A propaganda criada para cutucar a infantilidade da extrema direita
“O vídeo das Havaianas conseguiu o que pretendia ao mexer com a estupidez de quem só entende mensagens simplificadas”, escreve Moisés Mendes
Até o cunhado do estagiário do marketing das Havaianas sabe que é uma provocação o vídeo com Fernanda Torres preocupada em não começar o ano com o pé direito. Que só funcionou porque as lideranças e as bases da extrema direita são infantis, não só no Brasil.
O bom é que temos humor depois do cansaço com o excesso de sobriedade de Hugo Motta, Davi Alcolumbre, Guilherme Derrite, Sóstenes Cavalcante. Estava faltando a guerra das Havaianas para encerrar o ano.
O fascismo bem crianção precisava de uma provocação que cutucasse sua infantilidade com alguma imaginação. Eles morderam a isca, as Havaianas vão vender como nunca e o chinelo Rider voltará com força ao veraneio em Balneário Camboriú.
A propaganda dos chinelos é mais uma prova de que o fascismo infantilizou toda a direita. Temos a primeira afronta de um produto de massa declaradamente dirigida à estupidez desse vasto público.
O vídeo de Fernanda Torres é um marco. As Havaianas vão dizer que não é nada disso, que não mete os pés pelas mãos, que pés não têm ideologia, mas será conversa pra pé dormir.
Outros produtos poderiam explorar esse filão, como o carro que tem acelerador no pé esquerdo e a fruteira de Ipanema que só vende frutas vermelhas.
É a adequação do marketing incomodativo às tolices de quem acredita que marcianos poderiam apoiar o golpe. Quase todas as ideias, as falas e as atitudes da extrema direita são infantis, incluindo a Coca-Cola que Tarcísio de Freitas deve tomar de canudinho.
É por isso que Flávio não é o candidato da direita, mas do papai. Antes de ser um nome assumido pela máquina do bolsonarismo, o filho precisa ter a unção de quem manda em casa, mesmo estando preso.
Nikolas Ferreira virou um fenômeno porque é mais do que imaturo, é infantil. Guardar dinheiro vivo em casa é uma coisa infantil. Tem todos os ingredientes das condutas que remetem à infância e aos esconderijos dos dinheirinhos.
A minuta do golpe é um troço infantil, pela forma como foi elaborada e circulou e pelo conteúdo precário. O texto com o pensamento digitalizado do general Mário Fernandes, para assassinar Lula, Alckmin e Moraes, é uma atitude criminosa com marcas de criancice.
O fascismo só prospera pelas simplificações de ideias e discursos, ou de narrativas, como eles dizem. É da contração de coisas complexas, das suas sínteses às vezes grosseiras, que a extrema direita vive nos Estados Unidos, na Argentina, no Brasil e agora no Chile.
Desencantos, desesperanças e desilusões, muitas das quais provocadas pelas esquerdas, acionam a infantilidade da direita. Que é regressiva porque é disso, dessa infantilidade, que seus líderes dependem.
Os estúpidos acreditam que Fernanda Torres os provocou porque de fato há uma provocação. Que só funciona porque a propaganda usa chinelos, os dois pés, a dualidade, o direito e o esquerdo, para implicar com o público que não irá consumi-los e para conquistar os pés do outro lado.
É singelo e simples e por isso mexeu com o bolsonarismo. A propaganda finalmente desembarcou na polarização da política, e tinha que ser com Fernanda.
É o fato do fim do ano, quase o primeiro sutiã, depois de décadas sem uma grande sacada do que chamavam de publicidade. As Havaianas não vão quebrar por causa da reação da direita, assim como Zezé Di Camargo não quebrará o SBT.
Esse é o caminho. Para chegar à cabeça do fascismo, falem dos seus pés, porque assim eles entendem. Mirem as vulnerabilidades de quem só capta mensagens, contra e a favor, se forem condensadas e simplificadas.
Se a humanidade tivesse três pés e a mesma provocação fosse feita, talvez eles não entendessem, até porque um pé seria de centro, e o centro não existe mais no Brasil, na Argentina, na Espanha.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.




