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Valério Arcary

Valério Arcary é historiador e membro da Coordenação Nacional do Resistência/PSOL.

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A quem interessa que não haja debates eleitorais?

"É simplesmente incrível o poder arcaico, anacrônico e abusivo das redes de televisão privadas no Brasil. Decidiram, e assunto encerrado. A Justiça eleitoral nem pia", diz o historiador Valério Arcary

Reprodução (Foto: Reprodução)
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Desde o fim da ditadura militar debates ocorreram nas grandes cidades em todas as eleições. Candidatos que estavam em primeiro lugar nas pesquisas fugiram de debates em eleições anteriores, mas eles existiram. Em 1989, Collor estava com 26% das intenções de voto contra 14% de Lula. Na época, seis debates foram organizados no primeiro turno, e Collor faltou a todos. Fernando Henrique Cardoso (PSDB), eleito no 1º turno nas eleições de 1994 e 1998 fugiu, também: participou apenas de um dos três debates organizados. Bolsonaro escapou dos debates nas eleições presidenciais de 2018, mesmo com liberação médica. 

Mas tudo indica que nem sequer vamos ter debates nas redes de televisão nestas eleições. Não é um fato sem importância. É um escândalo. Tem imenso significado, porque é mais um sinal da decadência acelerada do regime democrático-liberal, desde a posse de Bolsonaro. 

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 É simplesmente incrível o poder arcaico, anacrônico e abusivo das redes de televisão privadas no Brasil. Decidiram, e assunto encerrado. A Justiça eleitoral nem pia. O argumento que os debates não poderiam ocorrer por razões sanitárias é absurdo. Um insulto á inteligência de todos nós. As indústrias, empresas, ônibus e metrô, podem. Até as escolas estão sendo abertas. Shoppings por doze horas podem. Bares e restaurantes podem. Claro que é possível organizar os debates. 

 Uma imensa maioria do povo no Brasil, fora dos momentos eleitorais, acompanha a luta dos partidos com distância, por variadas razões. A principal é que quase todas as energias são consumidas na dura labuta diária pela sobrevivência. O Brasil é o único país em que a expressão popular da rotina diária de ida para o trabalho é “vamos à luta”. Somente uma estreita parcela mais politizada se motiva pelas discussões sobre nosso destino coletivo. Mas, quando se abre a campanha eleitoral, a disputa de poder entra nas conversas nos locais de trabalho, nas famílias e entre os amigos. E os debates são o ponto alto das campanhas e, portanto, muito comentados. A quem interessa que não haja debates?

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 A regra geral é que a ausência de debates favorece quem está nos primeiros lugares nas pesquisas, e fortalece as campanhas que têm mais dinheiro. Nestas eleições, em especial, prejudica os candidatos que têm menos tempo de exposição na televisão. Mas dificulta todas as candidaturas de oposição de esquerda, porque a esquerda defende antes de tudo que é preciso e é possível mudar o mundo. Porque elas têm, portanto, que lutar contra o senso comum que é bombardeado todos os dias pelos principais meios de comunicação: “aceite o mundo como ele é”.

  Eleições sem debates são campanhas publicitárias. Ainda por cima, considerando as regras em vigor, totalmente desiguais. A publicidade política no Brasil superou tudo o que o mundo já viu com os disparos de whatsapp da campanha bolsonarista de 2018: a “mamadeira de piroca” baixou o nível ao patamar do esgoto.

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 Debates eleitorais podem ser uma arena deprimente de agressões, baixarias, e infâmias. Podem ser, também, uma espetáculo decadente de avacalhação, desrespeito e insanidade. Mas há, também, bons debates, ou debates com bons momentos. A intensidade, a argúcia, o bom humor e a fineza abrem o caminho. Debates dependem muito das regras e do formato. O que é certo é que eleições sem debates são menos democráticas. 

 Campanha eleitoral é uma luta política de programas e projetos. Os candidatos são os porta-vozes de ideias. Por isso, se apresentam por partidos que deviam ser instrumentos de representação coletiva. Se não há debate não há confronto. Sem confronto não há contraditório e, portanto, possibilidade de reflexão. 

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