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Marcos Mourdoch

Escritor, dramaturgo, roteirista e poeta brasiliense.

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A solidão e o estado

A solidão se tornou uma pandemia e merece atenção Estatal? Não sei se digo eu ou se outro peralta disse: “se algo nos apavora, o Estado se interessa e toma o controle disso rapidamente.” À parte o controle político do medo, o constitucionalismo do início do século XX, na concepção moderna de Estado (ao menos no campo da lei em sentido estrito) tem aumentado o rol exemplificativo e por consequência as dimensões dos direitos sociais

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A solidão se tornou uma pandemia e merece atenção Estatal? Não sei se digo eu ou se outro peralta disse: “se algo nos apavora, o Estado se interessa e toma o controle disso rapidamente.” À parte o controle político do medo, o constitucionalismo do início do século XX, na concepção moderna de Estado (ao menos no campo da lei em sentido estrito) tem aumentado o rol exemplificativo e por consequência as dimensões dos direitos sociais. Na Inglaterra, por exemplo, recentemente fora criado o ministério da solidão. Isso mesmo. A solidão questão de Estado. Ora, parece confuso e realmente é, pois o assunto, por definição, mora num labirinto. Estar só, seja lá o que isso signifique, lida com aspectos sociais clássicos, com bases sólidas na mitologia, literatura, arte, e nos mais diversos extratos das mais plurais civilizações. Na mitologia ocidental o próprio Deus se incomodou com a solidão de Adão. Não foi o então asceta, gerente do paraíso, quem reclamou vagar no meio dos animais observando e nomeando-os aos pares. “Não é bom que o homem viva só”, e plaft, o pobre perdeu costelas. O eremita é sempre um ser relegado á mais sombria das existências. Mas além das questões práticas da vida pós agricultura, o que será que nos apavora na solidão? “... se algo nos apavora...” Nessa lógica a solidão merece mesmo um ministério.

Antes de virar assunto de órgão, devemos admitir – analisando os processos históricos na construção do que chamamos de humanidade – a solidão sempre foi aspecto estrutural nessa construção. Repito: o medo da solidão tem raízes obscuras, mas pode-se sim, baseados na premissa do medo como controle, que há pistas e passos lógicos no rumo da solidão humana de hoje, objeto de ministérios. A primeira delas fora a necessidade de afastamento do restante da fauna. As religiões anímicas, cujos deuses eram chacais, crocodilos, leões etc, sucumbiram após o homem parar de vagar atrás de recursos naturais e fixar endereços. Os impérios monoteístas precisavam cada vez mais brutalizar outras espécies e destruir habitats inteiros em buscar de poder, então, melhor se afastar deles... A maioria das pessoas não brutalizaria os parentes, né!? (a não ser que você seja primo do Aécio. Aí é melhor não delatar... Desculpem-me. Foi orgânico) Afastados de vez da fauna irmã por mitos de criação que nos deram o controle absoluto do jardim de Éden foi a vez de nos separarmos dos grupos menores e nos juntarmos sob bandeiras de nações. Após a revolução industrial o burguês e seu monstro, criado para gerar riqueza sem a necessidade de gerar postos de trabalho, o tal mercado, não se furta em perguntar: “você tem filhos? Estaria disposto a se mudar em nome da empresa? Seu sucesso profissional te agradaria tanto quanto sua vida pessoal?” E é ai que, uma vez longe do clã, da proteção estatal, a mão invisível começa a dilacerar também a imagem interna do que seria companhia. Longe dos outros donos do planeta, longe das “barreiras trabalhistas do Estado pesado demais”, focado no trabalho para o lucro de outrem e sempre respondendo às perguntas: “ você tem filhos?; mudaria de cidade pela empresa?; sucesso profissional acima do pessoal? Etc, a solidão teria mesmo que virar ministério, principalmente para que ela, de objeto de controle, não venha a se tornar a faísca de algo maior... 

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Claro que o ser humano, lidando com afastamentos, ritos de passagem, sagas religiosas e por fim à necessidade de ludibriar a mais valia, durante esse processo multimilenário de medo cultural, estaria perdido entre o que seria o mandamento divino: “não é bom que o homem esteja só” e os muitos outros, mais voláteis, dos poderes adequados a cada tempo. Se hoje o tal: você tem filhos pequenos? Faz sucesso, temos ainda que lidar com monstros mais assustadores, de outros tempos: o conceito de família, e por que não dizer de amor? O modelo monogâmico, hétero, patriarca, etc.  O medo da solidão é explorado por vias sólidas, como na religião, e por vias mais voláteis, nos desmandos do poder de cada tempo. A solidão do homem não foi percebida por ele mesmo. Adão estava em paz com os outros animais no paraíso. Aí Deus resolveu: “...não é bom que o homem...” A percepção da solidão é, na sua estrutura simbólica, externa. E sabe o que o Deus burguesia está dizendo a você nesse exato momento, mesmo após lhe fazer andar de ônibus por três horas/dia, trabalhar 10h dia ou mais, lutar para morar, vestir, comer, se divertir? Ela manda: “ é bom que trabalhe, produza, consuma... Ou você estará só. Por sua vez a religião diz: case-se, tenha filhos, obedeça aos mestres. Já a filosofia diz, entre outras coisas, que o ser é o nada. Como você poderia não estar se sentido sozinho? Como não tomaria ansiolíticos, álcool e desenvolveria problemas emocionais? A solidão é um negócio, mas também é náusea coletiva. Não à toa criou-se um ministério, pois há algo no DNA de qualquer náusea: a chama revolucionária.

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