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Miguel Paiva

Miguel Paiva é chargista e jornalista, criador de vários personagens e hoje faz parte do coletivo Jornalistas Pela Democracia

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A revolta dos tontos

"As histórias falam de pessoas enganadas, grupos ameaçados e sonhos perdidos por conta da arbitrariedade, da opressão e das manobras do capitalismo", escreve o jornalista Miguel Paiva, do Jornalistas pela Democracia, comparando a realidade brasileira aos filmes Bacurau, Coringa e Odisseia dos Tontos

(Foto: Miguel Paiva)
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Por Miguel Paiva, para o Jornalistas pela Democracia

Três filmes assistidos recentemente falam, de modos diferentes, de um mesmo sentimento: o da revolta diante das injustiças do poder. Coringa, Bacurau e Odisseia dos Tontos, esse último do argentino Sebastián Borensztein, com Ricardo Darin no papel principal. As histórias falam de pessoas enganadas, grupos ameaçados e sonhos perdidos por conta da arbitrariedade, da opressão e das manobras do capitalismo.

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Assistimos aqui no Brasil, sem fazer referência a Bacurau, uma situação em que o povo pouco instruído, manipulado e afastado de qualquer decisão de fato sobre os seus destinos continua a aprovar um governo que nada fez ou nada fará em benefício desse mesmo povo. Por que então o apoio persiste? Porque, como diz o meu grande amigo Ziraldo, o Grande Público venceu. Difícil será  convencer esse grande público que está sendo enganado. Os sonhos desse grande público permanecem encurralados nas pequenas realizações. Para isso a falta de escola é fundamental. Querem saber da novela, do futebol e das corriqueiras coisas do seu dia a dia.

Mas, somente isso, não satisfaz a verdadeira alma do povo que, composto por seres humanos, tem a irresistível mania de querer mais, até de sonhar mais alto. Depois de um certo tempo assistindo a novela e gritando gol ele quer olhar lá na frente, do outro lado do muro, ou, na pior das hipóteses, além do muro do vizinho. E ai o bicho começa a pegar.

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Enquanto acha que não está sendo prejudicado ele permanece manso, mas do momento em que se sente enganado, junta o herói da novela, o ídolo do time e aquele orgulho que ainda sobrevive lá no fundo para transforma-lo numa pessoa decisiva, capaz de mudar sua própria história e a de quem vive do mesmo jeito.

Não confie no rebanho de ovelhas o tempo todo. Para isso vai sempre existir a ovelha negra, que apesar do nome polêmico, carrega nela o poder da subversão, da transgressão e da transformação. Contenho meus impulsos para não falar revolução. Nada de revisionismos baratos, apenas uma constatação histórica que revoluções hoje podem ser feitas de modo menos violento e mais duradouro.

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Bacurau, Coringa e A Odisseia dos Tontos mostram justamente essa transformação. Quando a situação chega a um ponto em que aquelas pessoas se dão conta que têm o poder da transformação, basta uma luz ou uma escuridão. Basta uma indignação, basta a constatação de que foi enganado. O mais esperto que tomou o poder, o mais pusilânime que ditou novas regras, o mais amoral que fechou o cerco em nome de deus e da família. A decisão mais íntima de ser feliz que se junta com a mesma decisão do vizinho e assim por diante é como um cinturão de balas de metralhadora. Não precisam matar mas não param mais  de atirar.

Coringa usa a linguagem dos heróis dos quadrinhos para subverter aquele mundo dividido entre o bem e o mal. Bacurau parte para uma linguagem mais tosca e não menos eficiente do cinema B brasileiro de algumas décadas atrás para passar sua não-mensagem e a Odisseia do Tontos, do grande talento dos roteiristas e atores argentinos para surpreender. Brasil e Argentina têm destinos dramáticos semelhantes. Os argentinos souberam talvez reagir melhor à opressão do passado.

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Mas, essa luta não é só de brasileiros e argentinos. É do mundo inteiro que hoje vê misturadas raças, religiões, ideologias e culturas por conta do incontrolável refluxo populacional que surgiu com a emigração. A opressão de séculos hoje se volta contra os opressores. seu antigo escravo mora na sua esquina e fala diferente de você. Alguns países estão aprendendo com isso Coringa serve para internacionalizar o conflito. O mundo hoje é da diversidade. Brasil, Argentina e o resto dos países precisam aprender a viver com isso.

Deixamos de ser os tontos, passamos a gritar bem alto o que queremos e não haverá nem continente, país, cidade ou família capaz de impedir. Cinema é isso, vida, diversão e reflexão. Vale a pipoca consumida.

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