempre disse que uma economia forte e a inovação tecnológica são as chaves para enfrentar a crise climática, porém podemos lembrar do mesmo discurso de Bolsonaro, de que indígenas não teriam nem mais um milímetro de terras, e de Trump, que saiu de todas as conferências a favor do clima do planeta. A extrema direita é alinhada em seus propósitos e discursos fascistas.

Uma fala constrangedora, triste e que reflete os caminhos que o fascismo mostra nos novos tempos, com alinhamento através das redes sociais desse discurso problemático. Já não seria estranho Merz se comprometer com as pautas da extrema direita internacional, mas o combustível desse comprometimento é que Friedrich Merz é neto de Josef Paul Sauvigny, ex-político membro do NSDAP. Sauvigny era tão nazista que chegou a nomear uma rua em homenagem a Hitler durante seu governo e, com a desnazificação, essa rua foi renomeada de volta ao seu nome original.

A grande mídia, com a revolta de todos os brasileiros e percebendo que cada vez mais dão mais pontos ao Lula, vai falar sobre a forma como o chanceler alemão se referiu a Belém e sobre os acrobatas. Você vai se perguntar: que acrobatas? Rapidinho você esqueceu da fala do chanceler.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.