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Paulo Moreira Leite

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A propaganda imoral de Wajngarten vai do Araguaia a Auschwitz

"Em vez de divulgar informações de interesse público, SECOM glorifica massacres da ditadura e utiliza referências nazistas para fazer propaganda do governo", escreve Paulo Moreira Leite, do Jornalistas pela Democracia

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Por Paulo Moreira Leite, do Jornalistas pela Democracia

Depois que uma versão copisdescada   da inscrição nazista no portão  de Auschwitz ( "O trabalho liberta") transformou-se num escândalo moral, Fabio Wajngarten defendeu-se com um argumento infantil: "Eu, chefe da SECOM, sou judeu!," disse, tentando passar a idéia de que  essa condição pudesse servir de álibi para contaminar a comunicação do Estado brasileiro com a perversidade criminosa do holocausto. (Em Auschwitz um milhão de judeus  foram  mortos em camaras de gás).

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Na vida cotidiana, a frase "eu sou judeu" tem valor reconhecido  e sempre será uma afirmação necessária enquanto a humanidade não tiver se libertado de manifestações  racistas. Mas é  imoral, quando utilizada apenas  para manifestar hipocrisia.

"É lamentável ver, mais uma vez, questões caras ao judaísmo e à humanidade em geral serem banalizadas e emuladas, ofendendo a memória das vítimas e dos sobreviventes, em um momento já tão difícil do nosso país e do mundo” diz nota assinada por Fernando Lottenberg, o presidente da Confederação Israelita do Brasil (Conib).

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Numa reação mais dura, o Instituto Brasil-Israel afirmou:  "Não é mais necessário insistir no fato de que o Governo Federal utiliza referências do nazismo. Quem tinha dúvidas, já não as têm. Se segue no barco, compactua, pelo menos em parte, com esse ideário. A história cobrará o preço."

O episódio revela, mais uma vez,  um óbvio desvio de finalidade  na SECOM. Em vez de fazer comunicação social,  serviço técnico e justificável em qualquer país, ainda mais numa nação de 210 milhões de habitantes, a secretaria faz propaganda de ideias políticas.

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Mal-disfarçado na frase que remete a Auschwitz,  este comportamento ficou escancarado há  uma semana, quando o coronel Sebastião Moura Curió, um dos responsáveis pela repressão a Guerrilha do Araguaia, na década de 1970 do regime militar, fez uma visita fora de agenda a Jair Bolsonaro.

Naquele dia, uma nota da SECOM empregou o termo "Heróis do Brasil" para se referir aos militares que participaram de  uma operação na qual dezenas de pessoas foram presas e torturadas, enquanto  corpos de pelo menos  67 guerrilheiros se encontram desaparecidas até hoje.

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Em linguagem inaceitável para quem fala em nome do Estado brasileiro, a SECOM referiu-se a Curió nos seguintes termos: "a guerrilha do Araguaia tentou tomar o Brasil via luta armada. A dedicação deste e de outros heróis ajudou a livrar o país de um dos maiores flagelos da história da humanidade: o totalitarismo socialista, responsável pela morte de aproximadamente 100 milhões de pessoas em todo o mundo".

Entre as vítimas da operação militar contra a guerrilha, encontra-se o dirigente comunista Maurício Grabois (1912-1973),  quinto filho de judeus ucranianos que se instalaram em Salvador para fugir dos pogroms em seu país.  No Araguaia, Grabois  foi um dos principais lideres da guerrilha, morto em 25 de dezembro de 2013.  Ali também morreu seu filho, André Grabois, executado dois meses antes.

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Nos 21 anos de ditadura militar, judeus de várias partes do país se engajaram nos movimentos de resistência, como Ana Rosa Kusinsky, Chael Schreier, Pauline Philipe Reichstul. Morto no DOI-CODI paulista, Vladimir Herzog tornou-se símbolo da violência crimosa instituída nos porões do regime.

Embora a carceragem tenha feito o possível para apresentar seu assassinato sob tortura  como suicídio, a farsa foi desmascarada graças ao senso de responsabilidade de um jovem rabino, Henry Sobel, recém estabelecido no país.

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Desenhando uma linha de continuidade entre fatos criminosos e versões adocicadas,  a glorificação da caçada humana no  Araguaia e a referencia a Auschwitz só envergonham o país. Não veiculam informação de interesse público, mas aquele velho ensinamento do III Reich: "uma mentira repetida mil vezes se transforma em verdade".

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