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Rodrigo Vianna

Jornalista desde 1990. Passou por Folha, TV Cultura, Globo e Record; e hoje apresenta o "Boa Noite 247". Vencedor dos Prêmios Vladimir Herzog e Embratel de Jornalismo, é também Mestre em História Social pela USP. Blogueiro, integra a direção do Centro de Estudos Barão de Itararé.

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A queda de Witzel: fim da aposta na antipolítica?

Jornalista Rodrigo Vianna avalia os efeitos do afastamento do governador do Rio de Janeiro. "Witzel levou um tiro, na cabecinha. Com ele, pode morrer tambem a ideia de que é preciso apostar 'fora da política'. Não deu certo. Até Bolsonaro já percebeu", afirma

Governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (Foto: Reprodução)
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O afastamento de Wilson Witzel, eleito ao governo do Rio na onda da antipolítica e do lavajatismo, vem acompanhado ironicamente de todos os ingredientes de abusos e distorções instaurados na política  brasileira pela Operação curitiboca.

O governador foi afastado por ordem judicial, atropelando assim o rito que prevê a votação do impeachment na Assembleia. É uma espécie de "golpe judicial", a partir do STJ, tribunal em que o bolsonarismo parece ter aliados importantes.

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O vice de Witzel, que deve assumir o poder e segue fiel ao bando de Jair, teria se encontrado com os bolsonaristas na véspera da Operação - que incluiu busca e apreensão em gabinetes da ALERJ.

É claro que o STF ainda pode reverter a situação. Mas o desgaste de Witzel não tem volta.

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O candidato que quebrou placas de Marielle e espalhou o terror na campanha eleitoral, e que depois de eleito sobrevoou favelas atirando feito um rambo, prometendo "acertar na cabecinha", protagonizou também a cena absurda de comemorar uma execução na ponte Rio-Niterói.

Esse mesmo sujeito foi agora ferido na cabeça pelo esquema lavajatista - que condena publicamente antes do processo se concluir, sempre em alianças políticas e midiáticas.

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O resumo da ópera é esse: o ex-juiz Witzel, lavajatista e bolsonarista, foi afastado após perder prestígio e poder em operações lavajatistas e bolsonaristas.

Isso é um fato.

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Outro fato: o fim prematuro de Witzel indica que a onda do "vamos votar em gente de fora do sistema" pode estar chegando ao fim.

Romeu Zema (Partido Novo-MG), o empresário que ia "gerir o Estado como se faz na iniciativa privada", e Wilson Lima (PSC-AM), o jornalista "amigo do povo" que prometia inaugurar a nova política no Amazonas, também se afundam. Lima, do mesmo partido de Witzel (Social Cristão, vejam só...), enfrenta também processo de impeachment no estado do Norte.

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Em entrevista ao programa Boa Noite 247, o cientista político Claudio Couto (FGV-SP) apontou essa tendência: as pesquisas municipais indicam que o eleitor em 2020 pode trocar o duvidoso pelo certo. Ou seja, teria já percebido o risco de "experimentar" falsos outsiders que quebram placas e regras.

Nesse quadro, Eduardo Paes (DEM) leva vantagem no Rio (já exerceu dois mandatos como Prefeito, e saiu com ótima avaliação). Em São Paulo, essa volta ao "normal" pode favorecer Bruno Covas (PSDB).

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O Professor da FGV diz que isso não está circunscrito ao campo de centro-direita. O eleitor vai preferir algo já conhecido. Isso talvez explique porque Boulos está à frente de Jilmar Tatto em São Paulo, já 

 que traz o recall da eleição presidencial, apesar de nunca ter exercido cargos públicos... E isso favorece, por exemplo, candidaturas mais institucionais como a de Benedita da Silva (ex-governadora), que larga no Rio com alguma chance de ir ao segundo turno.

Em Belém do Pará, o favorito numa ampla frente de esquerda é Edmilson Rodrigues (PSOL), que já foi prefeito duas vezes, quando ainda estava no PT.

São sinais importantes.

Mas e como Bolsonaro, visto em 2018 como um "outsider", pode influir numa eleição municipal que tende para mais "normalidade"?

Aí não é mais o professor da FGV, mas este jornalista quem testa uma hipótese...

Bolsonaro dá sinais de estar-se "institucionalizando". Ao atrair o Centrão, e estabilizar a relação com o Congresso, Bolsonaro também deixa de ser outsider. Por isso mesmo, a tendência 

é que ele atue na eleição apostando em candidatos conservadores mas que não sejam "de fora" da política.

Isso leva Bolsonaro a fechar no Rio com Crivella (ex-senador, experiente, apesar de pessimamente avaliado), e em São Paulo com Russomano (deputado há vários mandatos). É claro que nesse caso pesa também a aliança com a Igreja Universal/Record, conglomerado ao qual se filiam Crivella e Russomano.

Os "witzel amalucados" e os "mamãe falei" da vida, por isso, tendem a ficar fora do jogo. 

É provável que o presidente entre na campanha, em cada cidade, só na reta final, escolhendo a dedo candidatos de partidos que o ajudem a desenhar o jogo institucional no Congresso em 2021 e 2022.

Bolsonaro está longe de ser um "grande eleitor". Em São Paulo, por exemplo, o apoio dele mais atrapalha do que ajuda. Mas está longe de ser também carta fora do baralho. Aqui e ali, pode colher resultados e empurrar candidatos pra vitória  - especialmente onde for possível polarizar com a "esquerda" (que, para o bolsonarismo raiz, vai do PSOL até o PSDB).

A marca da eleição de 2020, portanto, não deve ser nem vitória gigantesca do bolsonarismo, nem resultado acachapante para a centro-direita (PSDB/DEM) ou a esquerda. Mas um quadro de pulverização. 

O principal, parecem indicar as pesquisas, é o fim do ciclo dos aloprados outsiders.

Witzel levou um tiro, na cabecinha. Com ele, pode morrer também a ideia de que é preciso apostar "fora da política".

Não deu certo. Até Bolsonaro já percebeu.

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