A queda do Cunha do Distrito Federal
"Celina Leão emulava, em Brasilia, o jeito Eduardo Cunha de fazer política. Um método que impõe sobre o Poder Executivo a extorsão permanente comandada pelo Legislativo", diz Leonardo Attuch, editor do 247; ele assinala, no entanto, que Rodrigo Rollemberg, alvo de Celina, teve mais sorte do que Dilma Rousseff; "Cunha só foi afastado cautelarmente da presidência da Câmara, pelo Supremo Tribunal Federal, depois de abrir o processo de impeachment e comandar a votação na Câmara. Celina Leão caiu antes de levar adiante seu plano"
Enquanto todas as atenções estão voltadas para os últimos capítulos do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, em Brasilia, o governador Rodrigo Rollemberg, do PSB, só tem motivos para comemorar. Há poucos dias, por determinação do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, a deputada Celina Leão (PPS-DF) foi afastada sumariamente da presidência da Câmara Legislativa, assim como toda a sua mesa diretora. O motivo: gravações sugerem a participação dela e de seus aliados num esquema de propinas, que teria desviado R$ 31 milhões da secretaria de Saúde para parlamentares.
Celina emulava, em Brasilia, o jeito Eduardo Cunha de fazer política. Um método que impõe sobre o Poder Executivo a extorsão permanente comandada pelo Legislativo. Pouco tempo depois da posse da Rollemberg, que se elegeu sem maioria parlamentar, Celina conseguiu derrubar o então secretário da Casa Civil, Hélio Doyle, que resistia a entregar todos os cargos e favores que eram exigidos por ela. Mas como o esquema de chantagens nunca termina, Rollemberg começava a ser ameaçado por uma conspiração que envolvia seu próprio vice, Renato Santana, do PSD. Ele pretendia reproduzir em Brasilia o modelo de impeachment colocado em prática contra a presidente Dilma Rousseff: arruma-se uma acusação, faz-se algum barulho na imprensa e governos sem maioria parlamentar são colocados contra a parede.
Essa possibilidade se abriu depois que os distritais observaram a nova realidade do Legislativo federal. Numa entrevista espantosamente franca concedida nesta semana, o ministro Gilberto Kassab afirmou que o Brasil passou a ser semiparlamentarista e disse ainda que todo governo que não tiver o controle de pelo menos um terço do parlamento sofrerá processos de impeachment. Ora, se isso vale no plano federal, também pode se reproduzir nos governos estaduais e municipais. Detalhe: em 1993, quando foi consultada a respeito, a população brasileira fez uma clara opção pelo presidencialismo.
A diferença entre os destinos de Dilma e Rollemberg pode ter sido determinada pelo timing do Poder Judiciário. Cunha só foi afastado cautelarmente da presidência da Câmara, pelo ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, depois de abrir o processo de impeachment e comandar a votação na Câmara. Celina Leão caiu antes de levar adiante seu plano. Agora, livre das ameaças, Rollemberg pode tentar construir com o Legislativo do Distrito Federal uma relação republicana.
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