CONTINUA APÓS O ANÚNCIO
Denise Assis avatar

Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

695 artigos

blog

A Sara o que é de Sara

"A prisão de Sara Fernanda Giromini foi repercutida como se deve. Com o nome que ela tem, e não com a 'grife' que ela pensa que virou", escreve Denise Assis, do Jornalistas pela Democracia. "Sara foi buscar o seu 'codinome' na biografia daquela dama da sociedade inglesa, onde consta que foi uma espiã nazista e integrante da União Britânica de Fascistas"

(Foto: Reprodução)
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

Por Denise Assis, para o Jornalistas pela Democracia

Na década de 1980 a comunidade da Rocinha, no Rio de Janeiro, vivia conflagrada. A guerra estabelecida entre facções visava desde o controle do tráfico, até o da associação de moradores. A despeito disto, a favela, que crescia morro acima numa expansão assustadora, procurava se organizar e criou algumas creches comunitárias, com “mães” para cuidar dos filhos das vizinhas. Para sustentar os lares onde eram as chefes, essas mulheres precisavam deixar os filhos aos cuidados dessas verdadeiras “voluntárias”. O salário era ínfimo. Importante mesmo, era viabilizar a vida das amigas que necessitavam trabalhar.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Como repórter do Jornal do Brasil, fui escalada para reproduzir esse cotidiano solidário. No caminho até a creche, tinha uma “boca” do “movimento”. Cartucheiras cruzadas no peito, lá estava Buzunga, o dono do pedaço, portando a sua metralhadora “ina”, de cano cortado, comendo em um prato de ágata, camarão com farinha, que a dona da birosca, a seu “pedido”, havia preparado. (Era preciso negociar a travessia).

Mais adiante, um grupo de garotos brincava de “boca de fumo”. Com armas de papelão e madeira, e “trouxinhas” de guimbas de cigarro esmigalhadas, eles se miravam no exemplo daquele que detinha o poder: Buzunga. Ao cruzar com eles rumo à creche, ainda pude ouvir um deles dizendo: “não, eu sou o Buzunga. Sou mais poderoso”. Enquanto o outro garoto, mais franzino, se conformava: “tá bom, então eu sou o Bolado”. Tratava-se do braço direito de Buzunga, um cara magro, alto, com cabelos pelo ombro, alourado.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Depois da apuração, voltei para a redação impactada com a cena e disposta a não mais chamar aqueles homens pelos seus codinomes. Visivelmente o fato de terem uma “alcunha” os tornava mais “palatáveis” aos olhos da comunidade e mais “amigáveis” entre os garotos. Tentei negociar com colegas e editores, que dali por diante passássemos a escrever os seus verdadeiros nomes, quando fossem notícia. Nada de apelidos. Seria uma forma de desmitificá-los, de não os transformar em Robin Hoods, ou Batmans.

A década de 1980, que do ponto de vista dos economistas é chamada a “década perdida” – tal o descalabro vivido pela população brasileira, de arrocho salarial, inflação no céu e desemprego -, vivia a distensão. No Rio os traficantes entraram para a crônica policial como “marcas”: “Denis da Rocinha”, Marcinho VP e outros.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Agora, ao observar que a mídia chamou Sara Fernanda Giromini de Sara Giromini, não sei por que, senti um alívio… Fiquei à espreita, esperando a manchete: “Presa em Brasília, Sara Winter”. Não veio. A prisão de Sara Fernanda Giromini foi repercutida como se deve. Com o nome que ela tem, e não com a “grife” que ela pensa que virou.

Sara foi buscar o seu “codinome” na biografia daquela dama da sociedade inglesa – Sara Winter (1870-1944), amiga de Churchill, próxima ao rei George VI -, onde consta que foi uma espiã nazista e integrante da União Britânica de Fascistas. Só por isto, já seria abominável citar o seu nome. À Sara o que é de Sara. O seu registro de batismo, desprovido de charme ou de “glamour”. Seu nome, apenas. A menos que queiramos transformá-la, agora, como é de seu desejo, em uma “Mata Hari dos trópicos”.

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247,apoie por Pix,inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Cortes 247

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO