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Michel Zaidan

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A religião laica e feminina da deusa Wicca

A professora doutora Roseana Borge de Medeiros lançou a 2a edição do seu impressionante e corajoso livro: Feminino Divino. Fosse ela uma mulher de perfil polêmico e exibicionista, esse livro teria sido objeto de muita atenção e controvérsias. O livro é dedicado a uma divindade da religião laica do "feminino divino", (a deusa Wicca)

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A professora doutora Roseana Borge de Medeiros lançou a 2a edição do seu impressionante e corajoso livro: Feminino Divino. Tecendo um Novo Mundo, sob a estampa da editora da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Fosse ela uma mulher de perfil polêmico e exibicionista, esse livro teria sido objeto de muita atenção e controvérsias. O livro, dedicado a uma divindade da religião laica do "feminino divino", (a deusa Wicca), divide-se - ao meu ver - em três partes que se demarcam pelo seu conteúdo: uma primeira, de natureza metodológica (um paradigma para acolher o feminino divino), subdividida em 6 secções. Uma segunda, de corte historiográfico e etnológico (capítulos 2,3,4), a mais longa e rica de informações. E uma terceira, dedicada ao ressurgimento da busca do "feminino divino" na atualidade. O livro traz também um anexo: "carta da transdisciplinaridade" e uma vasta e esclarecedora bibliografia.

Chama muito a atenção do leitor que uma obra como essa não tenha se tornando a paixão da autora e tema de suas atividades acadêmicas, talvez pelo caráter conservador e religioso de sua instituição, onde predomina o cristianismo reformado numa chave muito dogmática.

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A primeira parte é estritamente acadêmica (nem proselitismo nem religiosa). Trata dos conceitos e categorias utilizadas em sua pesquisa sobre o "feminino divino": holismo, complexidade, transdisciplinaridade, inconsciente coletivo, materialismo histórico, a física quântica, o princípio da incerteza de Heisenberg, a teoria da relatividade de Einstein. Parece um pouco com o "Ponto de Mutação", de Cappra, uma simbiose criativa de teocracias orientais com a ciência moderna. Quem não tiver uma mente aberta (inter e transdisciplinar e holística, pode estranhar). A construção desse novo paradigma é para contraditar o modelo cartesiano, mecânico, analítico, dualista, empirista que caracterizaria a ciência moderna. Apartado da religião, da fé, da intuição, dos sentimentos. Neste ponto, Roseana dá uma aula de metodologia pós-moderna, deixando para trás - por insuficiente - o arcabouço da ciência moderna.

A segunda parte, de natureza histórica e etnológica é muito rica. Compõem-se de 3 subcapítulos e atravessa a história desse a época dos mitos cosmogônicos da pré-história, passando pela antiguidade e chegando até a Idade Média. É difícil sair dessa leitura, sem ter aprendido nada, em razão do manancial de informações que a autora coligiu e apresentou. Qual é a tese básica de enorme esforço historiográfico: mostrar o poder feminino e sua sacralidade. As divindades femininas. Sua força temporal e religiosa nas sociedades em que viveram. 

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Desde o antigo Egito, passando por uma boa e alentado pesquisa sobre as sociedades matriarcais, onde inexiste o poder do macho e as mulheres são as figuras centrais. Mas tudo isso se acaba com o monoteísmo, o casamento monogamico, o tabu do incensto, da virgindade e, claro, o advento da propriedade privada. Aqui, autores materialistas consagrados, como marx, Engels, Morgan, Bachofen dão uma ajuda definitiva. Poderia ter incluído Freud, do "totem e Tabu", com a sua teoria do parricídio original e o monopólio das fêmeas pelo macho primordial. Então surge o alvo dessa investigação: a tradição judaico-cristã, seu monoteísmo, seu patriarcalismo, sua misoginia e desvalorização do "feminino divino", a reescritura da história, substituindo a mulher pelo homem. Avulta, nessa reconstrução, o nome do Bispo de Hipona, Santo Agostinho - apresentado como o criador da doutrina misógina da Igreja católica. Poderia ter acrescentado São Paulo, verdadeiro criador da doutrina cristã e um dos mais lidos nas celebrações de casamento. Citando vários santos e padres da Igreja bem como resoluções de Concílios, a autora comprova a sua tese da misoginia religiosa judaico-cristã. Deixou de fora a civilização greco-romana, profundamente machista e patriarcal. Interessante também é a recuperação da figura histórica de jesus de Nazaré e Maria Madalena. De prostituta arrependida, à mais fiel e interessante companheira de Jesus, ao lado de Maria.

Finalmente, chegamos a uma parte do livro "Ressurge o feminino divino na atualidade". Essa parte deixa transparecer um certo proselitismo e um entusiasmo da paixão de militante. talvez seja essa a parte menos acadêmica e que a autora receiasse encontrar resistência na academia. Nela, Roseana se debruça a encontrar e mostrar provas, indícios e manifestações do resgate da religião ecológica, feminista, social, epistemológica da deusa Wicca. É digno de elogios o seu empenho em mostrar nas artes, na filosofia, no cinema, na literatura, nos movimentos sociais, na teologia, amostras respeitáveis desse reencantamento do mundo, em razão da crise do paradigma cartesiano, Um paradigma holístico, feminino, ecológico, do ser do cuidado, da solidariedade, do amor, da intuição, da complementaridade dos opostos etc. Parece Cappra, Boff, Buber e outros filósofos da chamada "relação da alteridade". Não aprovei muito o espaço dado a Paulo Coelho e sua literatura esotérica e mística. Acho que não há muito sinceridade nesse escritor. Ele é midiático e se aproveita das tendências dominantes na opinião pública para ir "surfando na onda", enquanto pode.

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Este livro - quinto ou sexto - de Roseano Borges de Medeiros é um mais engajado que eu conheço. É um misto de uma pesquisa séria, criteriosa, apoiada numa farta bibliografia, com a sua paixão pessoal de militante da causa. Ela vive, como escreve. Ela acredita no que diz. Não é como Paulo Coelho. Oxalá, esse livro conquiste uma audiência maior entre homens e mulheres de boa-vontade. Interessado em construir um novo mundo sem fronteiras ou barreiras de gênero.

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