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Oliveiros Marques

Sociólogo pela Universidade de Brasília, onde também cursou disciplinas do mestrado em Sociologia Política. Atuou por 18 anos como assessor junto ao Congresso Nacional. Publicitário e associado ao Clube Associativo dos Profissionais de Marketing Político (CAMP), realizou dezenas de campanhas no Brasil para prefeituras, governos estaduais, Senado e casas legislativas

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A tese das múltiplas candidaturas

Divisão da direita pode facilitar o caminho de Lula e até inviabilizar um segundo turno

A tese das múltiplas candidaturas (Foto: Divulgação)

A indicação de Flávio Bolsonaro para representar a família na disputa presidencial do próximo ano alimenta a tese, entre alguns próceres da direita brasileira, de que se trata de um movimento estratégico: pulverizar os votos desse campo em diversas candidaturas no primeiro turno para, depois, reunificá-los em torno de quem avançar à segunda volta. É uma tese curiosa, engenhosa até. Mas, ainda assim, uma tese - e, a meu ver, condenada a não encontrar respaldo na vida real.

Para além de fortalecer o PL e assegurar a Valdemar da Costa Neto um fundo partidário - menor que o atual, mas ainda robusto o suficiente para seguir irrigando projetos futuros -, essa estratégia tende a pavimentar um caminho menos acidentado para a candidatura governista de Lula. Não significa, claro, que a vitória de Lula esteja dada. Nada disso. Mas a fragmentação da representação da direita a enfraquece estruturalmente.

As eleições do ano que vem apontam para uma disputa de rejeições. Cerca de 80% do eleitorado já se encontra blocado e assim permanecerá até o momento do voto. Na metade desse contingente que se sente representado pela direita - e sim, eles existem, e são muitos -, a divisão entre diversas candidaturas tende a desidratar a força individual de cada uma, concentrando o rescaldo em uma única opção, que, arrisco dizer, será aquela que carregar o sobrenome Bolsonaro.

Seria isso suficiente para vencer? Eis o ponto frágil da tese. A resposta é não. Seria suficiente para levar ao segundo turno, possivelmente à frente de outros nomes do mesmo campo. Mas isso depende de haver segundo turno - e é justamente aqui que, com a divisão da direita, abre-se a possibilidade de que ele simplesmente não aconteça.

Siga comigo. Durante boa parte da campanha, as candidaturas da direita e extrema-direita precisariam travar uma disputa interna para convencer o próprio eleitorado de qual delas é mais competitiva e mais fiel ao espírito do campo conservador. Esse movimento, por si só, criaria fissuras, ressentimentos e um consumo enorme de tempo - o ativo precioso em uma campanha eleitoral.

E, enquanto esse bloco inteiro estivesse ocupado em se provar para dentro, Lula estaria livre para dialogar diretamente com os 20% do eleitorado que se encontram realmente em disputa, aqueles que podem migrar entre polos e que decidem eleições. Em uma campanha, tempo é mais valioso que dinheiro - e a vantagem competitiva de falar a esse eleitorado, sem distrações internas, é gigantesca.

É por isso que não acredito na tese das múltiplas candidaturas à direita. No fim do processo, esse campo tenderá à convergência em torno de um nome. Hoje, se tivesse que apostar, colocaria algumas fichas na candidatura do filho Flávio. E, nesse cenário, Caiado, Leite, Zema e Ratinho recolheriam os flaps, ajustando rota para disputar o Senado, aguardar outra janela eleitoral ou simplesmente concluir seus mandatos - deixando de lado as urnas em 2026.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.