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Agnelo Queiroz

Médico. Ex-governador do DF

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A tradição autoritária brasileira e a luta pela democracia: entre o passado e o presente

A luta por um Brasil democrático e soberano segue sendo um projeto inconcluso

Urna eletrônica (Foto: Cristiano Lima)

O Brasil carrega consigo uma tradição autoritária profundamente enraizada, moldada por transições políticas controladas pelas elites e marcada pela repressão violenta a movimentos progressistas. Desde a Independência, conduzida pelo herdeiro do Império Português, até a redemocratização negociada com os militares em 1985, as rupturas no país raramente incluíram participação popular ou justiça social. Em vez disso, consolidaram estruturas de poder que perpetuam desigualdades e excluem a maioria da população dos processos decisórios.

A ingerência estrangeira, especialmente dos Estados Unidos, desempenhou um papel crucial na manutenção desse status quo. O golpe de 1964, apoiado pelos EUA, e a subsequente ditadura militar exemplificam como interesses geopolíticos externos se aliaram às elites locais para suprimir projetos de desenvolvimento nacional e soberania popular. Recentemente, ataques ao STF e ao ministro Alexandre de Moraes, responsável por julgar os envolvidos no 8 de janeiro de 2023, revelam a continuidade dessa dinâmica: setores conservadores e seus aliados internacionais reagem com virulência quando as instituições democráticas ameaçam punir golpistas e frear sua agenda autoritária.

A punição inédita aos responsáveis pelo 8 de janeiro representa um marco na história brasileira. Diferentemente do passado, quando golpistas como os de 1964 foram anistiados, hoje há uma tentativa de responsabilização. Esse avanço, porém, enfrenta resistência feroz, pois questiona a impunidade histórica das elites e seu poder de manipular crises políticas. A defesa da democracia, como aponta Lilia Schwarcz, exige confrontar não apenas atos isolados, mas toda uma cultura política construída sobre escravidão, racismo, mandonismo e exclusão .  

A luta por um Brasil democrático e soberano segue sendo um projeto inconcluso. Enquanto as instituições resistirem a golpes e a sociedade solidariza com o STF e o Ministro Alexandre de Moraes — não como indivíduos, mas como símbolos de um sistema que precisa funcionar —, há esperança de romper com séculos de autoritarismo e impunidade. A alternativa, como alertam os eventos recentes, é a submissão a um ciclo eterno de tirania e desigualdade.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.